As promessas
tradicionais das profissões não
funcionam mais após a última revolução tecnológica. As pessoas não
acreditam mais no velho planejamento de estudar
bastante e ter como consequência um bom
trabalho numa empresa na qual teria acesso às promoções de acordo com os
cursos de qualificação e o aumento da produtividade.
Esse mundo não existe mais. Muitas pessoas,
neste contexto, apelam para os concursos
e acreditam que a aprovação significaria um bom salário e, principalmente, a
estabilidade no emprego e até uma boa aposentadoria no futuro. Elas esquecem,
porém, da crise de 2008. Na Grécia, houve demissões e diminuições
de salários (inclusive dos funcionários públicos). Para cumprir as metas
impostas pela crise, os governantes reduziram os valores das aposentadorias. Ou
seja, tudo que antes parecia certo e estável, obviamente, desapareceu. Houve
cortes importantes e mudanças nas
leis quanto aos salários e aos empregos em outros países europeus. A desconfiança tornou-se a norma no
continente (sobretudo do lado ocidental).
Não existem empregos para todos. Isso é um
problema numa sociedade em que as pessoas eram formadas em função do mundo do trabalho. O mais grave é que sem ter um
emprego, claro, o indivíduo carrega
em si uma culpa. Acredita que é um
problema só dele (quando trata-se de um crise estrutural).
A culpa
foi produzida pela ideologia da sociedade do trabalho. Ela traz
consequências negativas como aumento da agressividade,
da negatividade e da criminalidade. É criado um clima de caos quando a sensação é de que não
existe ordem. A desordem reina em
todos os lugares. Todos sentem-se desprotegidos
e agredidos no cotidiano. Não existe mais confiança no Estado porque ele não cumpre o que promete e até as leis que antes
eram consideradas “sagradas” (quanto aos salários ou às aposentadorias) são
alteradas de acordo com “os
interesses do mercado”.
A mudança é global. O mal estar é geral. Existem países em piores situações. Existem
propostas simplistas – como as leis contra
os imigrantes na Europa – que beiram ao fascismo. Existem ditaduras de todos os tipos. A intolerância e o egoísmo tornaram-se hegemônicos (como se, de fato, representassem
verdadeiras soluções para os problemas sociais).
Esse sentimento geral é vivido também no Brasil. Apesar do otimismo dos
brasileiros, todos percebem que houve alterações (no sentido negativo) nas
coisas mais simples do cotidiano. As pessoas parecem mais ansiosas, mais
apressadas e mais agressivas. As reações, muitas vezes, são desproporcionais –
desentendimentos que seriam resolvidos com um pedido de desculpas acabam
gerando brigas violentas e até mortes (os motivos, na maioria dos casos, são
bem banais).
É como se existisse uma revolta particular (e até silenciosa) contra o mundo como ele se apresenta hoje em dia. A maioria parece sentir-se traída e enganada. A reação
acontece. Não contra os poderosos ou contra a pequena minoria que acumula a maior parte da riqueza. A
reação vem generalizada, desorganizada, contra si e contra todos.
Tudo isso pode parecer um exagero. Basta, porém, ler os jornais, utilizar os
transportes públicos, frequentar os bares, os clubes e as praias. Em todos
os lugares, em todos os momentos, podemos ver cenas chocantes e desagradáveis
de injustiças. O pior é que também corremos
o risco de fazer parte destas cenas.
É lamentável. É difícil compreender tudo o
que ocorre. É péssima a sensação de que as coisas ainda vão piorar.
Viver não é fácil. A questão é como lidar com
tudo isso de uma maneira saudável (e ética).
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