Em 2010, Marian Keyes, autora de vários livros, afirmou:
"Eu tenho consciência de que estes são tempos terríveis, e que há muita gente lá fora arruinada pelo clima econômico, que perdeu
seu teto, e que todo dia é uma batalha para a sobrevivência básica. Eu
queria ter o poder de fazer a dor dessas passar passar."*
Apesar de estar com depressão
na época, Keyes admitia que os últimos
anos representariam “tempos terríveis” por causa da economia e que “muita gente
(...) perdeu seu teto”. Não é só uma crise de emprego ou falta de moradia nem
seria algo que atingiria só os trabalhadores manuais e os países pobres. Em
outro texto, afirmei:
“As pessoas,
esclarecidas ou alienadas, cada vez mais são descartadas ‘pela economia’ e não
encontram alternativas dignas para viver.
Indivíduos formados em faculdades, que antes se consideravam de classe média - com boa moradia, carros e poder de consumo -, tornaram-se moradores de rua em países como Grécia, Portugal ou Espanha.”**
Indivíduos formados em faculdades, que antes se consideravam de classe média - com boa moradia, carros e poder de consumo -, tornaram-se moradores de rua em países como Grécia, Portugal ou Espanha.”**
Uma mudança estrutural do
modo de produção capitalista afeta o cotidiano de todos os indivíduos. Para
quem tem depressão, a situação
parece ser pior.
“Marian Keyes (...) revelou que está lutando contra uma ‘depressão paralisante’ (...) disse que não
consegue mais escrever, ler, dormir nem conversar com
as pessoas. (...) contou que tem
tendência à depressão, mas que sua
situação recente é a pior já experimentada, comparando seu momento a ‘viver
no inferno’.”*
A questão é que um problema
social e coletivo torna-se o principal motivo
de uma crise pessoal.
Ideologicamente, existe uma inversão no discurso: o indivíduo acredita que o problema seria dele, que ele seria fracassado por não encontrar emprego; quando, na verdade, acontece o contrário, na fase atual do capitalismo, são eliminadas
milhares de profissões e postos de trabalhos. É o desemprego estrutural.
Ser qualificado (ou ter feito uma boa faculdade) não significa garantia e isso pode ser visto no caso dos novos moradores de rua na Europa.
Compreender todo o processo não quer dizer encontrar necessariamente uma
solução. Entretanto, é melhor estar
consciente e informado do que acreditar numa ideologia que coloca a culpa
(por “erros” do sistema) no próprio cidadão.
Uma coisa é ser explorado ou
excluído, outra bem diferente é
acreditar que o indivíduo seria o responsável pelo próprio desemprego e não que ele foi descartado pela empresa
que, com a revolução tecnológica, não precisa mais de tantos funcionários.
(*) http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u675643.shtml
(**)http://flertar.blogspot.com.br/2013/11/diplomados-desempregados.html
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