domingo, 15 de setembro de 2013

O HOMEM E O SELVAGEM

Priscilla Roth faz uma afirmação polêmica no seu livro "O Superego"  (p. 20-21):

"Muitas são as recompensas da vida civilizada; acima de tudo, a vida é mais segura numa sociedade civilizada."

Trata-se, de fato, de um erro na medida em que tal segurança não existe. O civilizado reprime os seus desejos - instintos naturais para atender as expectativas dos outros (família, amigos, igreja, escola, mercado, entre outros). Para tanto, ele ocupa o seu cotidiano com bastante trabalho para acumular bens materiais e, devido a ansiedade e o estresse desse processo, pode morrer com um ataque cardíaco.
Não existe, na condição humana, algo como segurança (ou estabilidade). O que existe é morte e os bens materiais em nada ajudam nesse momento.
Quanto ao estilo de vida do civilizado, Freud fez uma observação interessante :

"O selvagem, assim como o animal, é cruel, mas ele não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade pelas restrições impostas a ele. É essa vingança que dá vida ao reformista profissional e as pessoas intrometidas. O selvagem pode cortar a sua cabeça, comê-lo, torturá-lo, mas ele vai poupá-lo das pequenas provocações que (...) tornam a vida em uma comunidade civilizada quase intolerável." (A arte da entrevista, p. 95)

Mais uma vez, Freud estava certo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Jung & Heidegger

É interessante a relação entre Carl Jung e Martin Heidegger com o nazismo. Jung teve uma paciente e amante judia. Heidegger teve um caso com uma aluna judia.
A intenção, aqui, não é tratar das relações entre os arianos e as judias. O que chama a atenção é, por um lado, a quebra de uma hipócrita norma social de monogamia no casamento - ambas são amantes - e, de outro, o rompimento de um "protocolo profissional" - médico/ psicanalista e paciente (Jung) e professor/aluna (Heidegger).
O controle do outro, provavelmente, estaria por trás da criação de tais convenções sociais. Elas são produzidas e mudam de acordo com as épocas históricas e com as sociedades.
Num modo de produção como o capitalismo, no qual o elogio ao trabalho tornou-se algo fundamental, seria razoável esperar condenações morais (e até legais) quanto ao rompimento destas normas.
O objetivo, neste sistema, seria produzir ao máximo - o "aceitável seriam oito horas por dia e seis dias por semana em um ambiente com outras pessoas (como uma fábrica ou uma loja).
Ainda assim, em tal ambiente, com homens e mulheres passando tanto tempo juntos,  espera-se que não exista qualquer tipo de envolvimento amoroso.
Em outras palavras, não bastaria a tortura do trabalho. Tentar controlar a libido e proibir as relações sexuais seriam formas de controlar o outro, roubando o seu tempo, o seu espaço, a sua mente (imaginação) e o seu prazer sexual (mesmo fora do trabalho)