Houve
um tempo em que a novela era transmitida pelo rádio. Existia também em forma de
revista - a fotonovela. A sofisticação do formato veio com a televisão.
O
sucesso da novela brasileira ultrapassou os limites do país. Entretanto, o seu
conteúdo não pode deixar ser problematizado.
Na
época do regime militar, tratava-se de um meio claro de alienação das pessoas
(e ainda sofria censura por parte dos governantes).
Com
a redemocratização, as temáticas mudaram e ficaram mais próximas da realidade
das pessoas. Foram discutidas ainda problemáticas consideradas polêmicas, como o
homossexualismo e o preconceito diante de algumas doenças.
O
essencial, porém, permaneceu: a dicotomia entre o bem e o mal, o excesso de drama
e a visão simplista (e ideológica) da sociedade brasileira.
Num
país em que a educação não é levada a sério, os professores recebem mal e as
escolas tornaram-se um meio de enriquecimento para poucos, as novelas acabaram
assumindo um papel importante no que diz respeito ao comportamento dos
cidadãos.
Em
suma, as pessoas aprendem como se relacionar umas com as outras a partir do que
assistem em novelas. Aqui está o problema: na telinha, as pessoas gritam
(não conversam), são agressivas, violentas e manipuladoras como se isso
representasse o “cotidiano normal” de cada um. Não é verdade. Mas para quem não
vai à escola, não tem um pai dentro de casa (ou alguma pessoa que represente a
figura da autoridade), o que é visto na televisão aparece quase como normas de
comportamento social.
Tudo
piora quando surgem, nos intervalos da novela, os tais comerciais que, com
produções requintadas, mostram uma infinidade de produtos que seriam sinônimos
de prazer, conforto e modernidade. O telespectador é avisado que poderia
possuir tudo aquilo a partir de parcelas “infinitas” que caberiam no seu
orçamento. Trata-se de uma armadilha e a inadimplência só comprova isso.
O
mais grave é o que isso faz com o jovem: é estimulado o desejo por bens
materiais; não existem, no entanto, escolas adequadas e nem empregos para
todos. Indiretamente, a alternativa seria a criminalidade, afinal, só se
envolvendo com atividades como o roubo e o tráfico de drogas, o tal jovem
conseguiria dinheiro para possuir os cobiçados bens e fazer sucesso nas
“baladas”.
O
resultado de tudo isso está na insegurança das cidades. Aumentar o número de
policiais e de presídios não mudará esse quadro. A questão social – com o uso
irresponsável dos meios de comunicação – é bem mais complexa do que as soluções
simplistas de políticos que só pensam em garantir lugares no poder.
© profelipe ™
11-08-2014