quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

UMA OPINIÃO SOBRE AS GAROTAS

Envelhecer faz parte do desenvolvimento do ser humano, mas algumas garotas perdem cedo demais tanto a naturalidade e a beleza do sorriso assim como os brilhos nos olhos.
Isso fica claro ao olhar dos homens (que foram educados no sentido de apreciar a beleza feminina).
Não existe uma única explicação para o processo.
Alguns diriam que as meninas amadurecem cada vez mais cedo. Parece ser verdade. Incentivadas pelo consumismo, elas querem parecer (e ser) adultas antes do tempo.
Existe um alto preço ao “pular” uma etapa da vida (como a infância ou a adolescência).
Trata-se, portanto, de uma hipótese razoável.
Algumas garotas tornam-se mães antes mesmo de viver plenamente a adolescência. Não casam, continuam morando com os pais, e os seus filhos e suas filhas, na prática, são criados com múltiplas figuras de autoridade (o que pode significar exatamente a ausência de autoridade).
Filhas criadas em ambientes assim podem ficar confusas quanto ao seu lugar na família e no que diz respeito ao seu papel diante da sua mãe biológica.

Em outras palavras, muitas vezes, mãe e filha parecem mais irmãs. Isso é complicado porque não é verdade. Só faz aumentar a confusão quando existe a necessidade de se ter uma mãe verdadeira e, no lugar, o que existe seria a figura de “uma irmã” (ou de “uma amiga”).
A ausência do pai biológico (que não participa daquele ambiente familiar) não facilita as relações entra “as meninas”. A mãe não é casada e, portanto, tem o direito de namorar (como qualquer adolescente). Ela tem o direito de mudar de namorado. O problema é como tudo isso seria percebido emocionalmente pela filha que mora com a mãe na casa dos avós.
Em relações aos homens, existem mães “tradicionais” (casadas, com maridos e assim por diante) que enxergam as filhas como rivais no processo de sedução. Esse processo pode ocorrer também nos casos das filhas que são criadas (junto com as mães) no ambiente familiar dos avós.
Tudo isso não quer dizer que existam brigas e conflitos explícitos. Os danos emocionais são feitos e percebidos inconscientemente. Nas aparências, nos olhares de uns e dos outros, tudo parece normal, compreensível e aceitável.
Entretanto, com o tempo, as pessoas (que convivem num mesmo ambiente familiar) podem apresentar sintomas de dores que não aparecem nos exames médicos.
Torna-se difícil explicar a falta de apetite ou a insônia. Por outro lado, aparece um caminho no sentido de compreender a perda da motivação, da beleza do sorriso ou dos antigos brilhos nos olhos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sorria¹²



As promessas tradicionais das profissões não funcionam mais após a última revolução tecnológica. As pessoas não acreditam mais no velho planejamento de estudar bastante e ter como consequência um bom trabalho numa empresa na qual teria acesso às promoções de acordo com os cursos de qualificação e o aumento da produtividade.
Esse mundo não existe mais. Muitas pessoas, neste contexto, apelam para os concursos e acreditam que a aprovação significaria um bom salário e, principalmente, a estabilidade no emprego e até uma boa aposentadoria no futuro. Elas esquecem, porém, da crise de 2008. Na Grécia, houve demissões e diminuições de salários (inclusive dos funcionários públicos). Para cumprir as metas impostas pela crise, os governantes reduziram os valores das aposentadorias. Ou seja, tudo que antes parecia certo e estável, obviamente, desapareceu. Houve cortes importantes e mudanças nas leis quanto aos salários e aos empregos em outros países europeus. A desconfiança tornou-se a norma no continente (sobretudo do lado ocidental).
Não existem empregos para todos. Isso é um problema numa sociedade em que as pessoas eram formadas em função do mundo do trabalho. O mais grave é que sem ter um emprego, claro, o indivíduo carrega em si uma culpa. Acredita que é um problema só dele (quando trata-se de um crise estrutural).
A culpa foi produzida pela ideologia da sociedade do trabalho. Ela traz consequências negativas como aumento da agressividade, da negatividade e da criminalidade. É criado um clima de caos quando a sensação é de que não existe ordem. A desordem reina em todos os lugares. Todos sentem-se desprotegidos e agredidos no cotidiano. Não existe mais confiança no Estado porque ele não cumpre o que promete e até as leis que antes eram consideradas “sagradas” (quanto aos salários ou às aposentadorias) são alteradas de acordo com “os interesses do mercado”.
A mudança é global. O mal estar é geral. Existem países em piores situações. Existem propostas simplistas – como as leis contra os imigrantes na Europa – que beiram ao fascismo. Existem ditaduras de todos os tipos. A intolerância e o egoísmo tornaram-se hegemônicos (como se, de fato, representassem verdadeiras soluções para os problemas sociais).
Esse sentimento geral é vivido também no Brasil. Apesar do otimismo dos brasileiros, todos percebem que houve alterações (no sentido negativo) nas coisas mais simples do cotidiano. As pessoas parecem mais ansiosas, mais apressadas e mais agressivas. As reações, muitas vezes, são desproporcionais – desentendimentos que seriam resolvidos com um pedido de desculpas acabam gerando brigas violentas e até mortes (os motivos, na maioria dos casos, são bem banais).
É como se existisse uma revolta particular (e até silenciosa) contra o mundo como ele se apresenta hoje em dia. A maioria parece sentir-se traída e enganada. A reação acontece. Não contra os poderosos ou contra a pequena minoria que acumula a maior parte da riqueza. A reação vem generalizada, desorganizada, contra si e contra todos.
Tudo isso pode parecer um exagero. Basta, porém, ler os jornais, utilizar os transportes públicos, frequentar os bares, os clubes e as praias. Em todos os lugares, em todos os momentos, podemos ver cenas chocantes e desagradáveis de injustiças. O pior é que também corremos o risco de fazer parte destas cenas.
É lamentável. É difícil compreender tudo o que ocorre. É péssima a sensação de que as coisas ainda vão piorar.
Viver não é fácil. A questão é como lidar com tudo isso de uma maneira saudável (e ética).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A solidão

Acho fantástica a música escolhida pelos torcedores do Liverpool: "You'll Never Walk Alone" (“Você nunca caminhará sozinho”). Ela reforça a ideia de união, de grupo e de clube. Mais do que isso, ela dá a impressão que o indivíduo nunca estará sozinho (na vitória ou na derrota).
Na sociedade, de fato, o indivíduo, desde o nascimento, é “protegido” por grupos inventados pelos homens no sentido de combater a solidão: os familiares, os amigos, os colegas da igreja, as turmas nas escolas, entre tantos outros exemplos.
A solidão, implicitamente, é vista como inimiga. Ela deve ser evitada. O indivíduo necessita estar protegido por outros indivíduos.
Trata-se de uma ilusão. O indivíduo nasce e morre sozinho. A companhia de várias pessoas no seu quarto de hospital não altera o que seria a sua passagem para “a outra dimensão”. Essa é uma tarefa que será feita só por ele.
O indivíduo comum, pela sua própria formação, evita a solidão. Ele prefere estar no meio dos grupos e das multidões. Não importa se a sua solidão torna-se mais clara mesmo quando está com inúmeras pessoas em sua volta. Ele prefere assim. Acredita que isso evita o pior: pensar em si mesmo.
O irônico é que participar dos tais grupos (familiares, amigos, colegas da igreja ou turmas nas escolas) significa se submeter a regras. Existem listas do que se pode fazer ou não, por exemplo, em um grupo de adolescentes.
Este processo, na fase de desenvolvimento do indivíduo, pode ser rompido quando chega o namoro. O que era um grupo torna-se um casal. Muitas vezes, esse casal fecha em si mesmo. Dispensa ou é dispensado pelo grupo que participava. Pouco importa.
A emoção predomina no casal, naquele tipo que namora verdadeiramente, que é fiel, que não consegue imaginar o futuro um sem o outro.
Se o namoro demora anos, ocorre, obviamente, o distanciamento do antigo grupo.
Esquecem os amigos e são esquecidos por eles.
O problema aparece com o fim do namoro. O indivíduo (pode ser pela primeira vez) encontra-se sozinho. Bate o desespero. A solução, normalmente, seria começar (o mais rápido possível) outro namoro. Isso funcionaria até que um dia o que era namoro vira casamento e (muitas vezes) com filhos.
O divórcio é quase uma certeza, mas (neste contexto) parece ser secundário porque o indivíduo terá que lidar sempre com a ex e com os filhos, enfim, não ficará sozinho.
Não ficar sozinho, envolver-se com os problemas dos filhos nas escolhas (entre outras coisas), não significa não viver na solidão.
No final, alienado ao longo da vida pelos aparelhos ideológicos do Estado, o indivíduo, a qualquer momento, mesmo no meio de uma multidão, se dá conta da própria solidão. Ele olha em sua volta e não reconhece coisa alguma exceto falsidades, traições e conspirações.
O indivíduo, neste momento, pensa se realmente valeu a pena sacrificar o seu desejo para obedecer as regras impostas por todos os grupos pelos quais passou. Ele percebe que deixou de viver a sua vida em nome dos outros para não ficar sozinho e, no final, o que ele efetivamente sente é a solidão, algo que não sabe explicar e que os outros não querem saber.
O chato não é sentir a dor da solidão ou saber que a morte é a única certeza. O complicado é ter deixado de ser ele mesmo, é ter deixado de fazer as próprias escolhas, é ter deixado de ter vivido os seus verdadeiros desejos (tudo em nome de leis e normas ditadas por pessoas - de grupos – que, na primeira oportunidade, o deixariam sozinho, irreconhecível, sem uma identidade).