... Influenciado por um depoimento de Henry Miller - "mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso; estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias" - e pela leitura de "Mitologias" de Roland Barthes, comecei a escrever textos opinativos sobre vários temas ... © profelipe ™
terça-feira, 9 de agosto de 2011
AMOR E PARANÓIA
O medo faz parte da condição humana. Numa relação amorosa, por exemplo, ele está presente em todo o processo, desde a abordagem - a paquera - até a convivência - o namoro, o casamento - e mesmo no final (se for o caso, com o divórcio).
Algo que é normal pode assumir características doentias. Atualmente, é comum ver em noticiários homens rejeitados que assassinam as namoradas ou as esposas. Fazem isso por que estão "convencidos" de que estariam corretos, de que estariam fazendo "justiça". Alguns chegam a afirmar que "matam por amor".
Seria isso possível? O que eles gostariam de provar? A quem querem convencer?
Em sua maioria, a demonstração final de violência esconde, de fato, um medo. Sim, quanto maior a agressividade, maior pode ser a fragilidade.
Por quê? Esses indivíduos são, antes de tudo, paranóicos. O que quer dizer isso? Para David Bell (Paranóia, p. 5-6):
"A mente humana vê-se diante da experiência da angústia a cada momento da vida.
(...) Pode-se lidar com a angústia que vem de fora do modo tradicional: lutando ou fugindo.
A angústia que vem de dentro, porém, constitui um problema diferente.
(...) o conteúdo mental ameaçador é transferido do mundo interior para o exterior. Esse recurso [é] chamado de 'projeção' para fora - pois o conteúdo interno da mente é 'projetado' para fora, para o mundo externo."
Portanto, citando um exemplo, David Bell (p. 7) resume:
"Em vez de sentir que uma idéia perturbadora se impunha à sua mente, [o indivíduo] acreditou que a idéia partia de uma figura externa (...) que tentava impô-la a ele."
O problema é que o paranóico parte de uma fantasia para agredir o outro. No seu delírio, ele estaria certo. Fazer o outro sofrer, para ele, seria uma forma de realizar a justiça. Na sua fantasia, ele humilha, bate e até mata "pelo bem do outro". O paranóico acha que é incompreendido pois o outro não reconhece que, por trás daquela agressividade, existiria uma intenção nobre, existiria o verdadeiro amor.
Assim, a questão não é só que, ao se distanciar da realidade, o paranóico cria um problema para ele. O fundamental é que, na sua fantasia, ele torna-se um perigo para o outro e, mesmo utilizando recursos como a humilhação e a violência, ele não apresenta sentimento de culpa, pois, no seu delírio, ele estaria sendo usado pelo "destino" (ou por algo superior) para trazer a justiça à sociedade.
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Será que sempre houve a estatística de números desses casos que vemos hoje de "medrosos paranóicos" que fazem essas atrocidades com seus pares, sempre em todos os tempos, e agora pela tecnologia e comunicaçao instantanea sabemos mais, ou será que com a mudança mesmo de padroes comportamentais essa paranóia aumentou? Se é uma doença do cérebro, algo da mente, como pode ter aumentado com fatores externos? É tudo tao complicado que eu prefiro pensar que sempre houve em mesma porcentagem e so agora nos damos conta mais disso pelos meios de comunicaçao em massa. Mas enfim, o que fazer? Prender? Matar? Tratar? O debate é amplo e está aberto.
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