quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

INVISÍVEL

Coloquei uma frase hoje - 07/02/2013 - no Facebook: "existo, atualmente, só nas noites, nas sombras ... quase invisível ... "

Posteriormente, no perfil da Lorena Ferreira, encontrei um artigo interessante sobre uma pesquisa de mestrado que defendia um conceito de invisibilidade pública:

"uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa." *

A tese é verdadeira, claro. Contudo, vejo uma outra perspectiva diante de tal afirmação.

Trabalhei por muitos anos em dois centros universitários. Estou, desde 2008, no que chamo de "sabático". Em outras palavras, não trabalho mais, não estou associado a empresa alguma. Não apareço "oficialmente" na divisão social do trabalho. No entanto, tenho duas teses aprovadas, publiquei livros e leio sobre diversos temas. O que eu fiz, em 2008, foi uma opção.

Entretanto, as pessoas, em sua maioria, não conseguem entender como eu vivo sem estar ligado a alguma instituição ou sem ter compromissos com locais e horários definidos.

A primeira questão que surge é quanto ao dinheiro. As pessoas parecem acreditar que realmente trabalham em excesso para sobreviver, o que não é verdade. O excesso está relacionado ao carro novo, a televisão de tela fina ou, mais precisamente, a imagem que elas passam aos vizinhos, familiares e amigos. Elas compram coisas que não precisam para impressionar os outros. Trata-se dos jogos da ideologia e da alienação, ambos associados à divisão social do trabalho.

Em segundo lugar, parece que a minha situação incomoda certas pessoas no que diz respeito ao ócio. Como você consegue viver sem ter um objetivo, um plano? Ou seja, como alguém poderia viver sem "focar" no futuro? Essa é outra velha estratégia de dominação. É preciso sofrer muito no presente - trabalhar em excesso, por exemplo - para encontrar uma recompensa num lugar que não existe - o futuro. É uma boa forma de não pensar em si mesmo e nem nas suas reais condições de existência.

Existem outras questões, mas essas são as duas perguntas que mais ouço. Evito falar muito sobre o tema pois percebo que a maioria está mais incomodada do que interessada em saber sobre a complexidade da situação.

Voltando ao trabalho de mestrado citado no início, existe uma diferença entre ser tratado como "invisível" e escolher, algumas vezes, ficar "invisível".

Mesmo não estando empregado, eu tenho uma identidade na divisão social do trabalho: eu sou professor com doutorado pela PUC de São Paulo. Essa identidade "avisa" aos outros que a minha escolha pode ter sido feita por qualquer motivo exceto ingenuidade.

Em suma, fico "invisível" quando me interessa e quando quero "aparecer" as pessoas ficam diante de um ser humano complexo, que pensa, que percebe além da aparência.

Essa "visibilidade" repentina causa ironicamente medo em certas pessoas como se elas imaginassem que eu percebesse, na hora, o que estaria por trás das máscaras e jogos que elas fazem para sustentar uma ilusão. Sim, talvez aqui elas tenham razão.


http://www.ip.usp.br/imprensa/midia/2008/orq_cuiaba_7-12-2008.htm

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