terça-feira, 30 de agosto de 2011

MECANISMOS DE DEFESA


2011© profelipe /\ http://flertar.blogspot.com/ \/ 


Jung e John D. Biroc se distanciam de Freud quando apresentam argumentos contra o princípio da causalidade para a terapia. A mente humana seria muito complexa e as relações sociais num mundo civilizado só complicariam ainda mais esse processo.


Apesar de considerar razoáveis as críticas de Jung e Biroc, não acredito que elas sejam suficientes para descartar a causalidade na análise do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.


Mas... e daí?


As pessoas gostam de afirmar que o indivíduo só presta atenção em algo quando ele é atingido no bolso. Penso diferente. O interesse desse indivíduo só é despertado quando algo afeta o seu corpo.


Como isso acontece?


Tentar enganar a si mesmo é transferir um problema da mente para o corpo. Por exemplo, a falta de apetite de uma pessoa pode estar associada a ansiedade de um evento importante que ela planejou.


Freud afirma que os indivíduos utilizam alguns mecanismos de defesa para tentar fugir da verdade:


. "a repressão (banimento da consciência),
. a projeção (atribuição a outra pessoa de um aspecto indesejável de si),
. a racionalização (intervenção de explicações falsas para as próprias motivações),
. a clivagem (adoção de atitudes ou sentimentos contraditórios em compartimentos separados de percepção),
. defesas maníacas (modos de negar sentimentos de depressão) e muitas outras variações sutis desses temas." (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 16-17)


Acredito que a maioria use sobretudo os dois primeiros mecanismos: a repressão e a projeção. É comum a pessoa querer banir da consciência algo desagradável, ou seja, ela quer esquecer algo ruim. Para isso, ela pode, por exemplo, beber em excesso numa festa. 


Transferir um defeito seu para o outro também não é raro. A pessoa consegue ver o erro no outro mas não consegue percebê-lo nela própria. É mais fácil observar a vida do vizinho do que olhar para dentro de sua casa.


Essas fugas funcionam durante algum tempo. Como no exemplo da bebida, uma hora o efeito passa e é necessário encarar a realidade. Ou não. A pessoa pode beber mais e assim por diante. Mas chegará uma hora que aquela fuga terá um fim. Ela precisaria de uma espécie de gatilho para "acordar para a vida". Em outras palavras, precisaria que ocorresse algo realmente trágico para poder avaliar que estava se enganando durante todo o tempo e que, afinal, o problema não estava no outro mas sim nela mesma.

SONHOS E DROGAS ALUCINÓGENAS


As drogas alucinógenas representavam uma espécie de libertação na década de 1960. Um dos seus principais defensores desta idéia foi o professor de Harvard, na época, Timothy Leary. Atualmente, essa drogas são usadas em festas, sobretudo nas "raves".
A questão é: por que não enxergar a realidade como ela, de fato, é? Simples: somos contrariados o tempo todo, ou seja, raramente conseguimos realizar os nossos desejos.
As distorções nos sonhos podem ser percebidas como formas de alucinações:
"(...) os sonhos são um meio de preservar o sono, proporcionando gratificações alucinatórias dos desejos, que, não fosse assim, seriam perturbadores." (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 21)
Os sonhos são uma maneira de realizar os desejos que, na vida real, aparecem como impossíveis. As drogas alucinógenas têm essa função. 
O problema é que as pessoas esquecem que no universo dos sonhos, existem também os pesadelos e que, com o uso de drogas, não seria diferente. Em outras palavras, a alucinação proporcionada pelos sonhos ou pelas drogas é provisória. Na prática, o que o ser humano tem que lidar é com a realidade dos fatos, por mais dura que ela possa parecer. 


2011© profelipe /\ http://flertar.blogspot.com/ \/

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

EGO JORNALISMO


Teoricamente, o jornalista é um profissional que resume ou analisa um fato que aconteceu. O importante é o fato. Porém, nos últimos tempos, aparece cada vez mais o chamado "Ego Journalism", ou seja, o jornalista se considera mais importante do que a notícia ou do que o entrevistado. 


É comum em críticas de shows musicais, o jornalista falar dele mesmo, fazer análises (pseudo) filosóficas e só no final fazer considerações sobre o seu objeto. Toni Iommi ficou indignado com uma crítica que o seu grupo Black Sabbath recebeu nos Estados Unidos, publicada num jornal. O problema não foi o conteúdo da crítica e sim que, por algum motivo, o show não pôde ser realizado ! O jornalista publicou uma crítica de algo que simplesmente não aconteceu.


Pela natureza do seu trabalho, o fotógrafo não deveria aparecer nas fotos que tira. Não é o que acontece. Existe fotógrafo que dá um jeito da "sua" sombra aparecer na foto. Outros aparecem nos espelhos, atrás do seu objeto, uma celebridade, como que querendo fazer parte de um mundo que não é o seu. Esse é o dilema do jornalista. Ele entrevista presidentes, participa de banquetes, é convidado para trabalhar em eventos e festas de milionários, mas ele não pertence aqueles lugares. 


Na entrevista de Vladimir Zhirinovsky à Playboy norte-americana, a jornalista Jennifer Gould tentou chamar mais a atenção para si do revelar o pensamento do entrevistado. Em vários trechos da entrevista, ela abre parênteses e coloca a sua opinião, em itálico, sobre o que estava acontecendo e qual era o seu ponto de vista. Chega um momento que o leitor, interessado em ler sobre as idéias de Zhirinovsky, questiona quem seria Jennifer Gould ? O que ela teria a ver com o entrevistado ? Nada. É uma jornalista que aproveitou o interesse do público pelo seu entrevistado para aparecer, para mostrar a sua opinião. Ela levanta questões sobre o assédio sexual sofrido por jornalistas - temática polêmica, que deveria ser tratada nos tribunais ou em congressos da categoria. Ela chega afirmar que as mulheres trazem "para o mundo - somente coisas positivas" (p. 154) ao invés de se preocupar em mostrar o ponto de vista do entrevistado.


Muitas vezes, a vaidade é associada aos profissionais que atuam na comunicação social, como no jornalismo, nas relações públicas, na publicidade e na propaganda. Sem problemas. O que não pode acontecer é uma confusão nos papéis. Especificamente no caso do jornalista, não dá para querer ter mais destaque do que a notícia que dever ser divulgada.     

terça-feira, 9 de agosto de 2011

AMOR E PARANÓIA


O medo faz parte da condição humana. Numa relação amorosa, por exemplo, ele está presente em todo o processo, desde a abordagem - a paquera - até a convivência - o namoro, o casamento - e mesmo no final (se for o caso, com o divórcio).

Algo que é normal pode assumir características doentias. Atualmente, é comum ver em noticiários homens rejeitados que assassinam as namoradas ou as esposas. Fazem isso por que estão "convencidos" de que estariam corretos, de que estariam fazendo "justiça". Alguns chegam a afirmar que "matam por amor".

Seria isso possível? O que eles gostariam de provar? A quem querem convencer?

Em sua maioria, a demonstração final de violência esconde, de fato, um medo. Sim, quanto maior a agressividade, maior pode ser a fragilidade.

Por quê? Esses indivíduos são, antes de tudo, paranóicos. O que quer dizer isso? Para David Bell (Paranóia, p. 5-6):


"A mente humana vê-se diante da experiência da angústia a cada momento da vida.
(...) Pode-se lidar com a angústia que vem de fora do modo tradicional: lutando ou fugindo. 
A angústia que vem de dentro, porém, constitui um problema diferente.
(...) o conteúdo mental ameaçador é transferido do mundo interior para o exterior. Esse recurso [é] chamado de 'projeção' para fora - pois o conteúdo interno da mente é 'projetado' para fora, para o mundo externo."

Portanto, citando um exemplo, David Bell (p. 7) resume:


"Em vez de sentir que uma idéia perturbadora se impunha à sua mente, [o indivíduo] acreditou que a idéia partia de uma figura externa (...)  que tentava impô-la a ele." 

O problema é que o paranóico parte de uma fantasia para agredir o outro. No seu delírio, ele estaria certo. Fazer o outro sofrer, para ele, seria uma forma de realizar a justiça. Na sua fantasia, ele humilha, bate e até mata "pelo bem do outro". O  paranóico acha que é incompreendido pois o outro não reconhece que, por trás daquela agressividade, existiria uma intenção nobre, existiria o verdadeiro amor.

Assim, a questão não é só que, ao se distanciar da realidade, o paranóico cria um problema para ele. O fundamental é que, na sua fantasia, ele torna-se um perigo para o outro e, mesmo utilizando recursos como a humilhação e a violência, ele não apresenta sentimento de culpa, pois, no seu delírio, ele estaria sendo usado pelo "destino" (ou por algo superior) para trazer a justiça à sociedade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

COMO FUGIR DE SI MESMO ?


A depressão está associada (também) a uma predisposição genética. Ela é a causa de muitos suicídios.

No filme "Clube da Luta", numa das cenas finais, ocorre uma espécie de suicídio "parcial", ou seja, o que morre seria a parte do indivíduo que estaria errada.

A análise de David Bell (Paranóia, p. 68-69), apesar de ser feita em outro contexto, pode ajudar na compreensão deste caso:

"Isso faz lembrar pacientes que ao tentar tirar a própria vida estão tomados do delírio de que enfim se livrarão de uma parte sua que não conseguem suportar e, delirantes, acreditam que depois do suicídio ficarão limpos e sem culpa alguma."


O problema está na causa deste delírio, ou seja, por que alguém guarda em si algo que não pode suportar?

Como fugir de si mesmo?

Muitos tentam esquecer as experiências negativas que tiveram no passado. No entanto, as lembranças insistem em aparecer, sobretudo nos pesadelos. Os traumas não são esquecidos. Ficam "escondidos", como se estivessem esperando algum pretexto para se revelar e aterrorizar o indivíduo que acreditava ser saudável e normal.

Diante do "terror revelado", muitas vezes, sobra a pessoa só a alternativa da loucura ou do delírio, afinal, o esforço de apagar o trauma da consciência foi em vão.

...


We were soul twins
I see you on my afternoon
I see you on my smoke
I feel you on my tears
I undestand you
I respect you
I miss you.

EROS


Para Freud, Eros era mais do que de sexo, estava relacionado ao desejo de vida.
Na visão de Nicole Abel-Hirsch (Eros, p. 8-9):

"Eros é a idéia de uma força que 'liga' os elementos da existência humana - fisicamente, pelo sexo; emocionalmente, pelo amor; e mentalmente, pela imaginação.
(...) Uma idéia que exploramos neste livro é a de que não pode existir a ligação (união sexual, emocional ou intelectual) sem alguma forma de amor. 
É claro que existe penetração sem amor - a pedofilia o comprova -, mas não é a mesma coisa que uma relação sexual."

Na visão de Abel-Hirsch, uma relação sexual pressupõe um respeito entre os envolvidos, deve existir uma espécie de ética do amor. "Sem isso, não há 'dois' que se possa ligar numa cópula." (p. 9)

O que motiva o interessa sexual é a atração. Entretanto, só isso não basta para manter um relação. É necessário que exista, além do contato físico, um envolvimento emocional e intelectual.

No filme "Henry & June", um personagem diz para a esposa: "você se apaixona pelas mentes das pessoas" ("you fall in love with people's minds"). Nesta perspectiva, a atração física pode ser importante num primeiro contato, mas a inteligência seria fundamental para manter uma relação amorosa.

domingo, 7 de agosto de 2011

MORTE

Já estou no limite faz tempo. Não acho grande mérito ter sobrevivido a tantas crises. Quando for necessário, farei o que precisa ser feito. É uma tendência e não uma profecia. Sempre achei que a natureza deveria cuidar dessa parte. Mas isso nem sempre acontece.

A dor insuportável leva ao suicídio. Neste quadro, é razoável - existem tantos exemplos: Freud, Lacan, Deleuze...


Não concordo com o suicídio por causa da falta de poder ou da falta de dinheiro. Tirar a vida por causa de conceitos - que mudam o tempo todo - não faz sentido.

O suicídio é apenas uma estratégia para lidar com a vida. A morte é uma certeza. O suicídio é uma opção. Não dá para afirmar que uma pessoa fará ou não tal escolha. É algo pessoal e depende do contexto que o indivíduo estiver vivendo. Todos correm o risco de escolher esse caminho, mesmo aqueles que nunca acreditaram que seriam capazes de cometer tal ato.

CERTAS PESSOAS...

Dizem que as plantas podem ser estimuladas com uma boa música. Um cachorro normalmente reconhece um indivíduo que gosta dele.


E os homens? Analisando o tema da sublimação (p. 15), Kalu Singh afirma:


"A atenção desinteressada pressupõe a satisfação do desejo; e o desejo pressupõe a satisfação de uma necessidade. Certas pessoas nunca fazem essa transição."


O que significa isso? Alguns indivíduos são incapazes de compreender. Não entendem a importância da cultura, da sensibilidade e do amor. São como bestas que precisam tocar (e destruir) objetos materiais para acreditar no imediato. Não conseguem entender a mediação.


Não há muito o que fazer com pessoas assim. Normalmente, na 
sua ignorância, acreditam que são perfeitas e que não precisam mudar. Acreditam que são superiores. Mais do que isso, acreditam que tudo gira em torno delas.


Ódio? Indiferença? Sentimento de pena? 


Talvez ficar longe destas pessoas seja a melhor alternativa.

sábado, 6 de agosto de 2011

TRANSFERÊNCIA DE CULPA

Freud afirmava que para entender a vida de um adulto seria necessário retornar a sua infância.


Como, neste sentido, uma criança de 5 ou 7 anos poderia compreender o significado do conceito de pecado na década de 1960?


Sim, falo da minha infância, das oportunidades que perdi por acreditar que estaria fazendo algo errado.


Lembro-me de estar brincando com uma menina da minha idade e havia um clima de "sexualidade", mas me sentia culpado pois havia uma imagem da Santa Ceia de Leonardo da Vinci no quarto. Acreditava que estava pecando e, mais do que isso, que, por causa da imagem, estava sendo vigiado.




Em outras palavras, antes de descobrir o sexo, já tinham me convencido de que tratava-se de uma coisa errada.


Provavelmente, a religião não tenha mais uma influência significativa na formação das crianças. Entretanto, ainda existe o papel dos pais na formação delas. Aqui, após a década de 1990, apareceram novos problemas: pai e mãe trabalham e os filhos são deixados em creches e escolinhas; algumas mães acreditaram na "produção independente" (ou seja, que as crianças não precisariam da figura do pai) e, com o aumento no número de divórcios, muitas mães passaram a usar os filhos para brigar com os ex-maridos. 


O problema é que tudo foi feito sem se preocupar com o ponto de vista das crianças. O resultado está aí, como ocorre com o excesso de consumo de bebidas alcoólicas e drogas entre os adolescentes ou com o aumento da violência e da prisão dos indivíduos entre 15 e 25 anos. O interessante é perceber que os educadores aparecem nos meios de comunicação de massa e apontam a culpa para os próprios jovens, sem avaliar adequadamente em que contexto social eles foram formados. 


Trata-se de um jogo maquiavélico: os filhos são vistos como culpados pelos pais ausentes, que contam com o apoio de várias instituições da sociedade. Seria quase como uma aliança dos "adultos" contra as crianças e adolescentes... 


Por quê? Culpa. No fundo, eles sabem que falharam na educação dos filhos. 


Por isso, aliás, existe uma transferência de culpa. A vítima torna-se, como numa mágica, o rebelde sem causa, o drogado ingrato, o filho que não reconheceu tudo o que os pais e a sociedade fizeram por ele... P.o.r. f.a.v.o.r. !! 

REPRESSÃO SEXUAL

Seria possível imaginar o mundo atual sem carro, avião, computador, televisão, cirurgia plástica e pílula anticoncepcional?
E pensar que tudo isso veio a existir somente após o final do século XIX...


De qualquer maneira, o resultado destas invenções foi a melhoria na vida dos indivíduos. Houve uma mudança radical quanto ao conceito de trabalho:


"Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiênciaMarcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradávelpoderia ser bastante reduzido, de modo que não precisávamos mais conter sexualidade." (Roger Kennedy, Libido, p. 75)


Isso, infelizmente, ainda não aconteceu. A repressão sexual está aí. As pessoas acreditam que precisam sofrer (muito) com horas diárias de trabalho para, depois, ter alguma forma de prazer, como se fosse uma recompensa. Trabalham em excesso mesmo sem precisar!!!


É incrível como que, com condições materiais favoráveis, os indivíduos ainda são incapazes de perceber que possuem mais tempo livre para viver a sexualidade ou outras formas de prazer. Os muros não existem mais, mas eles não conseguem ultrapassar as linhas (agora imaginárias) dos limites impostos pela ideologia.

S & M: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E PEDOFILIA

Estela Welldon analisa a diferença entre o sadomasoquismo e a violência doméstica. Na sua opinião:

"(...) a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa a ser o membro frágil da família e alvo 'conveniente'para a expressão de hostilidade, agressividade e até violência sexual. Esse desfecho é diferente do sadomasoquismo, em que existe um roteiro predeterminado que pressupõe segurança da situação." (Sadomasoquismo. RJ: Relume Dumará, 2005, p. 52 e 53)


Assim, a violência doméstica pode ser causada por pedófilos. Se no caso do sadomasoquismo existe "um roteiro predeterminado" combinado entre dois adultos, naviolência sexual (doméstica) ocorre um processo diferente na medida em que isso é feito por adultos que abusam sexualmente de bebês e crianças que não podem se defender. Para a violência sexual acontecer dentro do ambiente familiar, precisa contar com a conveniência da mãe ou de sua incapacidade de perceber o óbvio. Esses bebês e crianças terão dificuldades em tornar-se adultos saudáveis. 


Os pedófilos são covardes e, com razão, não são aceitos pelos outros indivíduos. São condenados na sociedade e, quando são finalmente presos, são hostilizados em prisões e presídios. Vivem com medo de serem denunciadosEsperam a proteção de um suposto vínculo familiar.


Nem na Grécia Antiga, em que era admitida a relação sexual entre um adolescente e um homem, era permitido o abuso de crianças:


"Ésquines diz que se quis mostrar, ao proibi-la até mesmo com relação aos escravos, o quanto era grave a violência quando ela era dirigida às crianças de boa origem." (Michel Foucault, O uso dos prazeres, R.J.: Graal, 1984, p. 191)


É comum ver pedófilos em presídios afirmar que são pessoas doentes. O problema é que eles  falam isso depois de serem presos! Se fossem  realmente sinceros, teriam procurado ajuda psicológica ao invés de atacar crianças indefesas.


Os pedófilos passam despercebidos na sociedade pois, além das ameaças às suas vítimas, são cordiais com os outros adultos. Por isso, aliás, a maioria diz, perplexa, que não imaginava que "aqueles indivíduos tão educados pudessem fazer coisas tão terríveis." A expressão popular "a casa caiu" funciona na prisão dos pedófiloscom a utilização da denúncia anônima


De fato, fingir que não existe violência doméstica gera problemas para todos, os agressores, os omissos e as vítimas. Os agressores vivem sob o medo de serem denunciados. Os omissos sentem-se responsáveis e para não ver ou esquecer do que viram, apelam, por exemplo, para as bebidas alcoólicas ou para as drogas. Asvítimas podem também tentar esquecer, mas, em algum momento, os traumas sofridos aparecem em forma de doenças como anorexia, bulimia ou depressão, que podem estar (ou não) associadas ao sadomasoquismo e ao suicídio.


O que eu escrevi em outros artigos vale neste contexto:


" (...) as frustrações, como destaca Freud'perturbam  a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social' e geram 'casos graves de neuroses', que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração. Em suma, parece que as escolhas da maioria para lidar com os traumas -beber para esquecer ou fingir que a culpa do problema está no outro - só pioram um quadro complexo de abusos sofridos principalmente na infância."


Algo que amenizaria o sofrimento dos envolvidos em  violência doméstica, especialmente em casos de pedofilia, poderia ser o uso da denúnciaSe ela é feita, fica mais fácil para as autoridades punirem os culpados. Quando ela não é feita, resta esperar que a culpa e o medo da prisão angustiem suficientemente os culpados por ataques contra pessoas indefesas... 

AS MULHERES SÃO VÍTIMAS ?

Quem procura conhecer a lista dos principais "psico killers" da humanidade, encontra, normalmente, nomes de homens


No "making of" de "Red Dragon", um agente do F.B.I. afirma que são pessoas que tiveram problemas na infância


Mas, quem, na maioria dos casos, tem o controle da infância? A mulher... Entretanto, a mulher não seria a principal "vítima" dos "psico killers"?  


Estella Welldon  (Sadomasoquismo. RJ: Relume Dumará, 2005, p. 66-67) diz a sua hipótese:


"As mulheres têm o controle da esfera doméstica, na qual o abuso é oculto, ao passo que os homens têm poder na esfera pública, em que as transgressões sãovisíveis e podem ser punidas.
(...) Os homens invariavelmente são considerados ofensores e sofrem 'condenações' e punições. Isso faz que continuemos a ver as mulheres como vítimas, sem que elas jamais possam revelar seus sonhos de vingança ou revelar abuso de poder sua extrema necessidade de controlar." 


Na verdade, é difícil criar uma teoria geral para avaliar a violência na sociedade. Também é fato que cada caso é um caso. 


desafio, porém, seria evitar, de alguma forma, que essa violência ocorresse. 


Para tanto, é fundamental não acreditar em mitos ou em convenções que ditam o que seria a "normalidade". Em outras palavras, aquelas pessoas comuns, apresentadas como responsáveis, podem estar escondendo as piores formas de violência aplicadas a um ser humano. 

HEDONISMO

Freud destaca que existiam, no indivíduo, tanto um desejo de vida como "um instinto de morte." A crueldade parece fazer parte da condição humana. Ela é elogiada porNietzsche Sade.


Além da violência, o homem deseja também o prazer. O problema, para a maioria, está na realização dos instintos. De fato, em alguns momentos, satisfazer os desejos de uns significaria negar os instintos dos outros. Assim, inventaram a idéia de que o prazer é errado e de que quanto mais uma pessoa sofre (no presente), mais ela seria beneficiada no futuro.


Isso está por trás da definição de "pagão" do "The American Heritage Dicitionary" (p. 892):


"1. A person who not a Christian, Moslen, or Jew; heathen. 2. One who has no religion. 3. A non-Christian. 4. A hedonist."


Ou seja, seria considerado "pagão" aquele que não fosse "cristão, mulçumano ou judeu"; aquele "que não tem religião"; "um não-cristão" ou "um hedonista". As religiões citadas ressaltam a importância do sofrimento e da dor para, posteriormente, ter acesso a paz. A definição do dicionário associa ainda o "pagão" ao "hedonista". Mas o que seria hedonismo? Para Walter Brugger (Dicionário de Filosofia, p. 205):


"HEDONISMO é a doutrina a qual o prazer (satisfação do apetite sensitivo ou espiritual) determina o valor ético da ação. Ao mesmo tempo, pressupõe que ohomem, via de regra, age somente por motivo de prazer."


Em outras palavras, o "pagão" e o "hedonista" estariam do lado do prazer e as religiões citadas enfatizaram a dor. Simples? Claro que não. Trata-se da definição de um único dicionário, mas que mostra, indiretamente, concepções ideológicas que dominam a sociedade atual.

SENTIMENTOS BONS E RUINS

Eu não poderia ser um "superherói" e nem um "superhomem nietzscheano", pois falta-me o sentimento de crueldade, especialmente, aquele que motiva a vingança.


Além de ético, sou lento para perceber as coisas, ou como falavam quando era criança: "não tenho maldade..." Isso era dito como uma crítica, como que não ser cruelfosse uma falha no ser humano.


O homem, normalmente, associa uma ação ruim com um objetivo bom, algo como: a vingança é necessária para que a justiça seja feita. 


Fazer coisas ruins com boas intenções, mereceria perdão?


Perdão: eis outra palavra fundamental para aquele que comete atos cruéis. Ele conta com o perdão do outro. Mais do que isso, quando ele pede perdão, ele inverte o jogo e passa a "batata quente" para o outro. Se não for perdoado, a culpa ficaria com o outro!


Jogos assim lembram quando, no filme "Matrix", a humanidade é comparada com um vírus... tratou-se, certamente, de uma grande injustiça... com o vírus !!

"NORMALIDADE" ?

Como fugir do mundo dos "normais" ?


Simples: drogas, sexo "bizarro" e bebidas alcoólicas... As drogas aparecem em primeiro lugar, pois elas, em excesso, destroem os desejos pelo sexo e pelo álcool.


Quando fugir do mundo dos "normais" ?


Normalmente, esse sentimento aparece na adolescência ou no início da vida adulta.


E a origem do incômodo ?


Infância. Apesar dos esforços dos pais (alguns fazem o contrário!), as crianças são abusadas emocionalmente. Ocorrem cobranças - diretas e indiretas - de quem deveria protegê-las. Como elas podem ir contra os pais? Trata-se de um conflito desleal.

VELHOS PROBLEMAS EM NOVAS "EMBALAGENS"

Há uma sensação geral de que existe algo errado na sociedade


Em noticiários, é comum ver casos de homens rejeitados que assassinam as ex-parceiras. Elas avisam a todos e pedem ajudam as autoridades. Entretanto, isso não impede o final trágico.


A violência é associada também ao uso de droga, especialmente ao "crack". Num depoimento ao Bom dia Brasil, em 26 de julho de 2011, um especialista afirmou: 


"não adianta colocar o usuário numa clínica por algumas semanas. A família deve substituir o prazer da droga por outro tipo de prazer."


Outro problema é a falta de emprego - maior como o advento das chamadas Novas Tecnologias. Atualmente, mais grave do que desaparecer uma vaga de trabalho, é a extinção da profissão.


O desemprego, na Europa, é um pretexto para o crescimento eleitoral de partidos de extrema direita. Um problema econômico gera uma crise política associada com a problemática religiosa. Se, antes, no nazismo, os judeus eram os alvos da intolerância, atualmente, os extremistas voltaram a sua raiva contra os muçulmanos.


A intolerância ocorre também por causa das opções sexuais. Os recentes ataques de homofobia, no Brasil, podem servir de exemplo para essa constatação.


Em suma, existem vários fatores associados ao mal-estar que acontece no convívio social. A velha pergunta - o que fazer? - ainda está relacionada a um velha alternativa: a auto-crítica de cada um seria um bom começo.

MACHO & FÊMEA /\ \/ : SÍMBOLOS E O ACESSO AO CONHECIMENTO

Existem informações que são transmitidas a cada geração pelo código genético.


Com símbolosdesenhos e letras, o homem conseguiu repassar, aos outros, aquele conhecimento adquirido na prática.


Em outras palavras, o acesso a uma teoria (uma história) melhorava a prática cotidiana do indivíduo.


O escritor Dan Brown explicou, nos DVDs de "DaVinci Code", que a idéia do livro veio do seu interesse pelas sociedades secretas (inclusive por seus símbolos) que foram criadas ao longo da história da humanidade. No próprio filme, aparece um debate interessante (no original, em inglês, se necessário, utilize o tradutor do Google):


"The pagans found transcendence through the joining of male to female. In paganism, women were worshiped as a route to heaven, but the modern Church has a monopoly on that... in salvation through Jesus Christ. And he who keeps the keys to heaven rules the world. Women, then, are a huge threat to the Church. The Catholic Inquisition soon publishes what may be the most blood-soaked book in human history. The Malles Maleficarum. The Witches' Hammer. It instructed the clergy on how to locate, torture and kill all freethinking women. In three centuries of witch hunts, 50.000 women are captured, burned alive at the stake."


Os símbolos dos pagãos para o macho /\ e para a fêmea \/ estariam associados as anatomias dos corpos, assim como os animais do zodíaco seriam inspirados pelas constelações. No documentário "Zeitgeist", é defendida a hipótese de que a cruz seria um símbolo pagão antes de aparecer como representação do cristianismo.


O que existe em comum nestas teorias? Primeiro, há a necessidade de identificar padrões que facilitam o cotidiano do homem - como, por exemplo, as estações do ano. Segundo, a transmissão do conhecimento seria necessária e para isso seriam utilizados recursos como os símbolos,  os desenhos e  as letras. Terceiro, para resolver algo no presente, seria importante conhecer o passado, evitando, assim, cometer os mesmos erros dos outros. Finalmente, em quarto lugar, sobretudo nas teorias religiosas, existe a preocupação de garantir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, seguindo normas no presente, a pessoa garantiria um lugar no céu ("heaven") no futuro.


A questão não é saber qual teoria estaria certa. O importante é reconhecer que o acesso ao conhecimento melhora a vida do indivíduo. Com diz um personagem do filme"DaVinci Code""ninguém odeia 'a' história... as pessoas evitam saber sobre o próprio passado."  "Nobody hates history. They hate their own histories." )

A crise dos 50tões

Apesar de não dar aulas faz uns 3 anos, ainda sou reconhecido, pelos mais velhos, nos bares, como "o professor". Acho justo. Digo mais velhos, pois muitos dos meus alunos tornaram-se professores.
Quando encontro os (bem) mais jovens, os ingênuos - e normalmente mais alcoolizados - perguntam em que irei me formar... Justo? Nem pergunte...
Eu imaginava que não viveria mais de 30 anos e que o ano 2000 era um algo distante,  muito distante... Errei. Tenho 50 anos e estou vivo em 2011.
Formei em História e Estudos Sociais (...respondendo aos curiosos do bar...), fiz Especialização em Filosofia, Mestrado em História (UFF-RJ) e Doutorado em História (PUC_SP). Estudei inglês, francês e alemão. Posteriormente, visitei alguns países na Europa. Dei aulas em dois centros universitários. Publiquei seis livros. Casei. Divorciei. Como diz o Hugh Hefner: "namorei garotas de 20 anos... e ainda namoro garotas de 20 anos."
Trata-se de um caminho que poderia ter sido feito por qualquer pessoa. Entretanto, existiram outras possibilidades. Uma comum foi aquela de ter e criar filhos. O divórcio foi também uma opção da maioria. Muitos gostariam de ter ficado ricos. Poucos ficaram. Outros acreditaram que ficaram ou que um dia ainda serão milionários...
Isso leva uma pergunta: é legítimo sonhar com 50 anos? Acreditar em tudo com 15 anos é uma coisa, mas isso seria válido após meio século de experiências (ou de fracassos)?
Uma amiga definiu o momento atual como "a crise dos 50tões". Perfeito. Seria melhor se eu não estivesse no meio dela. Mas, claro, não se pode ter tudo.
Vi, recentemente, alguém falar, na televisão, sobre um projeto para a terceira idade, que tornaria a fase da velhice "menos infeliz". Quer dizer, nem ideologicamente dá para disfarçar que ser velho representa ter problemas.
Com 50 anos, você tem opções. Existem várias crises, é só escolher uma ou várias. E as soluções?
Qualquer coisa que você faz, depois dos 50 anos, parece ridículo aos olhos da maioria, como são os casos dos homens que pintam os cabelos ou das mulheres com silicones e botox. Se tiver filhos ou netos, será criticado por suas ações por não serem adequadas a uma pessoa "daquela idade".
O divórcio, apesar de ser uma realidade para a maioria, ainda é um problema na formação dos filhos. A figura da "produção independente" é, hoje em dia, questionada, afinal, quem seria o pai da criança?
Religião. Eu tive a minha fase religiosa entre os 16 e 17 anos. Na época, os meus amigos não entendiam a minha crença. Atualmente, não freqüento igrejas e eles, com 50 anos ou mais, tornaram-se adeptos daquela crença.
Isso me lembra algo que ouvi certa vez: 
"a maioria torna-se religiosa na velhice, pois sobraria só o 'bagaço' mesmo..."
Apesar de certas críticas, a maioria aceita com razoável a pessoa tornar-se religiosa com a passar dos anos e a aproximação da morte.
Morte. Esse é o problema para quem tem 50 anos. O indivíduo já não é aceito pela maioria, mas não está suficientemente velho para morrer ! Não serve para o trabalho, para o sexo, mas não pode morrer ?!? Não. Deve viver ainda mais uns 30 anos de rejeições humilhações... Exagero? Talvez... Talvez...

VIVER OU ASSISTIR TELEVISÃO ?

Uma vez a minha médica me perguntou se as 200 mg de Zoloft não atrapalhavam o meu orgasmo, pois outros pacientes tinham reclamado dos efeitos colaterais. Como diz Lu Gomes:  


"Certo, o Prozac inibe o orgasmo..." (Playboy, Agosto 2002, p. 132)


... mas, e daí ? 


No ano passado, em outro artigo, escrevi:


"Num episódio de 'Sex and The City', Carrie apresenta um rapaz a Charlotte, dizendo que ficou com ele e que seu defeito era que, do ponto de vista sexual, ele era uma maníaco. Em seguida, Charlotte se envolveu com o rapaz, mas, para a sua decepção, não demonstrava interesse por sexo. Questionado por Charlotte, ele afirma que não era uma cara muito sexual. Ela conta o que ouviu de Carrie. Em resposta, ele afirma que aquilo era o passado, que depois que começou a tomar Prozac a sua vida mudou e ele encontrou a tranqüilidade, que nada o abalava mais.
Essa história possui um fundo de verdade. Um dos efeitos colaterais dos modernos antidepressivos é justamente afetar a vida sexual do indivíduo. Não causa impotência, mas pode inibir a ejaculação ou, parece que em alguns casos, torna as pessoas menos sexuais. Contudo, muitos pacientes - como o da história - não se importam com estes efeitos, afinal, deixam de sentir a depressão. Isso contradiz a velha associação de Freud entre eros (sexo) e vida - que entraria em contradição, em cada pessoa, com o instinto de morte."


A escolha, no final, seria pelo bem-estar. Sexo é bom, mas a tranqüilidade seria mais importante ?


Nem todos pensam assim. Existem aqueles que não abandonam as bebidas alcoólicas, as drogas ou o sexo por uma vida mais saudável e feliz.


Preferem viver intensamente. 


Esse tipo de postura voltou ao noticiário com a morte de Amy Winehouse, quando foram lembrados os casos de Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones e Janis Joplin - ela, por sinal, resumia a sua opção:


"Só quero ter bons momentos. Eu quero tirar o que há de melhor em tudo e isto é o que tenho. Cara, eu prefiro viver dez anos na maior agitação do que viver 70 sentada numa maldita caldeira assistindo televisão. Agora é onde você está, como pode esperar?" (Rock Espetacular, p. 116)




Boa pergunta. Viver intensamente significa morrer cedo ? Não necessariamente. Penso, para citar uma celebridade do rock, em Keith Richards e sua vida de excessos. 67 anos e ainda está por aí. Lançou a sua biografia "Life" no ano passado.




Imagino que não seria possível ter uma vida longa sem admitir alguns recuos estratégicos. Alguns diriam que a sorte também ajuda. Existiria ainda uma predisposição genética ao suicídio.




Enfim, não seria um único fator que determinaria se a vida de alguém seria longa ou não, nem se seria tranqüila ou prazerosa. Entre as infinitas opções, a questão é saber viver o momento
aqui e o agora ( John D. Biroc). O resto seria apenas um detalhe...

A FUGA PERFEITA

Questionado sobre a escolha de profissões burocratas, apesar de ser escritor, Fernando Sabino respondeu:
"Explico sim (...): eu não era rico! Precisava trabalhar." (Playboy, julho 1987, p. 49)
Mas na mesma entrevista, ainda afirmou:
"Sem o cartório me livrei do ônus de ficar rico. Como é que eu, rico, ia poder sentar no meio-feio para bater papo com o Otto, o Hélio e o Paulo?" (p. 51)
Contraditório? Parece. Independente se Fernando Sabino estava correto ou não, a questão é que o indivíduo não escolhe desperdiçar várias horas diárias simplesmente por que precisa de dinheiro para sobreviver. É mais complexo do que isso.
Costumo dizer que para atender as necessidades básicas a pessoa não precisa de tanto dinheiro como se diz por aí.
Em outras palavras, o excesso de horas trabalhadas e o dinheiro proveniente de tal esforço estão relacionados aos produtos que não fazem parte das chamadas necessidades básicas: carros novos, jóias, viagens, entre outras coisas.
Além disto, trabalhar muito quer dizer não ter tempo para si mesmo. Trata-se da fuga perfeita: é legítima - pois a figura do trabalhador é aceita como positiva na sociedade - e, ao mesmo tempo, serve para alienação - a pessoa não teria tempo para pensar nos verdadeiros problemas.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

GRACE, CAROLINE & STÉPHANIE

Mônaco é um apresentado como um lugar para os privilegiados. As princesas Caroline e Stéphanie ficaram ainda mais famosas por causa dos seus romances e escândalos. A mãe, a Grace Kelly, havia sido uma importante atriz em Hollywood. De acordo com Rui Castro (com base no livro "Grace - The Secret Lives of a Princess"), ela se envolvia com

 "atores charmosos, casados e muito mais velhos que (...) sempre levava para a cama nos bastidores (...) era sempre ela a tomar a iniciativa.

(...) O primeiro felizardo foi Gary Cooper, durante as filmagens de 'Matar o morrer', em 1952 - ela com 23 anos; ele, 51. Não se sabe como Cooper se sobreviveu ao fogo de Grace - e havia quem a chamasse de 'iceberg'!" (Playboy, Outubro 1988, p. 133)

Grace Kelly trabalhou com Alfred Hitchcock (filmes "Ladrão de Casaca" e "Janela Indiscreta"). Ele explicou, em uma entrevista, que utilizava as chamadas "loiras frias" porque não gostava do estilo sensual. No caso da princesa de Mônaco, essa história de "fria" parece ter sido só uma imagem mesmo. De qualquer maneira, chama a atenção que em na década de 1950, ela com os seus 20 anos, linda e com fama de "fria", preferia se relacionar com homens com mais de 50 anos. Certamente não era algo divulgado ao grande público - alguns eram casados -, mas mesmo assim não há como não admitir a ousadia de Grace Kelly.

Apesar de estarmos vivendo em outro milênio, ainda temos que conviver com críticas e preconceitos relacionados aos casais.

Posso falar do meu caso. Depois do divórcio, fui criticado por namorar com garotas bem mais jovens. Conversava com os pais, que autorizavam os namoros. Entretanto, na prática, eu sabia que havia resistências, como, por exemplo, quando tinha 47 anos e me relacionei por mais de uma ano com uma ex-aluna de 18. Aliás, existe muita hipocrisia nesta história de professor e aluna. João Carlos Di Genio - proprietário do Objetivo - resume a sua opinião:

"Alunas apaixonam-se pelo professor. Fazem insinuações, mandam bilhetinhos. Eu não dava bola, pois os  rapazes escreviam em nome delas para me gozar. Mas eu namorei uma de minhas estudantes." (Playboy, Novembro 1988, p. 33)

Di Genio não foi o único a namorar com alunas. Eu namorei também com professoras, mas não dou aulas desde 2008 e, mesmo depois deste período, como não casei novamente, continuei a namorar ou ficar com garotas, todas maiores de 18 anos - aliás, um critério que considero razoável para se estabelecer um relacionamento com uma pessoa.

Em suma, exceto nos casos de assédio ou outras ilegalidades, não considero a idade e o ambiente profissional fatores decisivos para determinar se duas pessoas devem ou não ficar juntas.

FUTURO, ZODÍACO E SARTRE

Obs.: o artigo a seguir foi criado a partir de outros dois textos - e que tratavam da mesma temática - "Auras & Hórus" e "Superstições e Religiões".

"Não há dúvida (...) de que o rei-deus, encarnação de Hórus, tenha conhecido sob a IV dinastia o apogeu do seu poder absoluto. (...) O faraó era sempre o 'Hórus-vivo', mas apenas o filho do deus do Sol, que agora imperava sobre as demais divindades. Grandes doações foram feitas sob a V e a VI dinastias." (Ciro Cardoso, O Egito Antigo, SP: Brasilense, 1982, p. 52)

A pronúncia inglesa de "auras" parece muito com a de "hórus", que, no Egito antigo, por volta de 3.000 a. C., representava, como apresentado na citação, um divindade associada ao sol.

A pessoa que possui uma "aura" é uma pessoa "boa". "Hórus" significa luz, o que seria o contrário de "Set" ("Seth"), que representaria a noite, algo negativo. (Documentário "Zeitgeist")

A dualidade identificada pelos homens, observando o sol e as estrelas, permanece até hoje e foi a base da maioria das religiões e superstições.

No que diz respeito especificamente às superstições, algumas, aparentemente, em nada tem a ver com o zodíaco, como o número 4 para os chineses ou passar embaixo de escada ou jogar o sal sobre o ombro. 

Outras, porém, estão associadas à cruz do zodíaco, como, quando bocejar, você deveria tampar a boca para o diabo não entrar, principalmente se for uma sexta-feira 13. O zodíaco possui 12 signos e daí vem a importância dada ao número 13.

Existe gente que acredita que por ter nascido em uma época do ano, que corresponde a um signo, seria possível prever os acontecimentos de sua vida.

A construção da cruz do zodíaco foi feita, sobretudo, a partir da observação feita pelo homem em relação aos movimentos do sol, durante o dia, e das constelações, à noite. A partir disto, seria possível prever, por exemplo, as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Muitas religiões foram criadas a partir disto. (Documentário "Zeitgeist")

De fato, religiões e superstições foram inventadas pelos seres humanos com o objetivo de estabelecer algum tipo de controle sobre o futuro. Acreditar no horóscopo faz parte deste processo.

Tudo isso está associado à falta de sentido na vida - você não sabe por que está neste mundo e nem o que acontecerá após a sua morte - e a insegurança de cada pessoa. É complicado admitir "o nada" ou a "não existência". É difícil aceitar que as coisas, no universo, existem sem a humanidade.

Qual seria a solução, então? Como diria Jean-Paul Sratre:

"il faut qui l'homme se retrouve lui même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même, fût-ce une preuve valable de l'existence de Dieu." (Gallimard, p. 77-78)

Se Deus existe ou não, deixa de ser o ponto principal, na medida em que "nada pode salvar o homem dele mesmo." A resposta, talvez, esteja aí. Não era por acaso que Sartre considerava a sua teoria, o "humanismo", uma forma de otimismo.

"PSICO PAIN"

Gosto de sexo, mas evito ver, por exemplo (em filmes), cenas sadomasoquistas. Para mim, sexo é prazer e não teria a ver com dor.

Estella Welldon (Sadomasoquismo. RJ: Relume Dumará, 2005, p. 73) diz que toda relação sexual apresenta alguma coisa de sadomasoquismo, sem chegar a ser um caso patológico. Um exemplo poderia ser o sucesso, no Brasil, da personagem Tiazinha, com sua máscara e chicote.

Entretanto, a prática sadomosoquista está associada aos traumas sofridos na infância. Os sadomosoquistas precisariam, portanto, de tratamento psicoterápico e isso é o que evitam:

"Os rituais e os comportamentos sadomosoquistas são uma solução bem precária para uma dor psíquica insuportável." (p. 73)

 O sadomasoquismo seria uma forma de "esquecer" um trauma de infância. Fugir do passado pode ser perigoso, podendo causar até a morte - que, algumas vezes, acontece entre os adeptos desta prática.

A morte pode acontecer de uma maneira indireta, ou seja, sem ser resultado de um ritual sadomosoquista - apesar de poder estar associada ao trauma de infância. Isso ocorre com o suicídio, cuja causa seria a dor sentida por um indivíduo. Apesar de existir uma predisposição genética, para Schopenhauer, a decisão final caberia ao indivíduo. (L'Arte de Essere Felici, p. 98) Neste contexto, não seria possível julgar, nem afirmar que uma pessoa poderia cometer tal ato ou não.

PERSONALIDADE ?


O mapa é um instrumento que oferece caminhos que facilitam a chegada a um determinado objetivo. "Mapear" uma pessoa seria uma forma de entendê-la.

Entre os 15 e 25 anos, o indivíduo deixa de ser criança e torna-se um adulto. É uma fase de escolhas e, assim, de definição da personalidade.

Uma "mapa" desse processo contaria com algumas perguntas:

. idade ?

. mora com os pais ?

. escola ?

. opção sexual ?

. drogas ?

IDADE ? É importante saber se na fase de transição a pessoa já possui a chave para entrar no mundo dos adultos, ou seja, se já completou 18 anos. Isso afeta as suas relações com os outros e consigo mesmo.

MORA COM OS PAIS ? Trata-se de uma questão fundamental, pois ela define, pelo menos teoricamente, o margem de ação do indivíduo. Em outras palavras, a independência é problemática se ainda se ouve algo como: "o dia que você morar na SUA casa, você define as SUAS regras... enquanto morar aqui... blá blá blá..."

ESCOLA ? Qual é a sua turma? O adolescente precisa de turma para enfrentar a tal fase. Nem sempre ele escolhe... algumas vezes é escolhido... Mas, existem diferenças, por exemplo, daquelas meninas que se sentem bem como "patricinhas" - aquele modelo "cheerleader" - e de outras que gostam de coisas consideradas "alternativas", como heavy metal e tatuagens...

OPÇÃO SEXUAL ? Hetero... homo... bi... trans...

DROGAS ? Contra? Usa? Que tipo?

A partir das respostas seria possível identificar a personalidade do indivíduo e até dizer os prováveis caminhos que ele escolheria na vida.

Não é algo definitivo, óbvio. Mas saber um pouco sobre o outro não atrapalha relação alguma, pelo contrário, ajuda o convívio social e a busca pelas respostas dos problemas do dia-a-dia.

OPINIÃO IMEDIATA

Sou educado e evito o conflito nas relações sociais.

Por outro lado, quem me conhece sabe que se existe algo realmente importante, digo na cara da pessoa.

Não gosto de indiretas ou de jogos. Isso não significa que eu seja uma pessoa óbvia.

Algumas vezes, nos textos do meu blog, destaco palavras em negrito, pois acho que são fundamentais. A mudança das cores das palavras é um processo aleatório, uma cor não seria mais importante que outra.

Faço isso pois uso os textos para mim, como se fosse o leitor.

Existem oportunidades, que escrevo vários textos como um quebra-cabeças. Quero entender algo e isso não acontece de imediato. Escrever o que eu penso, reflete esse processo. Assim, posso precisar de vários textos para compreender alguma coisa que me incomoda. Se o leitor tiver interesse no meu problema e conseguir associar as idéias dos vários textos, finalmente, encontrará aquilo que eu mesmo estava procurando.

O blog trata de uma opinião imediata. No meu caso, não é diferente.

CONSCIÊNCIA ?

Inconscientemente... Eis uma das palavras que mais aparece no livro "Sadomasoquismo" de Estela Welldon. Como explicar que atos tão cruéis poderiam ser conscientes?

O termo "inconsciense" é traduzido no Le Robert Micro Poche como:

" 1. privation permanente ou abolition momentanée de la consciense. 2. Absence de jugement, de consciense claire. "

Algo como "privação da consciência ou ausência de consciência clara". No filme "Les Invasions Barbaries" aparece:

" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité. "

Será que existe gente, normalmente com atos cruéis, que não é capaz de ver a realidade, ou seja, faz o mal sem compreender o significado do seu ato? Será?

CAUSA E EFEITO

Algumas pessoas acreditam que "aqui se faz, aqui se paga". Existiria uma espécie de "lei natural" que puniria os erros de um indivíduo, com base nas premissas de causa e efeito.

De fato, muitas pessoas que comentem crimes são presas e punidas. Para entender esse processo, seria interessante lembrar uma citação de John D. Biroc:

"The fear of chaos invites more chaos."

 Sim, o medo de algo - como o caos da citação - aumenta a possibilidade desse temor tornar-se realidade. Quem faz algo errado ou comete um crime, vive em constante medo de ser preso. O incômodo é tal que ser mesmo preso pode aparecer como uma alternativa inconsciente para o problema. É a mesma dinâmica do indivíduo que se envolve sempre com as pessoas "erradas" e, depois, não entende por que aquelas relações não deram certo.

Assim, o criminoso é punido não porque isso seja uma "lei natural". Por causa do medo, ele acredita que será punido. Não importa se o seu ato seria aceito numa sociedade e recriminado em outra. Antes de mais nada, ele aceita aquela culpa e acredita, ingenuamente, que infringiu uma "lei da natureza". Merece ser punido - tanto pela postura anti-ética como pela própria alienação.