Não defendo a volta do Led Zeppelin mesmo que
fosse só para shows. Nem defendo a obsessão de Jimmy Page pelo dinheiro
(até compreendo a infinita edição e as versões diferentes dos álbuns
lançadas principalmente após a invenção
do CD, mas beira ao absurdo essa história de “criar uma edição limitada
de cachecóis com impressão das capas dos álbuns da banda”).
Isso, porém, é quase zero perto do cinismo do Robert Plant.
Lembro que ele, nas primeiras “tours” dos álbuns solos, se recusava a
cantar músicas da ex-banda porque seria necessário provar que ele seria
capaz de “voar” sozinho. Depois, Plant mudou de postura e incluiu as
músicas da banda liderada por Jimmy Page em seus shows.
Quando
Robert Plant foi convidado para fazer o (em moda na época) “unpplugged”
da MTV sobre a sua carreira, chamou o Jimmy Page e transformou todo o
projeto em algo do Led Zeppelin sem a presença de John Paul Jones - que
era constantemente insultado nas entrevistas de Plant na época dos shows
do “Unledded” – cujo título oficial (seria mais um insulto?) era “No
Quarter’, a música que era identificada como o principal momento do John
Paul Jones na banda.
Em 2007, o que era para ser uma homenagem
para o executivo da Atlantic Records (como tantas outras que reuniam os
três músicos do grupo), quando seriam tocadas algumas poucas músicas do
Led Zeppelin sem utilizar o nome do grupo, Robert Plant transformou em
um show de uma hora e meia COM o nome do Led Zeppelin.
Depois
de todo o sucesso do show de 2007 (não era para ser diferente), Plant se
irritava quando perguntavam se existiriam mais shows – ele que começou
com essa história... Mais uma vez, falava que o seu interesse era o
presente, com sua banda, e não o passado, com o Led Zeppelin.
Na Europa, esse discurso funcionava bem, mas quando Robert Plant
resolveu fazer shows também na América do Sul, a estratégia foi alterada
e ele voltou a aparecer como “o vocalista do Led Zeppelin”.
Eu
vi a entrevista que ele deu quando disse que não havia projetos
pessoais para 2010 e que estaria disposto a reunir com os
ex-companheiros, dando a entender que tudo dependeria de Page e de
Jones. O ex-baixista da Led Zeppelin ironizou e não caiu mais nas
armadilhas e no cinismo do Plant: Jones não poderia reunir em 2010
porque teria feito compromisso em compor uma ópera...
Jimmy
Page, ironicamente, tornou-se o ponto fraco e continuava a humilhação
sem resultados diante do ex-vocalista do seu grupo na década de 1970.
Robert Plant resolveu lançar uma biografia oficial e – parecendo o Paul
McCartney (que sempre usava o nome dos Beatles quando precisava chamar a
atenção para si) – mais uma vez visitou o passado que tanto negou já no
título do livro: “The Voice That Sailed The Zeppelin”.
Numa entrevista recente, ainda reclamou do Jimmy Page:
“Eu me sinto mal por ele. Ele sabe que sai nas manchetes se assim o
quiser. Mas eu não sei o que ele está tentando fazer. Então eu me sinto
levemente desapontado e perplexo.”
Manipulação? Cinismo? Como encontrar adjetivos para definir a postura de Robert Plant?
Imagino que o Jimmy Page deve se arrepender bastante de não ter
demitido o seu vocalista após as críticas que ele sofreu na primeira
“tour” do Led Zeppelin nos Estados Unidos:
“(…) the pop critics
insulted his aria-like blues wails and his prissy, hyper-masculine
posing. (…) Even Jimmy wasn’t absolutely positive about Robert. Cole
recalls: ‘It was a very touch-and-go thing whether Robert would even be
in the group after the first tour, because he didn’t quite seem to make
it up to Page’s expectation. At the time, there was a possibility he
wouldn’t do another tour. That was the truth.’” (Stephen Davis, Hammer
of Gods, p.64)
Como foi dito no início, Jimmy Page nunca foi
santo – ele odiaria ser rotulado assim porque sempre defendeu o
ocultismo e era bastante crítico quanto ao cristianismo -, mas, diante
do mal resolvido Robert Plant, o ex-líder e guitarrista poderia, se
quisesse, até posar de vítima.
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