terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Predisposição Genética, Depressão e Suicídio

Com base no saber científico, é afirmado que existe uma predisposição genética à depressão. Muito antes das pesquisas atuais, Schopenhauer (L'Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 98) já falava em predisposição ao suicídio:
"L'ereditarietà della predisposizione al suicidio dimostra che nella determinazione a togliersi la vita la parte soggettiva è senz'altro la più forte." *
Para os "pesquisadores na Washington University School of Medicine em St. Louis e no King's College em Londres", portanto, de acordo com estudos recentes, estaria na genética a causa da depressão. Ou seja:
"geneticamente, há uma combinação no DNA no cromossoma 3 associado com a depressão.
(...) A análise da família revelou um histórico de depressão em muitos dos que enfrentaram essa doença, mas em poucos dos que não a enfrentaram. Há uma região no DNA com noventa genes onde parece que essa predisposição se origina. " **
O que realmente importa é admitir tanto uma predisposição genética à depressão quanto uma predisposição ao suicídio. Em outras palavras, alguns indivíduos nascem com tendências à depressão ou ao suicídio. Claro, um caso pode levar ao outro, ou seja, a depressão pode ser a principal causa do suicídio.
Neste contexto, como culpar alguém por ter depressão? Como dizer, por exemplo, que "uma pessoa irá para o inferno" porque ela "escolheu" o suicídio?
Afirmações do senso comum e a orientação dada por algumas religiões só servem para confundir as pessoas e reforçar preconceitos, o que complica ainda mais a vida de quem nasceu com essas predisposições.
Na prática, muitos que dizem que querem ajudar não fazem outra coisa a não ser agravar um quadro de um paciente que necessitaria de colaboração e apoio para enfrentar os problemas causados por seu organismo (problemas "internos").
Assim, essas pessoas fazem o contrário do que teoricamente desejariam, ou seja, elas dificultam a vida do paciente na medida em que tornam-se, para ele, os principais problemas "externos".
As predisposições orgânicas causam um "inferno interno" e os indivíduos causam um "inferno externo". Como sair de tal situação? A morte não é uma escolha do paciente. De certa forma, ele é "empurrado" em sua direção tanto pelo seu organismo como por aquelas pessoas que "só querem ajudar".
Falar que a morte foi uma escolha do indivíduo representa colocar a culpa na vítima. Quem faz isso deseja retirar de si qualquer responsabilidade de um processo que teve um fim trágico.
* Tradução literal: "A herança da susceptibilidade ao suicídio mostra que, na determinação de tirar sua própria vida, a parte subjetiva é certamente o mais forte."
** Gláucio SOARES. jb on line. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/06/07/a-doenca-invisivel/

sábado, 28 de janeiro de 2012

BEIJO & SEXO

Os homens eram orientados pelos pais, no caso de relações sexuais com prostitutas, que poderiam fazer tudo exceto beijar na boca. Era assim com a minha geração. Provavelmente, depois que a maioria deixou de se preocupar em casar virgem no casamento, isso tenha mudado.
Atualmente, as garotas acham que beijar vários homens numa noite não significaria algo especial, na medida em que não houve uma maior intimidade. Ouvi dizer que, nos carnavais fora de época, uma menina chega a beijar mais de 20 rapazes numa noite. 
Quais seriam os riscos deste comportamento? 
Beijar na boca é algo íntimo e a pessoa "acessa" o histórico (sexual, inclusive) do outro no próprio ato
As campanhas do governo enfatizam que o uso da camisinha seria o passaporte para a prática da sexualidade. Implicitamente, o risco de ser contaminado por uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) é associado somente ao coito (a penetração numa relação sexual).
O problema deste tipo de análise  é a omissão do fato que a DST pode ser transmitida também pelo beijo (portanto, tanto em namoros heterossexuais ou homossexuais masculinos e femininos), como é o caso da sífilis.
Não é só isso. Pode ser "lenda urbana", mas ouvi uma história, uma vez, que prenderam um necrófilo depois que ele ficou com uma moça numa boite, beijando-a mas sem conseguir levá-la para sua casa. Semanas depois, ela apareceu com feridas na boca e o médico disse que aquilo acontecia somente com mortos. Pelo histórico dela, chegaram no necrófilo e descobriram alguns corpos na sua residência.
Claro que os riscos aumentam quando existe relação sexual sem o uso de preservativos. As campanhas contra a aids ajudaram a conscientizar a população neste sentido. Entretanto, beijar na boca continua sendo divulgado como algo inocente e sem perigo. O amor está associado à emoção e não á razão. Contudo, na medida em que as pessoas já fazem acordos financeiros antes do casamento, talvez já seja hora de verificar a história de alguém que, num futuro próximo, poderá tornar-se mais íntima do ponto de vista sexual.

sábado, 21 de janeiro de 2012

ECONOMIA & AUTO-IMOLAÇÃO

Escrevi um texto sobre a auto-mutilação com o título de "Desejo de Morte". Ela é um processo individual.
Atualmente, ocorre também um fenômeno coletivo que está associado ao movimento da chamada "Primavera Árabe", que, aliás, não representa somente uma luta política por democracia, na medida em que existe ainda um grave problema econômico causado pelo neo-liberalismo:


"As condições econômicas em grande parte do Norte de África e do Oriente Médio são tão difíceis quanto antes, de fato, em muitos lugares, como o Egito e a Líbia, elas têm piorado."*


Assim como no resto do mundo, o problema econômico no mundo árabe não atinge apenas os trabalhadores sem qualificação. A falta de perspectiva leva a radicalização:


"A auto-imolação, símbolo da frustração e da impotência, tornou-se cada vez mais comum em toda a região." *


A auto-imolação é um problema social que atinge mesmo aqueles que seriam qualificados mas que não encontram trabalho; Esse foi o caso que aconteceu no Marrocos, quando cinco indivíduos adotaram esta estratégia para chamar a atenção das autoridades. Eles faziam


"(...) parte de um grupo nacional chamado Diplomados Desempregados. Eles juntaram forças ao protesto de cerca de 160 membros do movimento, que tinham como objetivo ocupar um edifício administrativo do Ministério do Ensino Superior.(...) A taxa de desemprego oficial de Marrocos é de 9,1 por cento a nível nacional, mas é 16 por cento entre os trabalhadores qualificados." *


O que causaria a auto-imolação? Jihad al-Khazen, do Al-Hayat, apresenta uma análise interessante:


"As condições de vida de muitos tornaram-se miseráveis. (...) [Trata-se do] resultado de desespero e um sentimento entre muitos no mundo árabe que suas próprias vidas perderam o seu valor." *


No entanto, o problema é mais complexo e não se restringe ao povo árabe. É um problema mundial criado pela adoção de um modelo econômico que concentra a riqueza cada vez mais nas mãos de uma minoria. Isso, por sinal, não é citado na matéria do New York Times - as citações foram retiradas desse jornal.


O problema é econômico. A causa é o neo-liberalismo. A metodologia de exclusão é o desemprego estrutural - o indivíduo perde o emprego e a profissão em decorrência do avanço tecnológico. A solução? Aqui está "a" questão. Os partidos políticos não são confiáveis. A auto-imolação certamente não é a resposta. O que fazer? Protestar, ocupar as ruas e as praças como ocorrem em lugares tão diferentes como a Líbia, Espanha e Estados Unidos? Isso seria o suficiente? Depois do protesto, seria necessário a apresentação de uma alternativa ao neo-liberalismo. Aqui encontra-se o verdadeiro dilema atual.


* BAKRI, Nada. Self-Immolation Is on the Rise in the Arab World. New York Times, 20/01/2012. http://www.nytimes.com/2012/01/21/world/africa/self-immolation-on-the-rise-in-the-arab-world.html?_r=1&smid=tw-nytimes&seid=auto

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O AMOR E A TRAIÇÃO


A traição é uma das características do ser humano. Ela é pior do que a covardia, pois o indivíduo deseja obter alguma vantagem com o seu ato. Numa das músicas do U2 é dito:
"Um homem é traído com um beijo
Em nome do amor
O que mais em nome do amor?"
A referência é óbvia. Assim como é claro tanto o gesto de suposta amizade - o beijo - como o significado do ato - o amor, como se a traição representasse o bem para o traído.
Na prática, contudo, não é assim. Os "trinta dinheiros" são a razão do egoísmo que quer parecer altruísmo.
Entretanto, esta não é a coisa mais negativa da traição. O ruim é tentar colocar a culpa na vítima, como se ela merecesse ser punida. Ainda pior do que isso é construir "uma verdade" sobre o fato que interessa somente ao traidor.
Com a sua invenção, ele tenta convencer os outros e a si mesmo.
Funciona? Nem sempre. Como no exemplo citado na música do U2, a culpa corrói o que ainda existe de consciência no traidor. Ele é o derrotado na história. O traído, mesmo morto, torna-se justamente o vencedor:
"Livre ao final, eles pegaram a sua vida
[Mas] Eles não poderiam pegar o seu orgulho."
O nome da música é "Pride (In The Name of Love)". Perfeita.

L'INCONSCIENCE

Não deveria, mas ainda me irrito com a incapacidade de algumas pessoas de ver a realidade. Não pode ser só burrice. Será?
Trata-se da alienação ou, como diria aquela professora do filme "Invasões Bárbaras":


" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité. "


Escrevi isso uma vez num artigo chamado "Alienação" e repetirei aqui:
Sim, a alienação irrita. As pessoas são incapazes (como diz a personagem) ou se recusam a ver a realidade. Maier afirma que "a maioria é incapaz de ver a sua dignidade reconhecida."
A maioria sabe (ou quer saber) o que é dignidade? Nelson Rodrigues, discutindo sobre o conteúdo de suas peças, afirmou:


"(...) que o espectador burro não saque a diferença, isso é uma fatalidade do espectador, ouviu? Eu não sou culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil."


Fatalidade? Incapacidade? Recusa? A alienação é incentivada em nossa sociedade. Saber menos garante a concentração de renda para uma minoria. O objetivo final, para utilizar termos marxistas, é econômico. Neste sentido, a alienação é produzida pela ideologia, que chega aos indivíduos através dos meios de comunicação de massa, das escolas, das igrejas, entre outras instituições.

Arquitetura de Hospital*


Gosto de arquitetura. A idéia de construir um ambiente que acolhe o indivíduo me agrada. Nem sempre é assim, claro. Michel Foucault já citava as arquiteturas das prisões que tinham como função facilitar o "olhar" sobre os detentos. No Brasil, Oscar Niemayer é um grande inovador, com os projetos de Brasília e tantos outros pelo país e pelo mundo.
Estive pensando no caso do hospital. Aquela ambiente me incomoda. Imagino a insatisfação do paciente, dentro daquele prédio bege, com pessoas de branco por todo lado e as caras tristes dos doentes. Acredito que a arquitetura poderia ser uma aliada neste caso. Eu sei que alguns hospitais usam ambientes mais abertos, inclusive com espaços para jardins. Os "doutores da alegria" certamente servem para mudar aquele clima frio proporcionado pelo "saber médico" - o paciente seria apenas um número - e por uma arquitetura sem cor.
O "corredor da morte" é o último caminho realizado por aqueles que possuem a pena máxima. Acredito que esta expressão poderia ser empregada para a maioria dos hospitais. Trata-se de um espaço que você passaria antes da morte. Muitos pacientes devem conhecer este sentimento. A percepção da morte do mundo ocidental provavelmente não facilita o humor daqueles que estão numa situação de fragilidade em relação à saúde.
Dito isso, imagino algo absurdo, mas que poderia mudar o "astral" de um ambiente deste: um bar no meio do hospital. Ou seja, uma sala especial, fechada, com música alegre, bebidas, danças e luzes, tudo o que um bar ou "boite" normalmente oferece. O acesso seria permitido aos pacientes, aos familiares e aos funcionários do hospital, incluindo os médicos e os enfermeiros. Tudo seria controlado com a ficha do paciente, que apresentaria o seu "estado atual" e, portanto, revelaria, por exemplo, aquilo que ele poderia beber. As pessoas teriam uma sala menor para fumantes. Todo o ambiente deveria ser colorido, com luzes, barulho, música, tudo aquilo que o paciente não tem acesso dentro do hospital. A sala seria a prova de som, para não incomodar o ambiente do hospital. Ela representaria uma exceção, uma fuga ou um lugar onde as pessoas iriam para "recarregar as suas energias" e seu "desejo de vida".
Sim, pois o hospital como é concebido hoje, lembra qualquer coisa exceto vida. Atualmente, ele está mais associado à dor, à tristeza e à morte. Trata-se de um ambiente que oprime as pessoas, tanto os pacientes como os familiares. Os médicos e enfermeiros procuram perceber tudo aquilo apenas como mais um "ambiente de trabalho", algo frio e profissional, o que associado à própria arquitetura, cria um "clima" que todos desejam evitar - como no caso das prisões, que com esta mensagem, coloca-se como o lugar da punição e do castigo para uma pessoa que fez algo errado. Entretanto, pacientes não são presidiários. Não fizeram coisas erradas, em sua maioria, nem com os outros nem com eles mesmos. Assim, criar um ambiente de opressão para estas pessoas não seria justo e nem humano.

* Este texto foi publicado originalmente no livro virtual "Lenda Urbana" no website: profelipe.weebly.com 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

FINGIR E FUGIR


O indivíduo evita o objeto do seu medo. Evita as falhas da condição humana. Ele acredita que aquilo que ele não vê, não existe.
Os velhos o incomodam, basta colocá-los no asilo - "é um bom lugar, eles vão gostar".
Os loucos causam escândalos? Existem os hospícios e as clínicas psiquiátricas para isso - "lá eles serão bem tratados".
E aqueles que não respeitam as leis da sociedade? Criminosos? Prisão - "lá eles serão 'recuperados' para o convívio social".
É importante, primeiro, limpar a própria casa. Num segundo momento, se possível, seria necessário limpar a rua também - a maneira como as autoridades de São Paulo lidaram como o caso da "cracolândia" seria um exemplo neste sentido.
Apesar de todos esses esforços, o indivíduo deve enfrentar um medo maior: ele mesmo. O que fazer com tantas experiências negativas vividas desde a infância... os fracassos, as rejeições e as humilhações? Seria simples: basta evitar pensar nestes momentos.
Entretanto, no sonho, a sua razão perde espaço para o inconsciente, e tudo desaba... Tudo que ele queria esquecer insistir em aparecer nos sonhos.
O indivíduo, normalmente depois dos 30 anos, reclama que tem dificuldade para dormir. No fundo, ele tem é medo. Quer evitar o seu inconsciente. Quer evitar a si mesmo.
Ele que inventou os asilos, os hospícios, as prisões... Ele que limpou as ruas... Ele não consegue vencer algo que ele nem admite que, de fato, existe: o inconsciente.
O que fazer? Como fugir de si? Fanatismo religioso? Alcoolismo? Drogas? Mas se escolher essas alternativas ele poderá ser preso em uma das várias "casas de reclusão" que ele mesmo inventou.
Fingir. Fingir até quando for possível. Fingir para a família, fingir para os amigos, fingir para o (a) amado (a), fingir para o padre (pastor), fingir para a polícia, fingir para o professor, enfim, fingir principalmente para si mesmo...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

NORMALIDADE

As pessoas se esforçam bastante para serem aceitas na sociedade. Depois, formam pequenos grupos para excluir os outros.
Fingir é o caminho da suposta normalidade. Fingir que elas não morrerão. Fingir que a vida faz sentido.
Quando o absurdo acontece, elas apelam para algo superior, como se o que acontecesse neste planeta insignificante fosse regido por uma força maior. Neste momento, deixam automaticamente de serem responsáveis por seus atos - bons e maus - e colocam a culpa no destino.
Quanto maior o número de fracassos, mais torna-se necessário o apego à religião. Inversamente, existem os casos de pessoas que atingem os seus objetivos e associam o mérito ao sobrenatural. Há, nos dois casos, uma omissão no que diz respeito aos atos e às respectivas conseqüências.
Com o passar dos anos, viria uma maior sabedoria decorrente das experiências práticas da vida. Entretanto, isso não acontece. Existe uma infantilização.
O medo da morte transforma num religioso conservador aquele indivíduo que antes se orgulhava de ser o "bad boy" da cidade.
A decadência do corpo compromete principalmente a visão, a audição e a memória. Essa última é a palavra-chave, pois há uma recusa em pensar no passado quando se está numa idade que não existe outra coisa a fazer a não ser avaliar as experiências de uma longa vida. Não existe outro caminho, afinal, pensar no futuro é enfrentar o inevitável: a morte.
Acontece um conflito: o indivíduo cometeu erros durante toda a vida - manipulou, roubou, mentiu, foi antiético e infiel - e está próximo da morte; uma coisa está associada à outra e ele não quer nem pensar no passado e nem admitir o futuro de todo ser humano!
Irônico. Toda o esforço em nome da normalidade desmorona como um castelo de cartas diante da única certeza da vida.   

sábado, 14 de janeiro de 2012

Freud, Prazer e Dor

Freud, em uma entrevista em 1930, admitiu que tanto quanto ao sexo ele dava importância "ao 'além' do prazer - a morte, a negação da vida. Esse desejo explica porque alguns homens gostam da dor - ela representa um passo em direção à morte! O desejo de morte explica por que todos os homens procuram o descanso eterno..." (A Arte da Entrevista, p. 96)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Navio do Loucos


Existem, atualmente, vários recursos para tratar a depressão, com avanços nas formas de terapias e mesmo a adoção dos modernos medicamentos. 
A minha depressão é genética. O médico que me receitava anti-depressivos na adolescência e na infância suicidou em 2007.
Quando era o seu paciente, eu desconfiava que ele não sabia muito bem o que fazia. Além disto, a ciência que ele representava, a psiquiatria, ainda estava bastante atrasada tanto quanto ao internamento como no que diz respeito aos remédios.
Na época que fazia graduação e ele não era mais o meu médico, tive a oportunidade de questioná-lo em um debate - ele fazia parte de uma mesa redonda. Na oportunidade, pelas respostas que ele dava, desconfiava ainda mais de sua competência.
Antes do seu suicídio, ele apareceu em rede nacional sendo preso pela polícia federal, pois exigiria suborno de pacientes para liberar uma autorização em nome do governo. Ver a toda a cena do suborno e da sua prisão no jornal, em minha casa, confirmaria as minhas velhas suspeitas sobre a sua postura ética. De fato, quando fui seu paciente, apesar de ser um adolescente inseguro, eu tinha a impressão que ele me tratava como "rato de laboratório".
Certamente o meu caso não foi o único. Posteriormente, vi outros psiquiatras, também pela televisão, que foram presos por outros motivos. Tudo isso faz lembrar a análise de Michel Foucault sobre uma pintura de Bosch (1450-1516), o "Navio do Loucos":
"(...) não esqueçamos o famoso médico de Bosch, ainda mais louco que aquele a quem pretende curar - com toda sua falsa ciência não tendo feito outra coisa senão depositar sobre ele os piores despojos de uma loucura que todos podem ver, menos ele." (p. 26)
De fato, o conceito de loucura mudou conforme a época e o lugar. O saber médico associado à ciência e ao discurso racional foi somente mais uma tentativa de construir uma verdade quanto aquilo que não poderia ser enquadrado no chamado comportamento "normal".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

PROFELIPE


Tumblr:
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Tumblr

Sobre a Inglaterra, Michel Foucault apresenta uma análise interessante:
"Na era clássica, explica-se de bom grado a melancolia inglesa pela influência do clima marinho: o frio, a umidade, a instabilidade do tempo, todas as finas gotículas de água que penetram os canais e as fibras do corpo humano e lhe fazem perder a firmeza, predispõem à loucura." (História da Loucura, p. 13)
Adoro o Tumblr e percebi que alguns perfis que tenho contato são da Inglaterra. Isso não ocorre por acaso, afinal, me interesso por temas considerados impopulares por aqui, como depressão, suicídio e morte. No  Tumblr, vi que, fora do Brasil, eles não são tão impopulares assim.

RELAÇÕES AMOROSAS: VELHOS E JOVENS

O avô Mick Jagger, 68 anos, prefere garotas mais jovens do que suas filhas. Pete Twonshend, 66 anos, do The Who se livrou da acusação de pedofilia (pela internet). O baixista da mesma banda, John Entwistle, aos 57 anos, morreu (ataque cardíaco) numa noite, com GPs, regada a whisky, cocaína e viagra. 
Na sociedade atual - isso não é novidade -, os homens mais velhos preferem as garotas mais jovens. As mulheres, chamadas de "cougars", não ficam atrás. Mais velhas, divorciadas e ricas, preferem os rapazes de 20 anos.
Na Grécia Antiga, havia também um interesse dos velhos pelos mais jovens. Era muito comum, nesta época, a relação entre um homem e um rapaz.
É interessante perceber que, na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Michel Foucault (Cuidado de Si 197) dizia "que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)." Portanto, neste contexto, o essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor.
De qualquer maneira, a fórmula que une os mais velhos aos mais jovens nas relações amorosas parece não ter mudado muito ao longo dos tempos. 

O apego a si próprio

Você se ama, acha que não tem defeitos e acredita que seria superior aos outros?
Leia essa citação:
"O apego a si próprio é o primeiro sinal da loucura, porque o homem se apega a si próprio que ele aceita o erro como verdade, a mentira como sendo realidade, a mentira como sendo a realidade, a violência e a feiúra como sendo a beleza." (Foucault, p. 24) 

MENTALIDADE

A mentalidade religiosa deste século, sobretudo no mundo ocidental, ainda é definida a partir de dois livros: a Bíblia - século XV a.C. - e o Alcorão - século VII d.C. 
Se não houve uma mudança de mentalidade com a revolução tecnológica do PC e da Internet, ocorreu o agravamento das contradições sociais, típicas do modo de produção capitalista. O desemprego da época da hegemonia do trabalho manual tornou-se, agora, o desemprego estrutural - o indivíduo perde o emprego e a profissão. 
Religião e economia. O que fazer com os excluídos, que são apresentados como uma "doença" da sociedade? Karl Marx já ironizava esse discurso que é utilizado até hoje:
"Aconteceu que a elite foi acumulando riquezas e a população vadia ficou sem ter outra coisa para vender além da própria pele. Temos aí o pecado original da economia. Por causa dele, a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos, embora tenham esses poucos parado de trabalhar há muito tempo." (O Capital, p. 829)
Essa análise não é sobre o movimento de Wall Street, da grave crise de desemprego da Europa ou mesmo da chamada "Primavera Árabe". Trata-se de um livro do século XIX, em que já era claro que "a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos!!"

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

PESADELOS

Acordei. Tive outro pesadelo "longa metragem". A associação com as experiências do passado é tão óbvia que nem precisaria de Freud para explicar. Se soubesse disso quando mais jovem, talvez tomasse mais cuidado com as minhas relações. Ou não. 
O fato é que sempre tive pesadelos. Lembro dos mais marcantes até hoje. Os temas mudam pouco. O susto ao acordar permanece o mesmo. Portanto, apesar deles serem "alimentados" pelos traumas do passado, não acredito que ter tido mais cuidado me livraria dos pesadelos atuais. De qualquer maneira, assim como a depressão, percebi que eles fazem parte da minha condição de existência. É algo que tenho que conviver e pronto.
Um dos conselhos daquela revista inglesa (foi citada em vários artigos) - para melhorar o ânimo de quem tem depressão - seria:
"If you have trouble sleeping, turn on the radio or watch TV." (Elle, August 1993, p. 142)
Já comentei que depois que li o artigo, sempre dormi ouvindo alguma coisa, música ou filme. Com o fim do LP, do CD, agora eu ouço música no computador ou no celular. Para dormir, só existe uma banda: Led Zeppelin. Se eu colocar a música de qualquer outro grupo, terei pesadelos. Aliás, foi exatamente isso que aconteceu hoje. 
Por quê Led Zeppelin? Talvez porque a música seja mais importante do que as letras. Talvez porque considere o som da banda um pouco "neutro", ou seja, o Led Zeppelin não foi o tipo de banda que fazia canções melosas como, por exemplo, aquelas do Brian Adams ou da Celine Dion. Não sei ao certo, mas o meu sono sem pesadelo, aparentemente, depende do grupo de Jimmy Page.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Atualmente...

Hoje divulgo as minhas idéias no meu website e nos meus blogs:

http://profelipe.weebly.com 

1. Artigos: http:// profelipehd.blogspot.com 

2. Dor: http://smclub.blog.com 

3. Educação: http://educando.blog.com 

4. Filmes: http://lzfilmes.blogspot.com 

5. Ócio e Trabalho: http://trabalhando.blog.com 

6. Relacionamentos (1): http://flertar.blogspot.com  

7. Relacionamentos (2): http://flertar.blog.com  

8. Rock: http://lzrock.blogspot.com 

9. SM (em Inglês): http://profelipego.blog.com  

10. Tecnologia: http://lztecno.blogspot.com  

Diferente

Com o Tumblr, percebi que não sou tão diferente como imaginava. Lá encontrei pessoas do mundo inteiro que se interessam pelos temas (impopulares) que gosto de ler e debater: depressão, suicídio e morte. Parece que alguns são da Inglaterra, famosa por sua "frieza".
Sobre a Inglaterra, Michel Foucault apresenta uma análise interessante:
"Na era clássica, explica-se de bom grado a melancolia inglesa pela influência do clima marinho: o frio, a umidade, a instabilidade do tempo, todas as finas gotículas de água que penetram os canais e as fibras do corpo humano e lhe fazem perder a firmeza, predispõem à loucura." (História da Loucura, p. 13)

Fantasia

Algumas pessoas acham que me exponho demais nos textos opinativos. 
Primeiro vai uma sugestão: leia as entrevistas de Charles Bukowski sobre os questionamentos se os seus livros seriam auto-biográficos. 
Segundo, quem te garante que o que você lê foi um fato ou uma fantasia (ou os dois hahaha). 
Terceiro, pessoas desse tipo juram que vestindo terninhos e seguindo os conselhos da revista Você S.A., elas conseguem enganar os outros e esconder os seus defeitos e fragilidades... por favor!! Ninguém engana ninguém!!! Não é porque um bando de puxa-sacos supostamente avalizam a sua fantasia, que isso signifique que o seu mundo - poder, dinheiro e sexo - seja verdadeiro e real. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Predisposição Genética

O que leva uma pessoa ao suicídio? Schopenhauer defende que apesar da predisposição genética, "na determinação de tirar a própria vida, a parte subjetiva é certamente a mais forte."
De qualquer forma, assim como no caso da depressão, seria difícil excluir a predisposição genética das hipóteses que explicam tais fenômenos.
A depressão é a principal causa de suicídios no mundo. Não há como contestar. Isso significa que o fator "interno" - a dor - seria fundamental no processo.  A "parte subjetiva", se for entendida como a "vontade do indivíduo", seria uma hipótese polêmica, mesmo assim não poderia ser descartada.
Existe ainda a parte "externa", ou seja, a repressão cotidiana que a pessoa vive, o que só piora a sua condição. Em poucas palavras, ela teria que lutar contra um "dragão interno" - a depressão - e contra uma opressão diária de indivíduos na família, na escola, no trabalho e em outras instituições. Existem dois "infernos": um interno e o externo.
Muitos se perguntam se os suicidas não têm medo de ir para o inferno... Essas pessoas não percebem que eles já vivem no "inferno"... Se questionados, eles poderiam responder: "como o inferno pode ser pior do que isso?"
Na verdade, a questão não é religiosa e nem sobre a existência ou não do inferno. O ponto essencial é que o suicida, no seu ato, não escolhe a morte, como a maioria imagina. Ele recusa a vida, ou pelo menos a "sua" vida. Neste sentido, apesar do "dragão interno" - a depressão -, esse indivíduo poderia ter uma vida mais longa e saudável se tivesse o apoio e a compreensão das pessoas daquelas instituições (família, escola, trabalho, entre outras).   

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

MITO: A FIDELIDADE MASCULINA

A mulher é educada para dificultar as coisas. Por mais que queira uma relação, jamais diz "sim" de imediato. É sempre uma dificuldade. O homem, quando é mais novo, com os seus 20 anos, suporta todos os charmes e exigências -  flores, sogros, DRs, atrasos, supostas dores de cabeça, cara fechada, ciúmes e assim por diante - pois mantém o foco no seu objetivo final: a relação sexual. É uma questão de hormônios. Pronto.
Por outro lado, satisfeito o seu instinto sexual, ele não apenas dorme como normalmente perde o interesse naquela garota (especificamente). Ele quer mais sexo, mas precisa de novidade. Em outras palavras, necessita de garotas diferentes. Neste sentido, ele nunca ficará satisfeito.
Pode ser casado com a mulher mais linda e desejada do mundo, mas sempre desejará aquela que ele nunca possuiu. Depois de "tê-la", claro, "perde a graça". Isso explica porque um homem que namora uma bela mulher, é capaz de ser infiel com outra que seria considerada feia e fora dos padrões de beleza.
Existe um filme que trata bem do assunto, chama-se "Trop Belle Pour Toi" ("Muita Bela Para Ele"), quando o personagem de Gérard Depardieu, que é casado com uma mulher bonita, inteligente e rica, mantém um caso com outra que representaria o oposto da beleza convencional.
Essa é a natureza masculina. Mas, diriam alguns, existem homens casados durante décadas que nunca foram infiéis. Sim, se for considerado infidelidade o ato sexual "real" com outra mulher, é verdade. Se tirar o "real", pode esquecer... O homem sempre olha uma mulher bonita, para não dizer que a deseja... Ele nega, mas se ela ficar nua na sua frente, o seu corpo dirá outra coisa. Machismo? Provavelmente. Entretanto, não existe muito o que fazer, afinal, é a natureza

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

INCOMODADOS

Alguém te incomoda? Como? Por quê? O que fazer?
Uma criança incomoda uma mãe com aquelas perguntas fundamentais e a mãe, sem as respostas, usa a sua autoridade: "estou ocupada" ou simplesmente um "cala a boa".
Uma garota vê um rapaz num bar e logo diz "não fui com a cara dele". Por quê? Ele não o conhece, não conversou com ele. Ele tem barba e a sua aparência, inconscientemente, é associada a algum trauma sofrido pela garota (que ela não gosta de lembrar). Daí, claro, aparece todo tipo de preconceito.
Os homossexuais incomodam? Por quê?  O que fazer? Assassiná-los, colocá-los em campos de concentração?
Os pobres incomodam? É chato ver gente passando fome morando na rua? O que fazer? Na Europa, nos séculos XV e XVI, foi criada "uma legislação sanguinária contra a vadiagem." (O Capital, p. 851) Em 1572, na Inglaterra, as punições eram:
"Mendigos sem licença e com mais de 14 anos serão flagelados severamente e terão suas orelhas marcadas a ferro, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; em caso de reincidência, se têm 18 anos, serão enforcados, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; na terceira vez serão enforcados, sem mercê, como traidores." (O Capital, p. 853)
Normalmente, a prisão e o isolamento dos "diferentes" são as formas mais aceitas pelos considerados "civilizados". Alguns ainda criam instituições por "caridade", para cuidar dos velhos - e claro, conseguirem votos em uma eleição...
Historicamente, houve um momento que vários "excluídos" eram presos em um mesmo lugar:
"(...) o louco da era clássica é internado com os doentes venéreos, os devassos, os libertinos, os homossexuais." (História da Loucura, p. 121)
Posteriormente, os loucos ficariam internados num hospícios, os criminosos numa prisão, os velhos num asilo e assim por diante. No Brasil, durante a ditadura militar, havia uma polêmica quanto aos presídios no que dizia respeito aos "presos políticos" e aos "presos comuns". O debate seria se o contato entre eles poderia causar conseqüências negativas para a sociedade. A exclusão, assim, não é percebida como um processo de "recuperação do preso". Ela seria, de fato, uma forma de proteção daqueles que estão livres.
O interessante em todo o processo é que os incomodados nunca questionam se o problema estariam com eles. Existe uma clara recusa de auto-crítica. Certamente é mais fácil colocar a culpa no outro.