Eu não acredito, apesar do capitalismo “se alimentar de carne
humana”, que o último modelo econômico chamado de “neoliberal” será
duradouro na medida em que se antes as pessoas eram exploradas sobretudo
com longas jornadas de trabalho manual nas fábricas – ver séculos XIX e
XX -, atualmente os indivíduos são simplesmente expulsos do processo
produtivo, o que gera uma grande mão-de-obra ociosa.
O grande
problema nem seria a falta de um salário mensal. A questão central seria
esse número cada vez maior de gente sem ter o que fazer numa sociedade
que associava o trabalho a uma necessidade humana, tratava-o como algo
bom, como uma forma de identificar o cidadão honesto e isso era passado
ideologicamente por todos os “aparelhos” - incluindo religião, família e
escola.
Multinacionais demitem até mais de 5.000 trabalhadores
de uma única vez. Isso é mais complicado pois significa 5.000 famílias
que dependeriam daqueles indivíduos. O que acontece com toda essa gente?
“Atualmente, quase metade das profissões (47%) pode ser
substituída por máquinas no futuro, segundo um levantamento realizado
pelos americanos Carl Benedikt Frey e Michael A. Osborne.” *
Sim,
uma característica do neoliberalismo seria o “desemprego estrutural” – a
pessoa perde o emprego e a profissão, mas qual seria o resultado
prático disto?
De imediato, ocorrem as manifestações coletivas
públicas ou mesmo dentro em lugares privados como shopping centers. Tudo
é tratado equivocadamente como caso de polícia. A repressão é a
estratégia dos governos tanto no Brasil como no Egito ou na Ucrânia ou
na Tailândia. São países diferentes mas que possuem algo em comum: o
modo de produção capitalista.
Além de não ter sido educado para
lidar com o “tempo livre”, os indivíduos, hoje em dia, lidam com outro
grave problema: não acreditam em projetos quanto ao futuro.
Os dirigentes da mídia não convencem mais na sua tentativa de associar um manifestante de rua ao marginal, ao criminoso.
Os políticos estão mais desacreditados do que nunca. Não é por acaso,
afinal, que os governos utilizam táticas do século XIX para lidar com os
indivíduos no século XXI. Eles, em ditaduras (como a Síria) ou em
países democráticos, tratam as pessoas como números, estatísticas, como
se não tivessem rostos, crenças, desejos e frustrações; ou tentam ainda
falar que seria um problema individual – o mau caráter de um indivíduo
especificamente – e não admitem que seria uma crise coletiva, social.
Admitir um problema é um passo para compreender o processo e para,
depois, buscar uma solução. Isso não tem sido feito na crise atual, o
que agrava a sensação de que o pior está por vir. Esse tipo de
sentimento ocorre até com os alienados que não entendem o que acontece
no mundo mas “desconfiam” que existe “algo errado no ar”. Medo e
ansiedade “saem” dos consultórios dos psicólogos e psiquiatras e
“invadem” as ruas. Pessimismo? Basta olha ao redor ou, talvez, no
espelho.
(*) Derek Thompson. Here Are The 47% Of Jobs At High
Risk Of Being Destroyed By Robots. Business Insider. Apud, Mercado
Fechado. Yahoo, 28-01-2014. http://br.financas.yahoo.com/…/profiss%C3%B5es-que-n%C3%A3…/#
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