quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

DESEJO DE MORTE

A automutilação atual pode ser comparada a histeria no século XIX. Antes de Freud, normalmente os histéricos, assim como outros que não se encaixavam nos padrões de "normalidade", eram encaminhados aos hospícios.
Hoje, essas pessoas criam grupos e comunidades para trocar experiências. Muitas participam de clubes sadomasoquistas (SM). Outras divulgam as fotos dos seus cortes na Internet, sobretudo no Tumblr.
O que leva uma pessoa a se cortar? Inconscientemente, com a dor física, ela quer aliviar um dor emocional. Ela deseja esquecer algum trauma ou algo que a incomode, mesmo que ela não deseje pensar e analisar o assunto.
Assim como os adeptos do SM, a maioria recusa o processo psicanalítico. A intenção é esquecer e, se fosse possível, apagar da memória algo que aconteceu e que não foi bom.
Existe uma crise de identidade, na medida em que o indivíduo "ataca" fisicamente o próprio corpo. Existiria algo no seu corpo que seria "responsável" pela experiência traumática - por exemplo, uma mulher atraente que foi estuprada, pode desejar tornar-se gorda e fugir dos padrões de beleza da sociedade.
Cortar o próprio corpo significaria "cortar algo que incomoda". Todo indivíduo necessita de ser aceito pelos outros. Quando isso não acontece, principalmente com os mais próximos, como familiares e amigos, podem surgir problemas graves.
Em outro artigo, com o título de "Solidão", escrevi:
"rejeição causa dor mágoa. Os sentimentos negativos podem afetar o corpo da pessoa. Isso é conhecido desde o século XIX, quando  Jean Martin Charcot percebeu a dificuldade de tratar sintomas associados às mulheres histéricas. Na época, 'os neurologistas buscavam [explicá-los] com base em alguma causa orgânicasem sucesso. Faziam exames neurológicos e não encontravam nadanenhum indício de deficiência mental.' (Luiz T. O. Lima, Freud - Folha Explica,  p. 15) 
Aliás, foi a partir do trabalho com Charcot que Freud chegou ao método da psicanálise. Desabafar é bom. Falar ajuda. Portanto, muitos recorrem ao processo psicoterápico.
Existe um sentimento que incomoda tanto os solitários como aqueles que vivem rodeados de amigos e familiares. Trata-se do medo. Isso gera doenças. Mas... medo do quê? Medo de se conhecer? Medo do passado? Medo do futuro? Medo da morte? Medo da rejeição? Enfim, medo da solidão?
Identificar o medo não resolve o problema. É necessário conhecer a causa e isso só é possível recorrendo ao próprio passado do indivíduo. Não lembrar do que acontece e não lembrar dos sonhos podem ser um sinal de fuga, de medo. A alienação complica o processo, causando a falta de apetite e a insônia, e o resultado pode tornar-se algo mais grave e levar, por exemplo, a um ataque do coração."
De certa forma, tudo o que foi dito ajuda a compreender o processo de automutilação. Trata-se da dor física, a mesma que é a base do relação SM. No mundo ocidental, a dor é negativa e é tratada em hospitais, lugares tristes, que reforçam a fragilidade e a insegurança dos pacientes. Parece que dali, o próximo passo seria a morte, outra coisa extremamente negativa.
Os adeptos da auto-mutilação e do SM possuem outra concepção da dorFreud, em uma entrevista em 1930, tratou da
"(...) negação da vida. Esse desejo explica porque alguns homens gostam da dor - ela representa um passo em direção à morte! O desejo de morte explica por que todos os homens procuram o descanso eterno..." (A Arte da Entrevista, p. 96)
Assim, não é incorreto associar a automutilação e o SM ao debate do suicídio. Todos dizem respeito a algo na condição humana que muitos evitam pensar: a autodestruição e, com ela, o desejo de morte.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

HOJE

...tenho me interessado por temas associados ao discurso religioso (do ponto de vista "filosófico" e não dogmático) antes do cristianismo... e como o cristianismo esteve associado à violência, tortura e guerra (Cruzadas) na Idade Média... como essa experiência é usada na invenção do Hospício...e, posteriormente, nos campos de concentração do nazismo... misture tudo isso e os abusos sofridos na infância (ler Freud) e você terá o SM (o termo BDSM foi inventado recentemente, na década de 1990)... não me interesso pela prática sexual "em si"¹ nem pela prática religiosa "em si"² nem tenho intenção de participar da prática dos partidos partidos políticos... a minha intenção é entender como todas essas idéias influenciam a nossa realidade hoje em dia.

Um ser biológico...

...acredito que existem várias influências "internas" e "externas"... "internas", basta lembrar do conflito existente em cada pessoa do Id, Ego e Superego... não dá para desconsiderar que o ser humano é TAMBÉM um ser biológico... de carne e osso... e o seu instinto, não seria uma carga de saber que viria com ele? Darwin... esse aspectos "internos" entram em conflito com os aspectos "externos", com os "aparelhos" família, escola, igreja... além do mais, estamos falando da complexidade de um único ser - o homem - que se julga o centro do universo... o que parece pouco provável... na verdade, o homem "manda" no planeta terra... mas qual é a importância desse planeta no galáxia? no universo? na boa... somos formiguinhas que nascemos sem saber o por que e morreremos sem saber o que vem depois...

Será?

O homem não é só um ser "biológico" nem só um ser "social" nem só um ser "neurótico" (freudiano)... nem é o "nada" (que, aparentemente não existe)... ele é tudo isso misturado e muito mais... talvez o mais próximo da verdade seria admitir a insignificância da condição humana...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Moralista?

Tenho depressão e tendências suicidas. Nada demais, Tenho crises cíclicas desde os 7 anos de idade. É um passeio no inferno, mas deixou de ser novidade para mim.
A minha doença não atrapalhou a minha carreira. Casei. Divorciei. Conclui o Mestrado e o Doutorado. Leio em Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Italiano... Prefiro ler os clássicos na língua original.
Não sou do tipo "Dr. Moralista" que culpa os jovens pelos males do mundo.
Na Ciência, sou respeitado e citado em artigos e livros em todo o Brasil. Tenho seis livros científicos impressos. 
Adoro rock n' roll e vi vários shows ao vivo, aqui no Brasil e no exterior, como The Rolling Stones, U2, Jimmy Page & Robert Plant, Jesus & Mary Chain, Mötöhead, Queen, Megadeth, Sepultura, Cocteau Twins, The Sisters of Mercy, The Cure, Guns n' Roses, Bob Bylan, Bon Jovi, Marillion, Eurythmics e tantos outros.
Ando de skate e gosto de vídeos games.
Odeio novelas.
Se quiser saber mais ao meu respeito, visite o meu website:
profelipe.weebly.com 

Mulheres Inteligentes e Bonitas

Olha, na boa, eu sempre gostei de mulheres inteligentes e bonitasExiste algo errado nisto? Depois do meu divórcio, fiquei solteiro novamente (hello?!?) e e fui criticado por namorar ou ficar com mulheres inteligentesbonitas e mais novas. Nenhuma tinha menos de 18 anosNão me envolvo com menores de idade. Gosto de heavy metal, skate, rir, beber muito, conversar, não levar a vida tão a sério... O povo daminha idade é o tipo de cara fechado, moralista, que acha que skate é coisa de criança e heavy metal é só barulho. O que eu vou fazer, freqüentar os Bailes do SESC? Nada contra... desde que comecem a tocarAC/DC, Megadeth e o povo fica mais relaxado, daí, podem contar comigo... Caso contrário, continuarei indo em lugares com muito barulho, fumaça e gente sem preconceito... Se todos têm mais de 18 anos, tudo O.K. para mim... Quanto às mulheres... como viver sem elas? Podem falar o que quiser, se ela tiver mais de 18, não começar uma frase com "nóis vai..." e se interessar por mim... Why not?

Imagem

Algumas pessoas acham que me exponho demais nos textos opinativos. 
Primeiro, vai uma sugestão: leia as entrevistas de Charles Bukowski sobre os questionamentos se os seus livros seriam autobiográficos.
Segundo, quem te garante que o que você lê foi um fato ou uma fantasia (ou os dois hahaha). 
Terceiro, pessoas desse tipo juram que vestindo terninhos e seguindo os conselhos da revista Você S.A., elas conseguem enganar os outros e esconder os seus defeitos e fragilidades... por favor!! 
Ninguém engana ninguém!!! Não é porque um bando de puxa-sacos supostamente avalizam a sua fantasia, que isso signifique que o seu mundo - poder, dinheiro e sexo - seja verdadeiro e real. 

Docência

Quem foi meu aluno sabe que fui militante de movimentos religiosos, feministas, esquerdistas... Havia uma época que ouvia só música "barulhenta" e desprezava qualquer outro estilo... Sempre fui sincero nas minhas buscas... Procurava "o" caminho... "a" resposta... Fui sempre, como diria Cazuza, exagerado... Vivi tudo intensamente... Nunca imaginei que chegaria ao ano 2000, algo, para mim, tão distante... E agora, vem 2012 dos Maias... Diziam que o mundo acabaria em 2000... Nada. 2012? Claro que não... É a tal mentalidade milenarista... O que acaba é o indivíduo em sua morte. Talvez por isso ele se preocupe com "o fim do mundo". Passamos até pelo risível "fim da História com Francis Fukuyama... {eu sei que existem problemas de concordância aqui... mas lembre-se que quero essa liberdade num texto opinativo.} Então, ainda estamos aqui... Depois de tudo e de todos... Estamos mesmo? Crise existencial? Nada. Já passei por "essa" faz muito tempo... Por quê escrever sobre isso? "Ich Weiss nicht." A minha frase favorita quando eu estudava qualquer língua estrangeira: eu não sei. No Orkut (lembram-se dele?), orgulhoso de ter namorado tantas garotas bonitas ao longo das décadas (elas com 18, 20 anos... o que mudava era sempre a minha idade), fiz um álbum com algumas fotos desses relacionamentos entre 1982 e 2008... Escrevi algo como "uma longa vida ao vampiro"... Isso já passou também... Gosto de datas por ser historiados. Claro que tive relacionamentos importantes ante de 1982 e depois de 2008. Então, o que fica? Não Fica. Não pára. Continua. Ainda. Sempre? Ich Weiss nicht.

O que fazer com os excluídos?

A mentalidade religiosa deste século, sobretudo no mundo ocidental, ainda é definida a partir de dois livros: a Bíblia - século XV a.C. - e o Alcorão - século VII d.C. 
Se não houve uma mudança de mentalidade com a revolução tecnológica do PC e da Internet, ocorreu o agravamento das contradições sociais, típicas do modo de produção capitalista. O desemprego da época da hegemonia do trabalho manual tornou-se, agora, o desemprego estrutural - o indivíduo perde o emprego e a profissão. 
Religião e economia. O que fazer com os excluídos, que são apresentados como uma "doença" da sociedade? Karl Marx já ironizava esse discurso que é utilizado até hoje:
"Aconteceu que a elite foi acumulando riquezas e a população vadia ficou sem ter outra coisa para vender além da própria pele. Temos aí o pecado original da economia. Por causa dele, a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos, embora tenham esses poucos parado de trabalhar há muito tempo." (O Capital, p. 829)
Essa análise não é sobre o movimento de Wall Street, da grave crise de desemprego daEuropa ou mesmo da chamada "Primavera Árabe". Trata-se de um livro do século XIX, em que já era claro que "a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos!!"

A construção do mito "Lula"

Quem conversava comigo durante o governo Lula, deve lembrar o que eu falava: será como JK, gastará muito e os próximos governos pagarão as contas. Lula aumentou o número de ministérios, de universidades públicas... Ninguém dizia coisa alguma... Vários empregos sem concurso público, aqueles cargos que os governistas "indicam", foram criados... Os líderes do PSDB até tentavam criticar, mas não eram ouvidos... Após 8 anos de gastança pública, "ele", que nem era Vargas nem Chaves, tinha que sair... Entrou a presidente Dilma e os governistas do PT, sob protestos dos funcionários públicos, afirmaram que não haverá aumento de salários em 2012... e a culpa seria do Lula? ".N.Ã.O." A culpa seria da crise internacional!!?

REJEIÇÃO

A palavra-chave na condição humana é rejeição. O indivíduo luta a vida inteira para ser aceito pelos outros, seja na família, na escola, no namoro, na faculdade, no trabalho, no casamento, na relação com os filhos e na velhice. O problema é que ele pode ser rejeitado numa dessas fases da vida.
Em alguns casos, a pessoa é rejeitada antes mesmo de nascer, afinal, ela torna-se o tema de um debate dos pais sobre o aborto. Nasceu. Pode torna-se um mecanismo utilizado pelo pai ou pela mãe para atacar e ameaçar o outro. Ou pode ser o alvo de ataque dos dois. Para Estela Welldon, (Sadomasoquismo, p. 52-53), poderia existir uma espécie de pacto contra o filho:
"(...) É então que a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa ser o membro frágil da família e alvo 'conveniente' para a expressão de hostilidade,agressividade e até violência sexual."
Na escola, aparece o "bullying". Depois para arrumar e manter um namoro, surgem várias exigências do que seria o modelo de "príncipe" ou "princesa". O casamento representa, neste contexto, o lugar ideal das cobranças. Após a chegada dos filhos, o que parecia difícil, fica mais complicado. Se o divórcio acontece, aparecem novos problemas para ser aceito na sociedade como alguém viável e não como uma segunda opção, como se fosse um carro usado - alguns acreditam que fazendo plásticas podem receber o rótulo de "semi-novo".
A velhice é sinônimo de rejeição. Pronto. É vista como decadência e não como maturidade (numa sociedade de consumo que valoriza o que é novo e jovem). Ao velho cabe... tentar parecer jovem? Um exemplo é o avô Mick Jagger que até hoje rebola nos palcos do mundo inteiro e toca com os meus amigos de bairro da adolescência. John Lennon ironizava bastante essa situação:
"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16." 
Diante da rejeição, chega uma hora que o indivíduo se pergunta se vale tanto esforço para ser aceito pelos outros. É como insistir em participar de uma festa em que você não é bem-vindo. Para quê? Se a vida for essa festa, a morte pode aparecer como a única saída.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

AS MULHERES VENCERAM

Analisei uma vez num artigo chamado "Crise dos 50tões" e novamente em outro texto com o título de "Homens Abandonados":
"Já comentei que os meus amigos da adolescência, agora 50tões, estão sendo abandonados pelas esposas. Não é um caso ou outro. É a maioria !
Todos ficam perdidos com a nova situação de "solteiro". É irônico, pois antes culpavam o casamento pela própria infelicidade. Agora, livres, não sabem o que fazer. Muitos recusam a humilhação de tentar reatar o casamento. Estão certos. Seria uma humilhação desnecessária.
Poucos 50tões admitem a crise. Evitam falar no assunto. E bebem. Bebem muito. É uma forma razoável de esquecer. É temporária. Existe a ressaca. Mas para quem recusa a auto-crítica, é uma alternativa interessante."
Depois disso vieram me contar várias histórias de homens casados que eram humilhados e abandonados pelas esposas. A maioria era de 50 anos. No entanto, descobri que isso vem acontecendo com as outras gerações de casados também, os 40tões, 30tões e até os 20tões.
As mulheres casadas simplesmente perderam a paciência com os maridos! Claro que elas estão certas, nós, homens, tivemos um educação machista e gostaríamos todos de ter uma "Amélia" em casa. Foi o tempo! Atualmente, mesmo não sendo infiel e cumprindo os supostos deveres de um bom marido, o caminho é sempre o mesmo: a rua.
Chega a ser constrangedor para "a categoria", mas é a realidade. Conheço alguns de 50 anos que voltaram a morar com os pais como se ainda tivessem 12 anos... Colocam a culpa nas esposas, que ficaram com os imóveis, os carros e os filhos, além de deixar as pensões para pagar todos os meses. 
Tudo isso pode ser verdade. Entretanto, não é a questão central. Soa mais como uma desculpa de alguém que fracassou no casamento - eu posso falar pois sou divorciado, ou seja, comigo também não deu certo.
A maioria não admite o óbvio: houve muitas transformações no mundo desde 1950 e estamos em...2011. Entendeu? Não? É por isso que o seu casamento não deu certo!
Existe solução? Não. Nós, homens, estamos perdidos e sem futuro em termos de dar continuidade a uma vida de casal. Tenho amigos que casaram duas ou três vezes... e nada! Foram abandonados por todas as esposas.
O que fazer? Eu, por exemplo, aceitei a derrota e aprendi a morar e viver sozinho. Pronto. Assumo as minhas limitações. As mulheres venceram e sempre estiveram certas. O problema, hoje em dia, é que agora elas sabem disso. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DOGMAS

O suicídio é uma escolha pessoal. Existe um contexto social, claro, mas a decisão final é do indivíduo.
Por quê? Eis uma pergunta não poderia ser feito no que diz respeito ao suicídio:
" Ils ne peuvent pas se poser du question 'pourquoi'.
(...) 'Pourquoi? Mais tout simplement parce que je l'ai voulu.' " (Foucault, Dits et Ecrits, p. 778)
Sim, diante da questão "por quê?", a resposta óbvia e correta seria "porque eu quis." Existem várias implicações e quando a vida deixa de ser interessante, a morte é a resposta.
Ninguém sabe o significado da morte, o que ocorre depois da vida. O suicídio, neste sentido, não é a escolha da morte, ele representa sim a recusa da vida.
Não é uma decisão fácil, sobretudo por causa da educação e das mensagens enviadas de modo coerente por instituições como família, igreja, escola, meios de comunicação de massa, entre outras. O discurso único é "viva". Por quê? Em quais condições? Qual seria o sentido de tudo isso? 
As questões não são aceitas e nem problematizadas. "Viva" tornou-se um dogma que não teria sido criado pelo homem. A natureza aparece como um reforço ao dogma: "lutar pela vida é natural".
Dogmas. Invenções. Frases e mensagens criadas pelo próprio homem para dar sentido a algo que não faz sentido e que ele não compreende: a vida.
O homem não entenderá o que veio fazer aqui e nem o que acontecerá após a morte. Inventará hipóteses. Mas, na sua condição humana, nunca saberá. Diante disto, viver é uma escolha tão legítima quanto morrer. Depende de cada um.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

POUPANÇA E CRÉDITO


No país, antigamente, havia uma desconfiança quanto às cadernetas de poupança. O motivo era simples: o cidadão fazia os seus depósitos regularmente e quando chegava o momento de resgatar o dinheiro e ter uma velhice tranqüila, descobria que a empresa havia falido e o dono havia fugido.
Atualmente, as pessoas não confiam nos serviços prestados pelo Estado e optam por pagar por empresas privadas para obter um atendimento diferenciado. Um exemplo: em dezembro de 2011, uma senhora que pagou 17 anos por um plano de saúde, quando precisou do convênio, descobriu que a empresa havia falido. Em 2008, 78 operadoras de convênios médicos foram fechadas.
Muitos, pensando em um futuro melhor, guardam o seu dinheiro na poupança e fazem aplicações financeiras. Sentem-se seguros. Esquecem do Plano Collor, quando houve o confisco do dinheiro de todas as contas correntes.
Outros investem em imóveis, sobretudo as grandes fazendas. Para surpresa de alguns, quando vão visitar as suas propriedades, descobrem várias famílias morando no local. Muitas organizadas em alguns chamados movimentos sociais que contam com o apoio do governo federal. 
As pessoas estão preocupadas? Aparentemente, não. O segredo é o crédito. Neste mês, as montadoras revelaram que os consumidores não estariam conseguindo pagar as prestações. Um cliente disse que a solução seria vender o carro, mas que ele ainda ficaria devendo 70 % das prestações. 
Neste contexto, a maioria está preocupada em comprar os pacotes turísticos para o verão. O pagamento, claro, será dividido em várias parcelas no cartão de crédito.
Novidade? Nenhuma. Ilusão para parecer o que não é com grandes carros zeros financiados e férias em lugares paradisíacos com muitas fotos para mostrar aos amigos.

Crack e Cachaça

Alexandre Garcia disse que o crack substitui a cachaça no país. Será? Acredito que seja mais uma afirmação para chamar a atenção para a gravidade do problema, pois ainda existe uma mentalidade entre os brasileiros de que a droga seria algo errado enquanto as bebidas alcoólicas e os cigarros seriam não apenas legais mas também moralmente aceitos.
De fato, existem 2 milhões de usuários de crack no Brasil. Se fizerem uma pesquisa, provavelmente a maioria é de jovens. No caso do alcoólatra, aquele que bebe cachaça no bar da esquina, o perfil seria diferente: trata-se de uma pessoa mais velha, desiludida, muitas vezes, casada com filhos. Nos dois tipos - crack e cachaça -, o desemprego é a principal característica que existe entre os usuários.
A cocaína sempre causou vários problemas. No entanto, por ser considerada uma droga de ricos, nunca foi tratada como um verdadeiro problema social. Trata-se de uma droga que excita, alivia e vicia rápido. Do ponto de vista do tráfico, o crack foi uma grande invenção: conseguir vender a preços populares - mais baratos que os cigarros legais e as bebidas alcoólicas - uma droga baseada na cocaína e com um potencial de destruição muito maior. Vicia, destrói e mata rapidamente. É isso, aliás, que deve esperar a maioria que usa a droga. A desilusão leva ao processo de autodestruição. Quem não tem coragem de suicidar, dependendo do poder aquisitivo, apela para o crack ou para a cocaína.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

CASAMENTO E AVAREZA

Um rapaz convida uma moça para sair. No bar ou no restaurante, tudo caminha romanticamente bem até o momento em que a conta chega. Na hora, o rapaz pega umacalculadora e divide as despesas meio a meio, exatamente, pagando a sua parte inclusive com moedas.
Constrangedor? A garota defende o rapaz pois ela se considera moderna e independente, o que confirmaria a tese de que todos devem ter direitos e deveres iguais. Sério? Ou, no fundo, ela estaria cansada de ficar sozinha e estaria tão difícil arrumar um namorado nos tempos atuais? Ela ainda se considera feliz na medida em que ele pagou pelo menos a metade da conta, afinal, muitos nem isso fazem.
O sinal de avareza do companheiro é visto como"responsabilidade" e até como alguém com quem ela poderia se casar e ter filhos. De qualquer maneira, depois da relação tornar-se um compromisso sério, se ainda ficasse algo que a incomodasse, ela saberia moldar o rapaz ao seu gosto, fazendo-o, como muitas falam, "comer em suas mãos".
Atualmente, o indivíduo é elogiado quando ele não gasta e quando empresta dinheiro aos outros cobrando juros altos. É o tipo que o sogro conservador e religioso sonha para ser o futuro marido da sua filha.
Tudo é apresentado como o caminho natural das coisas. Trata-se da própria normalidadeNão seguir tal modeloseria um sinal de loucura. Certo? Não.
Primeiro, deve existir um desconfiança quando aparecem termos como "naturalidade" e "normalidade". Todos os conceitos são inventados pelos homens. O uso de tais concepções visa eleger o próprio discurso como único e verdadeiro.
Segundo, deve se fazer uma pergunta básica: sempre foi assim? A resposta é não. Um exemplo. No século XVIII, houve o internamento de um abade:
"Sua principal ocupação era emprestar dinheiro a juros altosenriquecendo-se com as usuras mais odiosas e mais ultrajantes para a honra do sacerdócio e da Igreja. Não foi possível convencê-lo a arrepender-se de seus excessos nem a acreditar que a usura era um pecado. Insiste em ser avarento." (B.N. Fonds Clairambault, 986, Apud, Michel Foucault, História da Loucura, p. 136)
Em outras palavras, um homem da Igreja foi internado por causa da usura! Entretanto, os pecados do século XVIII são considerados virtudes no século XXI. Como explicar isso aosogro conservador e religioso
filha, apesar do medo de ficar sozinha e morando eternamente na casa dos pais, desconfia que aquele tipo de homem está muito longe da figura do cavalheiro e do príncipe encantado que ela sonhava um dia encontrar. Na prática, ela faz um planejamento com metas bem definidas: 1) arrumar um marido; 2) sair da casa dos pais; 3) divórcio, independência, casa própria e, se possível, pensão do ex-esposo. Para o plano dar realmente certo, faltaria apenas combinar com os outros envolvidos... 

Estados Unidos e Europa

Nos Estados Unidos, haverá um corte de 120.000 empregos nos correios até 2020. É comum, sobretudo em multinacionais, a demissão em massa de trabalhadores, o que, na maioria dos casos, leva a valorização das companhias.
Sim, demitir melhora a imagem da empresa no mercado. Entretanto, a pergunta que deve ser feita é: o que acontece com esse trabalhador? Na verdade, não é um caso isolado... são milhares de demitidos! Para onde vão essas pessoas e suas famílias?
Na Europa, também existe uma grave crise econômica. A principal conseqüência é o aumento do desemprego, sobretudo entre os jovens, inclusive os recém-formados. Muitos brasileiros que foram trabalhar na Espanha já voltaram ao país, após falências ou perda de emprego. Alguns perderam anos de investimento econômico no exterior. 
Como a Espanha, Portugal enfrenta manifestações populares contra os programas governamentais de austeridade. Na Grécia, os problemas e os protestos permanecem. Existe ainda a possibilidade da exclusão do país da chamada "Zona do Euro". Cenas comuns nas grandes cidades brasileiras, com indivíduos dormindo em calçadas, agora é realidade em Atenas, onde 25% dos habitantes moram nas ruas, muitos com diplomas universitários.
A pergunta que fica é: pode piorar? 

PAULO R. MEDEIROS

Desconfio bastante daquilo tipo de pessoa que insiste no auto-elogio. Já comentei sobre o Paulo Coelho neste sentido... Outro indivíduo insuportável é o quase jornalista (trabalhou para a revista Som Três), pseudo-ator global, ídolo brega e cantor do RPM... Paulo Ricardo. Quem consegue suportar as suas caras e bocas, o seu jeito convencido de querer parecer sexy? De todas as suas tentativas, a de cantor brega pareceu a mai adequada a sua personalidade, apesar de toda a sua falsidade no ramo, pois se considerava melhor do que aquilo. Não entendo por que os músicos do RPM não montam um grupo com outro nome e vocalista e seguem fazendo shows em lugares menores, mas pelo menos tocando uma música que signifique algum prazer para eles. Afinal, ser coadjuvante do Paulo Ricardo no palco deve ser o pior pesadelo que um músico profissional pode imaginar.

O DIFERENTE E OS OUTROS

Tentam imputar o sentimento de culpa naquele que ousa ser "diferente". São ingênuos que se julgam poderosos. 
O "diferente", em sua liberdade, incomoda os outros. Eles não percebem uma ausência de culpa no "diferente". Eles não entendem que a culpa está neles e será a responsável pelos males que sofrerão, como insôniafalta de apetite,irritabilidade e desinteresse sexual.
Na superficialidadeimediatismo e imbecilidade, os outros não compreendem o "diferente" e logo o rotulam delouco. Dizer que o alguém é louco, na sociedade moderna, significa associar essa pessoa a termos como "indigência,preguiçavícios (...) miséria (...) desemprego (...)decadência social." (Foucault, História da Loucura, p. 487)
Não suportar a liberdade do "diferente" leva aointernamento do louco. A prisão do "diferente" é feita como um favor ao agora tratado como doente. A prisão alivia o incômodo pois seria associada ao favor. No entanto, ela nãoresolve infelicidade dos outros. Algo ainda incomoda.
Após o internamento, a próxima forma de exclusão do "diferente" seria a destruição do seu ser com todas as formas de censurahumilhação repressão. Assim como a derrota do torturador é a morte da vítima, a destruição do "diferente" deve ser invisível e não real - como no caso de uma "morte material".
A morte real é o cheque mate do "diferente". Com ela, os outros percebem a sua falta e a sua importância. Os outros finalmente entendem que os erros estavam neles, dentro da sua patética condição humana. O que os outros recusavam ver, com a morte do "diferente", torna-se claro. Não há como fugir. O "diferente" não existe mais para poder carregar a culpa dos outros.
A morte do "diferente" destrói aquele ridículo castelo de cartas que todos os outros construíram e fingiam ser algo sólido, real e verdadeiro.  De uma hora para outra, os outros encontram, finalmente, o espelho e o que percebem naquela imagem é um conjunto do que existe de pior no ser humano:invejabrutalidaderancorinfelicidadeviolência e tantos outros sentimentos negativos
A saída de cena do "diferente" representa, ao mesmo tempo, a chegada do espelho e com ele vem a queda das máscarasdos outrosespelho é "interno", não tem como destruí-lo. Ele é eterno, estará sempre com os outros. Ele pode ser definido em um única palavra: culpa

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

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Curriculum Vitae

O que fazer com o velho?
Finja que foi acidente...
Parece piada, mas, afinal, o que é significa ser velho?
Um garoto de 14 anos, para ofender uma garota na Internet, disse que o Tumblr era para jovens e que ela deveria sair dali, pois ela era "velha e perdedora". Detalhe: a garota tinha 20 anos!
Os líderes capitalistas ainda utilizam parâmetros do século XIX - uma época em que o trabalho era manual e os operários eram os principais agentes econômicos - para definir o que seria velho. O resultado é que o indivíduo com 40 anos já não serve mais para o mercado de trabalho.
O problema que é o século é outro - XXI - e as pessoas vivem mais. Isso cria outro problema na área da Previdência Social. No Brasil, por exemplo, não se aposenta antes dos 60 anos. É criado, então, um enorme "buraco" entre os 40 e os 60 anos: quem está nesta faixa etária está velho demais para o mercado e novo demais para aposentar!
Neste contexto, a questão fica mais complicada após os 50 anos:
"No plano histórico, a seleção dos empregáveis (...) na área de planos sociais ou dos cortes de empregados atingiu de cara, os assalariados de mais de 50 anos. Fora cinqüentão
(...) O resultado é que hoje [2005] na França apenas um terço dos homens da faixa etária de 55-64 anos trabalha: um recorde mundial! " (Corinne Maier, p. 64)
E o resto, faz o quê? No Brasil, Miriam Leitão destacou, em 2010, que as empresas não aceitam currículos de pessoas com mais de 35 anos e, ao mesmo tempo, elas não podem aposentar antes dos 60. Isso significa que além de não ter um ocupação, elas não possuem qualquer forma de remuneração. 
Como foram descartadas pelo mercado, a meta destas pessoas seria a aposentadoria. Quem chega lá encontra mais decepção: os salários são baixos e são muitas as humilhações. O velho é tratado pela administração pública como algo negativo. São desconsiderados todos os impostos e as taxas de aposentadoria pagas por ele. Fica parecendo que o Estado estaria fazendo favores a esse senhor que se recusa a morrer...
A realidade brasileira é essa. O mais grave é que o desrespeito ao velho começa bem antes do próprio indivíduo se considerar velho ou ser definido como tal pelas instituições da sociedade.

PESQUISAS CIENTÍFICAS E TEXTOS OPINATIVOS

Mais de 1.000 pessoas possuem os meus livros impressos da Rápida Editora. 
Eu não sei a quantidade de livros vendidos pela Cabral. 
Existem inúmeras "xeroxes" dos livros - fato que nunca me incomodou.
Os livros virtuais - aqueles que estão disponíveis na Internet - estão no "website":
http://profelipego.weebly.com
É importante esclarecer que os meus textos científicos encontram-se nos meus livros impressos. 
Tenho duas teses aprovadas - Mestrado na UFF/RJ em 1992 e Doutorado na PUC/SP em 1999. 
Nos meus blogs e nos meus livros virtuais, os leitores encontrarão textos opinativos. 

IMAGEM, NORMAL & BIZARRO

O Datena, em seu programa, disse que um homem que contrata um travesti deseja fazer o papel do passivo. Como ele sabe? Deve ter lido algo em livros. Provavelmente.
O jogador Ronaldo, o "Fenômeno", foi preso, uma vez, com três transexuais no Rio de Janeiro. Foi uma confusão, claro.
No livro (e no filme) da Bruna Surfistinha, aparece a idéia de que existe um tipo de cliente que contrata uma prostituta para fazer o papel de passivo. Nesse caso, a mulher usaria um cinto de "sex shop". Em Tumblrs de SM, são divulgadas fotos de homens - "escravos" - que se submetem sexualmente ao poder da mulher - a "Mestre". Aqui, ela também usa o cinto que aparece no filme da Bruna Surfistinha.
Em depoimento, esses homens dizem que não são homossexuais, mesmo fazendo o papel de passivo em relações sexuais com um travesti ou com uma prostituta ou mesmo numa relação SM.
O Datena, quando fez o seu comentário, analisava uma ocorrência policial que mostrava a queixa de um travesti contra um cliente que era casado e teria filhos. Ele, o cliente, teria um apartamento só para os seus encontros "fora do casamento". Ele fazia a separação entre o lugar da normalidade - a casa com a esposa e os filhos - e o lugar do sexo - o apartamento de encontros. 
Vários homens já tiveram esse comportamento, que durante muito tempo era aceito como "normal" pela sociedade, como se eles tivessem necessidades sexuais especiais que não poderiam ser realizadas com suas esposas. A diferença desses homens com o caso da reportagem, claro, era que o "normal" seria ter uma amante mulher e o "bizarro" - aliás é disto que o programa trata - seria contratar um travesti.
Quanto ao Ronaldo, o "Fenômeno", atualmente ele é "poupado" pelos jornalistas que evitam retomar o assunto daquela noite no Rio de Janeiro. Todos tentam construir uma imagem de um heterossexual vitorioso para ele, sobretudo agora com os preparativos da copa no Brasil. Imagem. É principalmente com ela que as pessoas estão preocupadas. Se existe amante, se ela é mulher ou travesti, pouco importaria, desde que não saia algo nas manchetes dos jornais. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Homossexualidade

Não parece lógico desconsiderar os aspectos biológicos no desenvolvimento de um indivíduo. Entretanto, em 2006, em entrevista à revista Época, o sociólogo John Gagner afirmou:
"Nãoconflito entre o que está dentro do indivíduo e o que a cultura diz, mas sim um conflito dentro da cultura. Entre o que as pessoas gostariam de fazer e o que é considerado apropriado. (...) Existem evidências de que a homossexualidade é construída socialmente. É uma capacidade aprendida, não algo que se nasce."
Polêmico? Claro. Errado? Provavelmente. Em primeiro lugar, a sua teoria entra em contradição com a perspectiva de Freud, aceita pela maioria, de que existiria um conflito no próprio ser humano e mesmo na sua relação com a sociedade.
Em segundo lugar, Gagner admite que existe uma diferença "entre o que as pessoas gostariam de fazer e o que é considerado apropriado." Ora,  o que seria isso? Há um conflito entre o que a pessoa realmente deseja e aquilo que ela faz... na medida em que os seus atos deveriam ser aprovados pelos outros membros da sociedade.
Em outras palavras, existiria uma contradição entre o desejo individual e o interesse (dito) social. Freud era claro neste sentido, pois enquanto o desenvolvimento individual seria baseado num princípio egoísta, a criação da civilização partiria de um esforço altruísta.
A análise de John Gagner torna-se mais problemática quando ele cita a questão da homossexualidade - "é uma capacidade aprendida, não algo que se nasce." Esse discurso conservador deve ser o princípio utilizado por aqueles religiosos que prometem "curar" o homossexualismo (dos outros).
Na entrevista, para justificar o por que não seria tão famoso como Michel Foucault, Gagner não discutiu a qualidade das obras de um e do outro, mas saiu com essa:
"Ele é francês, e ainda por cima filósofo, o que é muito chique. Eu sou só um pobre sociólogo americano!"
Trata-se de uma afirmação típica de um pesquisador que trabalha com perspectivas tão equivocadas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O PODER DE SEDUÇÃO DA MULHER

Na Antigüidade, a mulher, como objeto de desejo, era vista com desconfiança:
"Engano possível sobre o  corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220) 
Com o tempo, os truques femininos ficaram mais sofisticados. O silicone, por exemplo, nos dias atuais, sempre gera a dúvida no homem diante de um belo decote. Além das cirurgias plásticas, a mulher ainda conta com vários recursos de beleza, o que a faz ficar horas diante do espelho antes de se considerar pronta para aparecer em público. O homem não quer saber do "processo" e se interessa somente pelo "produto final". Isso o torna uma "presa fácil" ao jogo de sedução da mulher.
Desde pequena, a mulher é educada para dizer "não" e dificultar as coisas na relação amorosa. Tudo deve ser sutil. Esse mistério excita o homem, o transforma num objeto, exatamente no momento que ele acredita possuir maior controle. Enquanto ele é instinto na relação sexual - precisa ser, é ativo, é transparente, é visível com a sua ereção -, ela pode ser dissimulada, fingir, parecer uma coisa e ser outra.
O que a mulher precisa? Poder. Controle. Para isso, necessita, antes, ser desejada e para realizar esse objetivo, ela conta com aqueles recursos. Ela vem para um encontro como um mágico caminha para o espetáculo, ou seja, ela possui muitos instrumentos para desviar o olhar do outro enquanto faz o que realmente deseja. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

EFEITO BILHAR

Já comentei que, num primeiro contato, os cães sentem mais simpatia por mim do que seus donos. Gosto de animais e eles percebem isso. 
É tudo natureza, diriam alguns. Sim, mas um indivíduo representa um conjunto de relações: com ele mesmo (id, ego e supergo associados à sua predisposição genética), com os outros (na sociedade) e com o seu ambiente (a natureza). Essas relações são complexas e contraditórias em cada pessoa.
Um indivíduo (um conjunto de relações complexas e contraditórias) se relaciona com outro indivíduo (outro conjunto...), o resultado, claro, é o conflito de interesses. Apesar de cada um agir pelo princípio do egoísmo, na sua relação com os outros, existe um esforço para lidar também com o altruísmo, pois, sem isso, não existira a sociedade. Em outras palavras, a pessoa é civilizada quando ela domina o seu egoísmo (nega o seu desejo) em respeito ao outro. A negação de algo "natural" (individual) em nome de algo "social" (coletivo) gera, de maneira consciente ou não, uma frustração no indivíduo. Essa frustração pode gerar doenças.
Na sociedade, existe uma espécie de "efeito bilhar": os contatos entre os indivíduos (conjuntos de relações complexas e contraditórias) geram resultados imprevisíveis, que podem ser bons para uns e ruins para os outros, dependendo do momento, na medida em que são relações dinâmicas, que mudam o tempo todo. As pessoas que não aceitam o caos desses resultados, preferem acreditar em "sorte" ou "destino".
Todos os conflitos e resultados, neste contexto, são criados pelos próprios indivíduos, ou seja, não tem nada a ver com existência ou não de Deus. Trata-se da velha citação de Sartre:
"(...) même se Dieu existait, ça ne changerait rien. (...) il faul que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même." 
Os indivíduos não sabem lidar com o imprevisível "efeito bilhar" e apelam para a "sorte" ou o "destino", ou ainda, cientificamente, tentam entender algo maior, fora do seu ambiente (do seu planeta). A hipótese do "big bang" é a mais aceita na compreensão da história e do funcionamento do universo - um fato constatado recentemente, o distanciamento contínuo entre as galáxias, poderia ajudar na comprovação de tal tese. 
Na verdade, do ponto de vista da ciência, o homem poderia ser "localizado" entre dois fatos (em extremos opostos): o das galáxias e o da predisposição genética. Esses fatos, porém, não são relevantes no "efeito bilhar", afinal, essa bagunça que está aí é responsabilidade dos indivíduos mesmo...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sadomasoquismo, Vingança, Suicídio & Rock & Roll

O sadomasoquismo pode representar um passo antes do suicídio. Foi o que aconteceu com as histórias do casal  Michel Hutchence - suicidou num quarto de hotel na Austrália - e Paula Yates - morreu de overdose na Inglaterra.
Havia, além do S&M, as drogas, os anti-depressivos (encontrados no quarto do hotel), a vingança de um ex-marido Bob Geldof e um estilo de vida que não levaria em consideração as conseqüências dos atos.
De fato, Hutchence, vocalista do INXS, vivia plenamente o lema de "Sexo, Drogas & Rock & Roll". Era considerado um símbolo sexual e entre as suas conquistas estavam a cantora Kylie Monogue e a supermodelo Helena Christensen. Dinheiro, claro, não era problema:
"Yeah, já passei da fase de 'precisar fazer dinheiro'. É um bom lugar de se estar. Isso serve como motivo para todo tipo de loucura agora. Toda manhã, eu acordo com uma diferente razão." (Vox, November 1995, p. 38)
Ainda na entrevista para a revista Vox, quando questionado sobre o seu instinto de sobrevivência, disse:
"Até agora, tudo bem. Eu não quero parecer um 'cliché'. (...) Fico surpreso ao perceber que sobrevivi a tanta coisa...e os meus amigos também. (...) Essa é a indústria. Bem vindo a festa. Jimi Hendrix está lá em cima. Mas passar por isso é fantástico." (Vox, November 1995, p. 36)
Paula Yates, a sua namorada na época - ela havia abandonado o marido Bob Geldof para ficar com o vocalista do INXS - seguia  o seu estilo "Sexo, Drogas & Rock & Roll":
"Você acha que eu realmente me preocupo? Sinto-me com sorte por fazer parte de uma geração que não esquenta a cabeça aos 40 anos. Para ser honesta, é uma milagre eu ter passado por tudo isso."*
O estilo do casal trazia problemas para Yates, que era acusada de não ser uma boa mãe, na medida em que, quando estava com Hutchence, deixava em lugares de fácil acesso (para as suas filhas) coisas como drogas e material pornográfico produzido pelo casal, inclusive com acessórios de S&M:
"Uma amiga e a babá ligaram para o setor de ajuda com drogas e eles disseram que a substância poderia ser ópio e numa busca posterior na casa foram encontradas substâncias que poderiam ser usadas para fumar heroína. Mais tarde, descobriram fotos - aparentemente elas estavam em locais que as crianças teriam acesso - de Yates e Hutchence em roupas de latex, em várias posições sexuais, usando vários acessórios de S&M."**
Bob Geldof não aceitaria ver as suas filhas num ambiente desses e fez de tudo para infernizar a vida do casal - até culminar no suicídio de Hutchence e, posteriormente, na morte de Yates. Em 1997, na época do suicídio, Celso Masson, num artigo para a Veja, escreveu:
"Tanto que, ao revistar o quarto de hotel onde o cantor morreu, a polícia encontrou um frasco do antidepressivo Prozac. Há pelo menos uma razão para essa depressão. Paula Yates enfrentava uma batalha judicial com seu ex-marido, o também cantor de rock Bob Geldof, pela custódia dos três filhos que tiveram juntos. Geldof sabia que não tinha muita chance de conseguir a custódia mas fazia isso para se vingar, já que havia sido vítima de adultério. Essa situação também deixou Hutchence furioso. Horas antes do suicídio, ele chegou a telefonar para o cantor irlandês que lhe bateu o telefone na cara. Ao saber da morte do parceiro, Paula, que se encontrava em Londres, não hesitou em culpar Geldof."***
Geldof foi cantor de uma banda de rock sem expressão chamada Boomtown Rats. Perder a esposa para outro cantor e de um grupo famoso de rock, não deve ter sido algo agradável. Em sua vingança, porém, Geldof contava com a imagem de "santo" que havia criado para si com a realização do evento Live Aid - que visava obter ajuda financeira para a África. De fato, foi um escândalo na época.
Hutchence e Yates tiveram uma filha, que recebeu o nome de Tiger Lily. Ironicamente, após a morte dos pais, a menina passou a ser criada com as irmãs, sob a responsabilidade de Bob Geldof. Acolher Tiger Lily talvez tenha sido um dos poucos atos nobres do vocalista do Boomtown Rats. Aliás, mais de dez anos depois de sua overdose, as filhas de Paula Yates ainda convivem com o fantasma dessa história. Por isso mesmo, apesar de ter realizado o seu objetivo imediato - destruir a felicidade do casal Hutchence e Yates -, Geldof não pode ser considerado um vencedor. Ao contrário, lidar com as filhas o faz lembrar diariamente dos (seus) erros cometidos no passado. Provavelmente, Paula Yates não tinha essa intenção, mas isso tornou-se a sua vingança.

*Libby Brooks, Paula Yates, Sep 18 2000, http://www.guardian.co.uk/news/2000/sep/18/guardianobituaries.libbybrooks
**The passions of Paula Yates, Independent, Nov 18 2007, http://www.independent.ie/lifestyle/independent-woman/celebrity-news-gossip/the-passions-of-paula-yates-1222585.html
***Celso Masson. Instinto de morte. Veja. 03/12/1997. http://veja.abril.com.br/031297/p_131.html

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Elle

... houve uma época que, ingenuamente, eu tentava entender as mulheres ... cheguei a ler revistas como "Nova" ("Cosmopolitan") e "Elle"... no caso dessa última, sempre gostei das fotos também... existe um artigo interessante numa edição inglesa de agosto de 1993... basicamente, são apresentadas seis maneiras de evitar a depressão: "1) conversar com alguém, não manter o sentimento só com você; 2) tentar manter-se ocupado; 3) ter uma alimentação saudável; 4) o álcool deprime e deve ser evitado; 5) se tiver problemas para dormir, ligue o rádio ou a televisão e 6) lembre-se que, no momento, as coisas não fazem sentido por causa da depressão, logo passa e o mundo será um lugar mais feliz." (Elle, August 1993. p. 142)
...depois que li esse artigo, nunca mais dormi sem algum barulho... seja ouvindo música ou filme... cada época, tenho uma obsessão com um filme específico... o ouço toda noite... decoro as falas... houve uma fase que era "Sin City" ("Cidade do Pecado"), depois vieram  filmes como Clube da Luta, Ligações Perigosas, Matrix, O Silêncio dos Inocentes, Dragão Vermelho, Laranja Mecânica, Apocalipse Now, Poderoso Chefão, Código da Vinci... e o último, claro, é Encontros e Desencontros... mas, nesse caso, gosto de ver (e não só ouvir), especialmente as cenas do bar e aquele silêncio e tédio que seria viver uma semana em um hotel...

sábado, 5 de novembro de 2011

E O FUTURO?

Adoro o título do livro de Louis Althusser: "O futuro dura muito tempo" ("L'avenir dure longtemps"). Num dos meus livros publicados na Internet*, fiz a seguinte observação sobre esse livro:
"Avaliar uma obra a partir da vida cotidiana do autor não seria um caminho adequado. Isso não significa separar autor e obra, apenas quer dizer que devemos ter cuidado em associar automaticamente as duas coisas, ou pior, utilizar uma contra a outra. Um exemplo disso foi o caso de Louis Althusser. Diferente de Michel Foucault, que rejeitou qualquer possibilidade de publicação póstuma - mesmo tendo o quarto volume da "História da Sexualidade" pronto e que até hoje permanece inédito -, o que Althusser deixou em suas gavetas, análises, desabafos e confissões - feitos em clínica psiquiátrica após o marxista ter assassinado a esposa e julgado incapaz de ser responsável por seus atos - veio a público na forma do livro 'O futuro dura muito tempo'. Querer avaliar o pensamento de Althusser a partir daí, seria uma injustiça com o filósofo."
De qualquer maneira, acho o título do livro fantástico na medida em que o futuro incomoda todo indivíduo. O futuro, claro, não existe, é apenas um conceito inventado pelo homem para lidar com os problemas do seu cotidiano.
O que efetivamente incomoda qualquer um é a certeza da morte. Ela é o futuro. "Demora muito tempo"? Talvez. Até nisto, o indivíduo coloca altas doses de ansiedade - não é para menos, afinal, ninguém sabe o seu significado real. Alguns evitam pensar nessa possibilidade e outros acham que a morte "demora muito" para chegar. 
Faço parte do segundo grupo. Entretanto, lido com a ansiedade usando a própria certeza: ela demora, mas ela chega.
Imagino se os jovens teriam problemas com isso. Vi uma reportagem que dizia que os dois principais problemas no primeiro emprego estariam relacionados a pressa (ansiedade) e a falta de respeito com a hierarquia. Em suma, os jovens querem tudo "agora" e não respeitam as autoridades. Isso seria conseqüência, aparentemente, da educação que recebem (na família, na escola e em outros "aparelhos"). Seria assim também diante da morte? É difícil responder. Se o foco é o "agora", o que poderia acontecer no futuro não deve ser algo importante para eles. Provavelmente.
(*) Http://profelipe.weebly.com/lenda.html 

"Encontros e Desencontros"


...o que realmente me atrai numa garota é o senso de humor... a inteligência... penso na personagem Charlotte do filme "Lost In Translation" ["Encontros e Desencontros"]... acredito que me identifico com o personagem Bob, que vive uma crise de meia-idade, fuma charutos e bebe whisky... a.d.o.r.o. esse filme... os silêncios... viver alguns dias num hotel numa cidade estrangeira... lembro-me quando passei uma semana em Paris, no Meridien... sempre que chove e fico vendo, de algum prédio, as gotas da chuva no vidro, recordo daquele hotel, daquela semana... algo que tem um pouco a ver com "Lost In Translation"... o final do filme com a música "Just Like Honey" do Jesus and Mary Chain é perfeito!!! Vi dois shows da banda no Canecão no Rio, o grupo estava no auge... inesquecível...  
"Listen to the girl... As she takes on half the world... Moving up and so alive... In her honey dripping... Beehive... Beehive... It's good, so good... Walking back to you... Is the hardest thing that... I can do... That I can do for you...for you... I'll be a plastic toy...for you... (...) Just like honey..."