quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Emo Girls


Ouvi uma música ao vivo do Rites of Spring. Parecia o som dos Sisters of Mercy no início de carreira. Talvez não seja por acaso. O primeiro grupo seria citado como um dos expoentes da Emo Music e o segundo do Gothic Rock.
Bandas Emo nunca fizeram sucesso como os grupos citados como Góticos (se assumem se são Emo ou Góticos, claro, isso é outro problema). Os dois estilos são pós-punk.
Acredito que o que tenha marcado mesmo o movimento Emo tenha sido o seu estilo:
“Além da música, ‘emo’ é muitas vezes usado de forma mais geral para significar uma relação particular entre fãs e artistas, e descrever aspectos relacionados com a moda, cultura e comportamento. Emo tem sido associado a um estereótipo que inclui particularmente o emocional, o sensível, o tímido, o introvertido (...). Ele também tem sido associado a estereótipos como depressão, automutilação e suicídio.”*
De fato, o estilo Emo enquadra-se no niilismo das últimas décadas. As garotas, especialmente, tentaram criar uma identidade adequada aos novos tempos. Em 2011, escrevi sobre as Suicide Girls e as Gothic Girls:
“[As Suidade Girls] representam mais do que um bando de ninfetas tatuadas que posam nuas. Basta seguir qualquer uma delas no Tumblr para perceber que existe algo mais. Elas rompem com o tal padrão de beleza e, até agora, evitam impor uma única forma de se apresentar. Pode ser magra, gorda, usar óculos, ser hetero ou homossexual ou os dois… Adoro os cabelos coloridos: rosa, azul, verde… (...) Já disse que associar as Suicide Girls à necrofilia é uma bobagem. Existe uma relação com o instinto da morte, mas Freud já dizia que isso acontece com todo indivíduo. Elas se aproximam das Gothic Girls, que também me atraem muito, com suas roupas negras, maquiagem pesada, um estilo de música específico e a fascinação pela morte e por cemitérios.”**
Se for para comparar, as Emo Girls aproximam-se mais das Góticas, com o seu pessimismo e maquiagem pesada, além das características associadas à “depressão, à automutilação e ao suicídio.”
Falar de visual ou estilo, é falar sobretudo de mulher (Emo, Gótica ou Suicide Girl). Em outras palavras, quando o assunto é moda, a figura feminina ganhe destaque, afinal, na sociedade moderna, a sua aparência serve principalmente para valorizá-la (ou não). Trata-se de uma ideologia, claro, mas nem o feminismo conseguiu alterar essa visão hegemônica que se criou como forma de identificação da mulher.

(*) https://en.wikipedia.org/wiki/Emo
(**) http://smclub.blog.com/2011/10/24/suicide-girls-gothic-girls/

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Autoridades

Os mais jovens tendem a superestimar as imagens das autoridades – como pais, padres, juízes e professores (no Brasil, as imagens dos políticos e dos policiais estão desgastadas). A autoridade está associada à figura do pai.
A intenção aqui não seria discutir se isso seria adequado ou não (para, por exemplo, manter a ordem na sociedade).
A questão é que superestimar a imagem de alguém aproxima-se bastante do processo de idealização. Trata-se de fantasiar algo (a perfeição) que pode não ser uma característica do ser humano.
Quando uma autoridade erra, claro, isso gera uma indignação (quase uma revolta) no indivíduo comum que respaldava aquela imagem. A existência de padres pedófilos serve para questionar a autoridade representada pela igreja católica.
A produção do mito é feita tanto pelas pessoas comuns como pelas autoridades. É um jogo de mão dupla no qual existe pouco espaço para vítimas.
Do ponto de vista das autoridades, pode ser interessante não se levar tão a sério. Não cabe necessariamente romper com os benefícios dos cargos ou das imagens que representam. Não existe ingenuidade. É importante (para si... pelo menos) não acreditar em perfeição nem que representariam uma espécie de “super-humanos” num mundo cheio de pessoas fragilizadas.

© profelipe ™ 28-12-2015

Fantasia & Normalidade

Alguns indivíduos rotulam os outros para construir a fantasia de que estariam seguros. Enxergam ordem naquilo que, de fato, é caótico.
Acreditam em evolução. Acreditam que podem, com um bom planejamento, prever o que poderá acontecer.
Acreditam em causas e efeitos. Acreditam que são os únicos responsáveis sobre os fatos (chamam de consequências) que acontecem nas suas vidas.
São narcisistas e acham que tudo ocorre em função de sua existência.
A fantasia não impede o desastre emocional. No fundo, sofrem bastante. Socialmente, interpretam um personagem (o tal rótulo) e acreditam que podem enganar os outros.
Tentam rotular, são rotulados e acreditam nos rótulos. Criam um “círculo destrutivo” para atacar os outros e a si mesmo. Acreditam que o nome disto seria “normalidade”.

 © profelipe ™ 28-12-2015

sábado, 26 de dezembro de 2015

Considerações sobre Wilson Simonal



A alienação, de alguma maneira, é uma escolha. A pessoa não quer ver (a realidade). A pessoa não quer saber (do próprio passado). A pessoa evita problematizar o que virá (no futuro). Tudo isso tem um preço.
Um exemplo simples pode ser visto no documentário sobre o Wilson Simonal. No auge da sua carreira, durante a ditadura militar, o cantor identificava-se com “os homens” e criticava os “da canhota”. Cometeu um erro ao pedir ajuda aos agentes do DOPS para “dar uma dura” no seu contador que o estava processando por questões trabalhistas. No final, após várias confusões, o Simonal saiu do episódio como “delator que ajudaria a ditadura militar”. Verdade ou não, a marca pegou e a sua carreira acabou, afinal, ninguém queria saber de um “delator”.
O episódio do Simonal serve para mostrar que:
(1) você escolhe (direta ou esquerda);
(2) a sua escolha deve ser contextualizada
. estar com a direita significaria apoiar uma ditadura, o que, de certa forma, iria contra a postura dos artistas que sempre precisaram de liberdade para trabalhar,
. ou seja, Simonal, politicamente, estaria “com o sistema”, com o status quo, mas estaria contra a sua própria categoria – para não dizer contra si mesmo;
(3) estar no auge da carreira pode facilitar a identificação com a direita (ou com quem está no poder) e fazer o indivíduo “esquecer” a sua origem humilde e as discriminações que sofreu por ser negro;
isso, porém, não serve para desconsiderar o fato de que houve uma escolha e, com ela, poderiam vir consequências.
Contudo, não deve ser celebrada a reviravolta que ocorreu na vida do cantor: do sucesso ao processo de depressão e ao alcoolismo e, depois, o esquecimento. Ninguém merece sofrer tanto. Entretanto, o seu caso deve servir como um aprendizado principalmente para aquelas pessoas que acreditam que estão no auge e que poderiam ser consideradas intocáveis. O mundo real não funciona assim. Humanos sofrem consequências por seus atos e por circunstâncias da vida. Não adianta reclamar. Não adianta dizer que não sabia.

© profelipe ™ 26-12-2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Civilidade e Manipulação

Em um episódio de Seinfeld, a personagem Elaine comentou que deixou de cumprimentar um vizinho simplesmente porque não estava a fim no momento.
Algo assim, para a maioria, seria visto com desconfiança, principalmente se a pessoa estivesse no lugar do tal “vizinho da Elaine”.
Em outras palavras, ver um conhecido pressupõe (pelo menos) um “oi” de civilidade. Se isso não acontece, parece que existe algo errado.
Ninguém nunca compreenderia o ponto de vista da personagem Elaine. Para a maioria, provavelmente, haveria uma segunda intenção na recusa do “oi”.
As perguntas apareceriam imediatamente: “estou mal vestido?”; “fui ‘esnobado’?”; “alguém falou mal de mim?”; “tal pessoa teria vergonha de me reconhecer em público?” e assim por diante.
Poucos pensariam: aquela pessoa deve estar cansada ou não me viu ou está com pressa ou simplesmente está com tédio e não deseja cumprimentar ou conversar com os outros.
Um ato tão simples (cumprimentar ou não um conhecido) pode tornar-se uma grande dor de cabeça e motivo de polêmica (e de briga). Isso acontece porque a relação (entres os civilizados) não é clara. Existem muitos sinais e códigos, o que gera insegurança quanto ao verdadeiro sentimento do outro.
A desconfiança pode ser justificada principalmente depois que o indivíduo lê livros como “O Príncipe” (Maquiavel) e “Kama Sutra” (Vātsyāyana). Em um antigo texto, comentei:
“Assim como Maquiavel é direto em seus 'princípios' para o Príncipe - 'e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar' (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.”*
O que escrevi em 2010 ainda vale para 2015.

© profelipe ™ 17-12-2015

(*) Livros. In.: Lenda Urbana. http://profelipe.weebly.com/lenda.html

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O mensalão tucano

Em 1998, no projeto de reeleição de Eduardo Azeredo (do PSDB) em Minas Gerais, foi usado o esquema de desvio de verbas que ficou conhecido como “mensalão”. Esse esquema ficaria famoso na administração federal petista do presidente Lula, que, além de utilizar o “caixa 2”, criaria uma “mesada” para os políticos que apoiassem o governo.

O “mensalão petista” foi julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). O tucano Eduardo Azeredo adotou uma estratégia para adiar o julgamento:

“Eleito deputado federal em 2011, Azeredo renunciou ao mandato em fevereiro de 2014, e o plenário do STF decidiu, por maioria de votos (oito a um), enviar a ação penal contra ele para a primeira instância da Justiça de Minas.”*

Apesar de ter dado certo no que diz respeito ao adiamento, a estratégia de Azeredo não funcionou no sentido de evitar a sua condenação. Ela finalmente chegou e o político mineiro foi "condenado a 20 anos de prisão."*

Tal fato, apesar de ser previsível, gerou embaraço às lideranças do PSDB, afinal, em termos de estratégias políticas, não haveria tantas diferenças entre os tucanos e os petistas.

© profelipe ™ 16-12-2015

(*) Justiça condena Azeredo a 20 anos de prisão por mensalão tucano. G1, 16-12-2015.
http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/12/justica-condena-azeredo-20-anos-de-prisao-por-mensalao-tucano.html

Presidente Dilma e História

Poucas pessoas, antes de 1994, acreditavam que um dia haveria o controle da inflação no Brasil. Houve várias tentativas e os resultados costumavam ser desastrosos. Por exemplo, “o governo de José Sarney terminou em 1990 com uma inflação de 1764,86%”*
Sim, o país já viveu uma época de hiperinflação. Além disto, havia o problema das dívidas do governo com o mercado internacional. A solução, ainda no governo Sarney, seria simples: foi decretada “a moratória da dívida externa.”**
O sucessor de Sarney, o presidente Collor só conseguiu piorar tudo com o seu plano econômico e com o confisco do dinheiro da população. A crise aumentou quando o próprio presidente da República sofreu “impeachment”.
O vice-presidente, Itamar Franco, assumiu. No seu governo, foi criado o Plano Real, o que representou, de fato, um marco no sentido de controlar a inflação. O seu ministro da economia, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi eleito presidente da República, criou a reeleição no país, e teve um segundo mandato. Depois vieram os dois mandatos do presidente Lula, o primeiro mandato e a reeleição da presidente Dilma.
É importante lembrar que:
“Ainda que o Plano Real tivesse estabilizado a moeda, a realidade do setor público nacional, em especial da maioria dos Estados e Municípios brasileiros, era de completo desequilíbrio fiscal. Com o fim do ‘imposto inflacionário’, que mascarava as contas públicas, veio o choque de realidade.”***
Em outras palavras, além do Plano Real, a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal (em 2000) foi fundamental para mudar a imagem do Brasil no mercado internacional (o país receberia “o selo de bom pagador” em 2008), isso sem falar no importante impacto que tais medidas tiveram no cotidiano da população brasileira.
Tudo isso corre o risco de desaparecer. A presidente Dilma passará para a história como a responsável por essa mudança significativa, com as famosas “pedaladas fiscais”, as promessas que não foram cumpridas na sua reeleição em 2014 e todas as crises de 2015 - como o descontrole da inflação, a recessão, a perda do selo de bom pagador, o processo de “impeachment” e a prisão de vários políticos (do seu partido político ou de partidos aliados do seu governo).
A luta da presidente da República parece ser em permanecer no poder a qualquer custo, mesmo que isto signifique um retrocesso de décadas para a economia brasileira.

© profelipe ™ 16-12-2015

(*) Hugo Passarelli. Inflação: um problema que não pode ser esquecido. Estado de São Paulo, 07-09-2011. http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,inflacao-um-problema-que-nao-pode-ser-esquecido,83215e
(**) Oscar Pilagallo, O Brasil em sobressalto, p. 174.
(***) Valdecir Paschoal. Os 15 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Estado de São Paulo, 05-05-2015. http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/os-15-anos-da-lei-de-responsabilidade-fiscal/

História de vida e futuro

Seria ótimo se todo mundo tivesse, em algum momento antes de morrer, uma oportunidade de rever as principais decisões de sua vida – o famoso “e se” – e as possíveis consequências de suas escolhas (como o agente Gibbs no episódio número 200 de NCIS).
Essa “revisão” (ainda em vida) funcionaria como um “atestado” de que a pessoa estaria no caminho certo e de que as suas escolhas teriam sido corretas.
O mundo real, infelizmente, não é igual ao mundo da ficção. As relações são mais complexas. Não existe o “viver feliz para sempre”. As pessoas se apaixonam mais de uma vez. Tentam, acertam e erram.
Aqui encontra-se o ponto fundamental: no fundo, cada um, de alguma maneira, sabe se fez a coisa certa ou não.
Isso muda tudo na hora da insônia, quando aquela avaliação (dos atos da própria vida) insiste em permanecer “nos ataques dos pensamentos”.
Imagino que essa avaliação incomode as pessoas quando pensam seriamente na morte ou vejam essa possibilidade com uma maior clareza (como, por exemplo, na velhice).
Acredito que é a história de vida de cada um (o próprio passado) que define o tamanho da insegurança (o medo mesmo) diante do desconhecido, do futuro... da morte.

© profelipe ™ 16-12-2015

Crise política e crise econômica em 2015

2008, ironicamente, tornou-se um marco negativo para os países ricos – “com o crash financeiro no qual os Estados Unidos e a Europa mergulharam”* - e, por outro lado, foi o ano em que o Brasil ganhou o grau de investimento das agências estrangeiras, o que o colocava como uma espécie de caminho seguro para a entrada de dólares.
Nas eleições de 2014, a candidata Dilma disse que o seu opositor (Aécio Neves) era muito pessimista quanto ao futuro do país. A candidata petista venceu – com o seu otimismo – as eleições. Entretanto, ela “esqueceu” de combinar com a realidade pós-2015. O primeiro ano do segundo mandato da presidente foi marcado por toda tipo de crise, encerrando agora com o problema do “impeachment”. O pior é que ninguém consegue enxergar uma liderança da oposição no sentido de uma retomada de um caminho mais estável para o país.
Em 2015, o Brasil perdeu o grau de investimento de duas das três agências internacionais (“Fitch” e “Standard & Poor's”). Em outras palavras, o país deixou de ser um destino seguro para a entrada de investimentos estrangeiros. Um exemplo: “parte dos fundos de investimento internacionais exige o selo de bom pagador de pelo menos duas das três grandes agências para direcionar seus recursos.”**
O que antes era algo técnico (“o selo de bom pagador”) que gerava pouco interesse para a maioria, em 2015, aparece como um símbolo associado ao cotidiano indefinido dos brasileiros. Tudo ficou ruim e ninguém acredita que 2016 será melhor.
A crise política piora a crise econômica. Uma presidente da República (com baixa popularidade) não consegue falar a mesma linguagem do Ministro da Fazenda (Joaquim Levy). Os líderes dos partidos governistas não se entendem. Muitas lideranças políticas estão presas (o mesmo acontece com grandes empresários aliados do governo). Existe, basicamente, uma crise de credibilidade.
E o futuro? É melhor mudar de assunto.
© profelipe ™ 16-12-2015
(*) Cilene Pereira e Fabíola Perez. A crise mexe com a cabeça do brasileiro. Isto É, 24 de Abril de 2015. http://www.istoe.com.br/reportagens/415311_A+CRISE+MEXE+COM+A+CABECA+DO+BRASILEIRO

(**) João Pedro Caleiro. Fitch tira selo de bom pagador do Brasil. Exame, 16-12-2015. http://exame.abril.com.br/economia/noticias/fitch-tira-selo-de-bom-pagador-do-brasil


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Felicidade, Sofrimento e Buddha

Muitas pessoas sofrem e não entendem por que. Parece que elas lutam contra a própria felicidade. Um exemplo seria estabelecer um objetivo que não poderia ser atingido, como acontece nas festas de Ano Novo. Prometer que vai parar de fumar e continuar com o vício, claro, garante a frustração e a sensação de fracasso.
Outro exemplo seria colocar a felicidade na dependência de outra pessoa. “Se ela não casar comigo, serei eternamente infeliz.” Isso é comum em relações platônicas. A pessoa fica completamente apaixonada pela outra sem mesmo conhecê-la. Na verdade, ela se apaixona pela “imagem” da outra pessoa e inventa uma personalidade que ela deveria assumir. Se por acaso, o que era platônico torna-se real, é comum ouvir a frase “nossa, você não é aquilo que eu imaginava”... como se a pessoa fosse obrigada a corresponder a fantasia criada pela outra.
O elogio do imediatismo é outro problema. “Quero tudo ao mesmo tempo agora”, ou seja, quero prazer imediato. Trata-se de um narcisismo cuja pessoa se acha tão maravilhosa que pode exigir o tal prazer sem dar nada em troca. Ela usa o outro só como um objeto para o seu prazer. Hoje isso é bastante comum por causa do elogio do corpo, do vício em academias e anabolizantes, isso sem falar nas constantes cirurgias plásticas.
Apesar do outro ser visto só como um objeto, existe aqui uma relação de dependência, mas que funciona no plural. Em outras palavras, o que a pessoa mais deseja é fazer sucesso, ser famosa, ser admirada e ser desejada por todos. Para tanto, ela fará qualquer coisa, como a atriz Vera Fischer (antes de ser conhecida) que uma vez deu uma entrevista que dizia que transou com um diretor de televisão para participar como jurada de um programa.
Tudo isso está relacionado aos valores capitalistas que são impostos ideologicamente como se fossem universais, como se fossem “verdades absolutas”.
Não é bem assim. Só para mostrar outra perspectiva, vale lembrar as palavras de Buddha:
“Agora, então, (...) é a nobre verdade sobre a origem do sofrimento. De fato, é que a sede (ou desejo), (...) acompanhado pelo prazer sensual, busca a satisfação ora aqui, ora ali – ou seja, há o desejo de gratificação das paixões, ou o desejo por uma (futura) vida, ou o desejo de sucesso (nesta vida).” (Siddhartha Gotha Buddha, The Foundation of the Kingdom of Righteousness In.: Charles Guignon, The Good Life, p. 75)
Não trata simplesmente de uma questão religiosa ou de uma problemática filosófica. Essa citação deve servir cotidianamente como reflexão dos atos de qualquer pessoa. Não é uma imposição. É uma sugestão. Pode ser útil.

© profelipe ™ 09-12-2015




(*) Citação no original:
“Now then, (…) is the noble truth concerning the origin of suffering.
Verily, it is that thirst (or craving), causing the renewal of existence, accompanied by sensual delight, seeking satisfaction now here, now there - that is to say, the craving for gratification of the passions, or the craving for a (future) life, or the craving for success (in this present life).” (Siddhartha Gotha Buddha, The Foundation of the Kingdom of Righteousness In.: Charles Guignon, The Good Life, p. 75)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Genética e Sujeito

Desconfio do termo “determinismo” porque o seu uso representaria quase uma negação do homem como sujeito de sua própria história.

Os biólogos e outros profissionais não se preocupam tanto com isso.

Alain Prochiantz diz que “o homem é também um ser geneticamente determinado.”* Acrescenta que o homem sofre ainda influência do meio em que vive. Em suas palavras:

“Em suma, eu mudo no meu cérebro, eu me adapto ao mundo, com base no que eu experimento.”**

O que significa tudo isso?
Não desejo simplificar nem manipular as frases de Alain Prochiantz. Gostaria só de problematizá-las.

Em primeiro lugar, a frase “o homem é também um ser geneticamente determinado” tem um poderoso efeito ideológico na medida em que dá a entender que o homem não determina (não é sujeito) e sim seria determinado. Mais na frente, citando Marx, Alain Prochiantz admite que tanto o homem interfere no meio como o meio interfere no homem. O problema aqui é o impacto da frase “ser determinado geneticamente”.

Em segundo lugar, caberia ao homem “adaptar-se ao mundo”. Isso significaria também adaptar à sociedade? Tanto num caso como no outro, ficaria de fora o princípio da dialética. Em outras palavras, o homem existiria tanto para mudar a natureza como a sociedade. A ordem é o sonho de alguns e o princípio de alguns teorias sociológicas (divergentes do pensamento de Marx).

Basicamente, de uma maneira bem simples, o que deve ser problematizado é até que ponto o indivíduo é responsável por suas ações. As teorias religiosas não são consideradas aqui.

“Penso, logo existo” é pouco para responder tal problematização porque o homem em si é bastante complexo assim como a sua relação com a natureza e a sua relação com os outros homens. Além do mais ele carrega uma “condenação”: tem a capacidade de pensar sobre si mesmo sem conseguir resolver a condição humana.

© profelipe ™ 08-12-2015

(*) Entretien avec Alain Prochiantz. Le Monde de l’éducation. Juillet-Aoüt 2001, p. 190.
(**) No original, essa frase está no passado: “En somme, je me modifié dans mon cerveau, je m'adapte au monde, en fonction de ce que j'ai vécu.”