quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

REPETIÇÃO

Qualquer forma de ritual utiliza a técnica da repetição para confirmar certas ideias. 

Existem psicoterapeutas que acreditam na catarse cuja base seria "a rememoração da situação traumática que gerou o sintoma e na revivência dos afetos que naquela ocasião não puderam ser 'ab-reagidos', isto é, eliminados." (Renato Mezan, A vingança da esfinge, p. 25)

Existe uma forma de repetição - um circulo vicioso - no sadomasoquismo. "No círculo vicioso de vergonha, aversão a si mesmo e depressão existe um desejo inconsciente de humilhar ou machucar outra pessoa. Os sadomasoquistas negam esse conhecido ciclo de sentimentos." (Estella Welldon, Sadomasoquismo, p. 46) Negam ainda a importância da infância em tal prática na vida adulta.

O essencial, em suma, é que a técnica da repetição aparece como uma forma de garantir um saber, um conhecimento. Seria quase uma maneira de "congelar" o passado.

É legítimo? Provavelmente essa não seria uma pergunta adequada.

O correto seria verificar caso a caso e somente a partir desse momento iniciar um processo de problematização.

Isso é feito? Raramente. Na nossa sociedade, mesmo entre os cientistas, ainda predomina uma busca por respostas fáceis e explicações simplistas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ESPÉCIE HUMANA

Não tenho (mais) paciência com algumas situações.

Não me sinto obrigado a lidar com a indelicadeza, a insegurança e agressividade "disfarçada" de algumas pessoas.

Observo e me pergunto como fui parar ali (para não cometer o erro novamente, claro).

Sim, a culpa não seria dos idiotas que nem sabem "o que são de fato".

O erro seria meu de estar naquela situação.

Penso, em tais momentos, na "condição humana".

Lembro de Freud:

"Esforcei-me por resguardar-me contra o preconceito entusiástico que sustenta ser a nossa civilização a coisa mais preciosa que possuímos ou poderíamos adquirir, e que seu caminho necessariamente conduzirá a ápices de perfeição inimaginada." (O mal estar da civilização, p. 110-111)

Freud estava certo sobre a espécie humana.

OBSERVAÇÕES

Não se esforce para convencer o outro de que você seria uma pessoa ética e interessante (pois você acabará revelando a sua verdadeira identidade).

* Fico, algumas vezes, cansado diante de certas pessoas da pequena-burguesia, assinantes da Folha de São Paulo e da Veja... que acham o Jô Soares um gênio e... acreditam verdadeiramente que "hiluxes" e smart-phones seriam símbolos de riqueza.

Uma pedra "muito pequena" que não foi detectada antes da entrada na atmosfera atinge a Rússia com a "força de 30 bombas atômicas de Hiroshima" (telegraph.co.uk)...
e "o homem" acredita ser o centro de tudo e garantidor, pelo menos, da segurança e estabilidade do planeta em que vive...

INFANTILIDADE

Afirmar algo como "a sua obra é interessante mas você não é" significa admitir que a interpretação do leitor é mais importante do que o conteúdo da obra (ou o que o autor "quis dizer" com ela).

Conhecer as duas dimensões - o que é a obra e quem é o autor - possibilita desmistificar os dois - autor e obra - e avaliar se realmente existe algo original naquele "processo".

Falar mal de si e desprezar a própria obra são estratégias defensivas (óbvias e infantis) que visam censurar o "olhar" do leitor.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

CORPO: OBJETO DE AMOR

A frase atribuída ao poeta Vinícius de Moraes - "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental" - serve como ponto de partida para a reflexão de uma perspectiva histórica: o elogio do corpo. A valorização da estética do corpo humano não é uma invenção da sociedade capitalista.

Na Grécia Antiga, por exemplo, já havia um elogio ao belo corpo e existiam regras que visavam recomendar o que seria uma relação amorosa adequada. Entretanto, a visão do corpo nos dois modos de produção era oposta: no capitalismo, o corpo "existe" para o trabalho e, na Grécia Antiga, o corpo estava relacionado aos prazeres do ócio.

Entre os gregos, "o amor pelos rapazes" não pode ser confundido com os debates sobre o homossexualismo na atualidade. 

Havia, na Grécia Antiga, uma "passagem da virtude do rapaz para o amor do mestre e para a sua sabedoria." (O uso dos prazeres, p. 210) Assim, de acordo com Michel Foucault: 

"Aquele que é mais sábio em amor será também o mestre da verdade. (...) Na relação do amor, e como consequência com a verdade que, a partir daí, a estrutura, uma nova personagem aparece:

o mestre que vem ocupar o lugar do enamorado, mas que, pelo domínio completo que exerce sobre si mesmo,

modifica o sentido do jogo, transforma os papéis, estabelece o princípio de uma renúncia aos 'aphrodisia' e

passa a ser, para todos os jovens ávidos de verdade, objeto de amor."
(O uso dos prazeres, p. 211)


Lentamente, no mundo ocidental, a mulher ocuparia o lugar do rapaz como objeto de desejo. As relações (entre o casal) mudariam também. O homem passaria a ser percebido simplesmente como "male gaze", ou seja: 

"(...) um 'olhar masculino', a forma como homens por sua obsessão voyeurista procuram manter as mulheres na posição de objetos sexuais que são passivos ao seu olhar." (Camille Paglia, Playboy, October 1991, p. 133)


Camille Paglia, de certa forma, confirma a premissa foucaultiana de que o que era uma relação sofisticada baseada no saber entre um homem e um rapaz tornou-se uma relação óbvia focada apenas nos corpos como objetos sexuais: 

"Eu acredito que a homossexualidade masculina é o símbolo máximo da liberdade humana, e é por isso que você tem essa homossexualidade ocorrendo nesses grandes pontos de cultura, como a Atenas clássica e a Florença." (Playboy, October 1991, p. 171)


Tratar de homossexualidade ou heterossexualidade significa debater sobre estilos de vida e não refletir sobre o tipo de relação sexual em si. O ser humano é dinâmico, está em constante mudança. O seu desejo, no plano individual, varia bastante conforme a idade e os contextos sociais em que vive. Não existe algo pré-determinado. O sexo em si é um instinto, nada mais do que isso. Instinto realizado por qualquer animal.

O que interessa é refletir sobre os significados do sexo para os seres civilizados. Para que isso aconteça, claro, é necessário não ter medo da própria sexualidade e nem ficar preso a dogmas inventados por aqueles que querem te usar (não necessariamente como objeto sexual).

A ARTE DE SER REJEITADO

1. olhe no espelho. 
2. confira o seu peso na balança. 
3. a roupa muita apertada não serve mais. 
4. os velhos amigos avisam que não podem sair com você essa noite. 
5. liga para as exs e descobre que casaram. 
6. ao sair, sente-se ignorado em todos os lugares. 
7. para quem sonhava em um dia ser invisível, finalmente chegou o grande momento.

SOLTEIRAS²³

Sábado. Noite. As pessoas saem. Algumas por opção outras por obrigação (sim, diversão, para elas, seria mais uma forma de confirmar a sua suposta normalidade). Quem fica em casa? Casais. Pessoas com mais de 40 anos. Obviedades.

Um grupo chama a atenção: as meninas que eram musas, modelos, entre os 15 e 21 anos. Elas eram adoradas onde chegavam. Todos olhavam. Elas eram desejadas pelos homens e, claro, invejadas pelas mulheres. Tudo, para elas, parecia perfeito. Namoravam. Estudavam em faculdades. Festas. Praias no verão.

E depois? Formadas, trabalhando, carro próprio. Seria a segunda parte do sonho? Não. Estavam mais velhas. Aquele namoro de anos havia terminado. Muitas ainda moravam com os pais. Algumas tiveram filhos, não casaram e também moravam com os pais. Deixaram de ser as musas. Foram trocadas por garotas mais novas.

Deixaram de ser o foco principal dos homens. Solteiras - após anos de uma relação monogâmica - não conseguem mais arrumar um namorado. No máximo, na noite, conseguem ficar com um rapaz que no dia seguinte estará com outra mulher. Precisam, nesta fase, pagar as próprias contas.

Começa aqui, para algumas, um ciclo "perigoso". Diante da realidade, param de sair em plena noite de sábado. Ficam em casa e a sua companhia preferida é a geladeira. Engordam. Muito. Não lembram mais aquele corpo perfeito de adolescente.

A auto-estima desaparece quase completamente. Se sentem feias. Se saem, são rejeitadas. Se ficam em casa, as coisas pioram.

Comer, beber (sozinha), ver televisão e navegar na internet não são exatamente formas eficientes de conseguir um corpo desejável.

Uma saída seria chamar as amigas que estariam na mesma situação - solteiras e rejeitadas. Claro que, oficialmente, isso seria uma "opção" na medida em que ficar com as amigas seria melhor do que ficar num "longo e tedioso namoro". A opção pelo grupo, na prática, confirma a fragilidade da pessoa. Os adolescentes precisam de grupo. Agora, como diria John Lennon, seria razoável permanecer assim na vida adulta? Ou, pior, aquela pergunta na música da Legião Urbana: "o que você vai ser quando você crescer?"

Ser adulto é um saco. A vida não é melhor para os casados. Aliás, um lado - os solteiros - possuem a imagem que o ideal seria ser casado e o outro lado acredita na imagem de que a felicidade só existiria no mundo dos solteiros. Imagens. Ilusões. São desculpas utilizadas, na verdade, para justificar um cotidiano que não faz sentido. O foco no estilo de vida do outro serve para desviar o foco de si mesmo. Trata-se da velha fuga de si, ou seja, da fuga da vida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

INVISÍVEL

Coloquei uma frase hoje - 07/02/2013 - no Facebook: "existo, atualmente, só nas noites, nas sombras ... quase invisível ... "

Posteriormente, no perfil da Lorena Ferreira, encontrei um artigo interessante sobre uma pesquisa de mestrado que defendia um conceito de invisibilidade pública:

"uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa." *

A tese é verdadeira, claro. Contudo, vejo uma outra perspectiva diante de tal afirmação.

Trabalhei por muitos anos em dois centros universitários. Estou, desde 2008, no que chamo de "sabático". Em outras palavras, não trabalho mais, não estou associado a empresa alguma. Não apareço "oficialmente" na divisão social do trabalho. No entanto, tenho duas teses aprovadas, publiquei livros e leio sobre diversos temas. O que eu fiz, em 2008, foi uma opção.

Entretanto, as pessoas, em sua maioria, não conseguem entender como eu vivo sem estar ligado a alguma instituição ou sem ter compromissos com locais e horários definidos.

A primeira questão que surge é quanto ao dinheiro. As pessoas parecem acreditar que realmente trabalham em excesso para sobreviver, o que não é verdade. O excesso está relacionado ao carro novo, a televisão de tela fina ou, mais precisamente, a imagem que elas passam aos vizinhos, familiares e amigos. Elas compram coisas que não precisam para impressionar os outros. Trata-se dos jogos da ideologia e da alienação, ambos associados à divisão social do trabalho.

Em segundo lugar, parece que a minha situação incomoda certas pessoas no que diz respeito ao ócio. Como você consegue viver sem ter um objetivo, um plano? Ou seja, como alguém poderia viver sem "focar" no futuro? Essa é outra velha estratégia de dominação. É preciso sofrer muito no presente - trabalhar em excesso, por exemplo - para encontrar uma recompensa num lugar que não existe - o futuro. É uma boa forma de não pensar em si mesmo e nem nas suas reais condições de existência.

Existem outras questões, mas essas são as duas perguntas que mais ouço. Evito falar muito sobre o tema pois percebo que a maioria está mais incomodada do que interessada em saber sobre a complexidade da situação.

Voltando ao trabalho de mestrado citado no início, existe uma diferença entre ser tratado como "invisível" e escolher, algumas vezes, ficar "invisível".

Mesmo não estando empregado, eu tenho uma identidade na divisão social do trabalho: eu sou professor com doutorado pela PUC de São Paulo. Essa identidade "avisa" aos outros que a minha escolha pode ter sido feita por qualquer motivo exceto ingenuidade.

Em suma, fico "invisível" quando me interessa e quando quero "aparecer" as pessoas ficam diante de um ser humano complexo, que pensa, que percebe além da aparência.

Essa "visibilidade" repentina causa ironicamente medo em certas pessoas como se elas imaginassem que eu percebesse, na hora, o que estaria por trás das máscaras e jogos que elas fazem para sustentar uma ilusão. Sim, talvez aqui elas tenham razão.


http://www.ip.usp.br/imprensa/midia/2008/orq_cuiaba_7-12-2008.htm

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

CORDIAL

"Só porque eu sou gentil, generoso, cordial e pronto para ver o lado bom das pessoas, isso não faz de mim um indivíduo subserviente e sem auto-estima."

"Just because I am gentle, kind, generous, friendly and ready to see the good in people does not make me a passive, subservient drone with no self esteem." (katspencer11)

PLANET HEMP

não culpe o outro pela sua frustração...

não olhe para o outro como se ele fosse "o rejeitado", afinal...

toda pessoa é rejeitada ao nascer... é rejeitada pela própria vida que te deixa de presente a única certeza da sua insignificante existência: a morte...

"o que fazer?" diria Lênin no seu velho livro como se ele soubesse o que estava falando...

fazer é viver...fazer é arriscar...fazer é sair da sua ilusória "área de conforto"...

como diria aquela música antiga do Planet Hemp: "o que você precisa para sair daí?"