... Influenciado por um depoimento de Henry Miller - "mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso; estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias" - e pela leitura de "Mitologias" de Roland Barthes, comecei a escrever textos opinativos sobre vários temas ... © profelipe ™
sábado, 22 de outubro de 2011
O SENTIDO DA VIDA
Até a invenção da pílula anticoncepcional, na sociedade burguesa, a sexualidade feminina era bastante censurada. Havia o mito da virgindade. Após o casamento, a função do sexo era a procriação. A mulher não poderia ter prazer ou ter experiências diferentes no ato sexo, pois isso seria coisa de prostituta.
A passividade da mulher na relação sexual era reproduzida na sociedade. O homem era ativo no sexo e, portanto, o dominador na relação social.
Na verdade, a aplicação do modelo ativo - passivo do ato sexual nas relações da comunidade não era algo novo. Na Grécia Antiga, esse modelo era utilizado na relação entre um homem e um jovem (rapaz). Enquanto o homem era o sujeito e o dominador, o jovem assumiria o outro papel.
"Mas (...) o rapaz, posto que sua juventude deve levá-lo a ser homem, não pode aceitar assumir-se como objeto nessa relação, que é sempre pensada sob a forma de dominação: ele não pode nem deve se identificar com esse papel. Ele não poderia ser de bom grado, a seus próprios olhos e para si próprio, esse objeto de prazer, ao passo que o homem gosta de escolhê-lo, naturalmente, como objeto de prazer. Em suma, experimentar volúpia, ser sujeito de prazer com um rapaz não constitui problema para os gregos, em compensação, ser objeto de prazer e se reconhecer como tal constitui, para o rapaz, uma dificuldade maior." (Michel Foucault, O uso dos prazeres, p. 195)
Na sociedade capitalista, com pílula anticoncepcional, a mulher passou a ter a mesma liberdade, em termos da prática sexual, que o homem. Assim, vieram os movimentos de libertação na década de 1960. O feminismo deixava de ser apenas uma bandeira e tornava-se uma prática cotidiana. O velho modelo ativo - passivo era rompido na relação sexual e também na sociedade. A partir desse momento, a mulher colocava-se em condições de igualdade com o homem.
Na década de 1960, as mulheres não foram as únicas agentes de transformações. Houve outros movimentos, como o dos jovens, dos homossexuais e dos negros. Foi uma década "revolucionária", impulsionada pelo "sexo, drogas e rock n' roll". O mundo não foi mais o mesmo.
Décadas depois, o que ficou? Nada. Niilismo. Falta de perspectiva. Como diria Corinne Maier, "não existe nada em que acreditar. É inútil arriscarmos a vida em combates, sejam eles econômicos ou não." Então, o que fica? Alguns afirmam: "mas a vida continua..." Outros questionam: "mas que vida? Qual seria o sentido de tudo isso?"
Os indivíduos trabalham bastante para obter dinheiro e riqueza. Imaginam que realizando o objetivo, finalmente, serão felizes. Entretanto, e aqueles que já possuem tudo em termos materiais, poder, dinheiro e riqueza? O que resta? Não existem ideologias. Não existem limites. Não existe futuro. O que fazer? A personagem de Nicole Kidman, no filme "De Olhos Bens Fechados" de Stanley Kubrick, apresenta uma resposta: "fuck".
Em outras palavras, basta lembrar, nesse filme, a cena de uma festa - com máscaras e orgias - que poderia representar a falta de perspectiva (em relação ao sentido da vida) dos ricos e poderosos. Aliás, isso pode ser associado a cena de outro filme, baseado no diário de uma das secretárias de Hitler, "A Queda", que mostra o cotidiano no "bunker" do tirano e que, no final, quando tudo parecia perdido, as mulheres seduziram os homens e todos fizeram sexo como se fosse o último momento da vida deles. Em suma, tanto num filme como no outro, o "retorno" ao sexo representaria um "retorno" à natureza - a morte faz parte dela - e, ao mesmo tempo, demonstraria a obviedade da falta de sentido da existência.
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