quinta-feira, 30 de abril de 2015

LA BRONDI

Quando uma pessoa resolve se isolar, claro, surgem logo fofocas, mentiras e boatos. Esse foi o caso de Lídia Brondi, atriz famosa e “sex symbol” nas décadas de 1970 e 1980.

Dez anos depois de sair da televisão, Brondi resolveu fazer psicologia (2002) e atualmente trabalha nesta área.

É casada e vive a sua vida longe das tais celebridades.

Foi uma opção de vida. No entanto, as pessoas não compreendem e inventam história e mitos. A própria Brondi comentou uma vez:

"Não tive síndrome de pânico, mas já me acostumei a ouvir as pessoas dizerem que eu pirei, que estava doente ou até mesmo que tinha morrido. Simplesmente cansei de trabalhar em televisão."

Foi só uma escolha. Mas as pessoas precisam de fantasias, necessitam criar lendas e inventar histórias, não para entender os seus ídolos e sim para justificar a própria existência.

Adolescência e Maturidade

O indivíduo deseja ser aceito por todos. Certo? É impossível, claro. Assim, ele se esconde numa multidão qualquer para ser aceito pela maioria.

Robert Plant, na juventude, constatou tal realidade:

"Todos, não importa o quanto eles queiram negar o fato, realmente desejam, no final, serem aceitos pela maioria das pessoas por possuir um talento ou mesmo ser uma mercadoria."*

A necessidade de ser aceito aparece na infância e na adolescência quando o indivíduo participa dos primeiros grupos de amigos.

Na vida adulta, porém, imagina-se que ele não precisará mais dos grupos, terá a sua independência e poderá seguir o seu caminho sozinho. Nem todos conseguem essa maturidade. Mick Jagger, dos Rolling Stones, com 71 anos, continua fazendo a mesma coisa como se fosse um adolescente. Para parecer que o tempo não passou, ele pinta o cabelo, faz plásticas e continua rebolando com o seu grupo em shows pelo mundo. John Lennon, em dezembro de 1980, já ironizava essa situação:

"Veja, estão cumprimentando os Stones por estarem juntos há 112 anos. Viivaaa! Na década de 80, a pergunta é: ´Por que esses caras ainda estão juntos? Não podem se virar sozinhos?”**

Ficar sozinho pode ser um sinal de maturidade, mas não significa que o indivíduo ainda não queira ser aceito pelos outros.

As relações mudam a partir da meia-idade (quando não existe mais a beleza natural da mulher como forma de atrair a atenção dos outros ou, no caso do homem, ele deixa de ser “uma mercadoria valorizada” no mercado).

Na prática, de uma maneira ou de outra, os indivíduos são descartados (rejeitados) pela sociedade. Eles tornam-se, então, invasivos: “querem parecer jovens” para serem aceitos pelos outros. Fazem inúmeras plásticas e criam situações embaraçosas por não aceitarem o óbvio: o tempo passa para todo mundo.

Isso não significa desistir de tudo e ficar em casa vendo televisão. O que não dá é a alienação, é não ter autocrítica, é “acreditar” que realmente teria 20 anos.

© profelipe ™ 26-04-2015

(*) “I mean everybody, no matter how much they want to deny the fact, really wants, in the end, to be accepted by the majority of people for being either a talent or a commodity.” Robert Plant, Brian Ash Interview with Led Zeppelin, BBCTV Nationwide, September 16, 1970.
(**) John Lennon e Yoko Ono. As 30 melhores entrevistas de Playboy.SP: Editora Abril, 2000, p. 303.

Mesquinharias, Insônia e Morte

As pessoas não dormem bem após os 30 anos. Preocupam-se muito com as chamadas “mesquinharias do dia-a-dia”* Não querem pensar, mas não conseguem. Parece uma frase atribuída ao Heidegger:

“Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm.”

A insônia aparece como uma tortura por causa do excesso de pensamentos. Entre eles, há o destaque de um: a culpa. Ela aparece tanto no período da insônia quanto nos sonhos.

Ler (Heidegger, Freud e Foucault) certamente ajuda a entender melhor essas problemáticas. Contudo, compreender não significa resolver.

Nem todas as pessoas aceitam as banalidades e as obviedades do cotidiano. Em outras palavras, compreender pode significar ir além da aparência e ver o que a maioria não percebe. Isso, claro, gera dilemas na medida em que “o diferente” não é bem aceito na sociedade.

“O diferente” pode inverter o jogo e passar a rejeitar a maioria. Pode até rejeitar a vida (exatamente pelas questões ditas anteriormente). Michel Foucault:

“Vamos falar a favor do suicídio. Não do direito de suicidar, quando muitas pessoas têm dito tantas coisas bonitas. Mas contra a realidade mesquinha em que vivemos. Contra a humilhação, as hipocrisias (...). **

A maioria não entende essas palavras de Foucault. O filósofo francês tratou de tal dificuldade:

“Aqueles que sobrevivem, eu sei, só conseguem ver no autor do suicídio a solidão, a falta de jeito, as chamadas não atendidas. Eles não podem fazer a pergunta "por que". Afinal, trata-se do único problema que não se coloca em suicídio.(... )Por quê? Simplesmente porque eu queria. ‘É verdade que o suicídio deixa marcas desanimadoras. Mas de quem é a culpa?’ ”**

Aqui aparece novamente a “velha” culpa. No caso do suicida, é comum colocar a culpa na pessoa que morreu. Ela seria fraca e, portanto, mereceria tal “castigo” (a morte).

Contudo, todos morrem, logo todos são “castigados”. Ou seja:

“Parece que a vida é frágil, na espécie humana, e a morte é certa. Por que ela acaba sendo associada ao aparecimento de um castigo?”**

Viver, para a maioria, é “fugir da morte”. Ela está quase sempre associada aos termos negativos como castigo ou condenação.

Falar mal da morte não a faz desaparecer.

Muitos evitam pensar que um dia morrerão – como se isso evitasse a certeza final.

Os incômodos e os dilemas (diante da vida e da morte) fazem parte da condição humana. Segue o mesmo caminho a criação de fantasias, filosofias, religiões e verdades que possam justificar e apresentar algum sentido para a existência do homem nesta vida.

 © profelipe ™ 25-04-2015

(*) Vida e Obra. In.: Heidegger (Os Pensadores). SP: Nova Cultural, 1996, p. 8.
(**) Michel Foucault. Um plaisir si simple. In.: Dit et Ecrits II, Paris: Gallimard, 1994, p. 777-779.

O estresse e o saber científico do médico

O estresse do cotidiano atual e as inúmeras cobranças feitas pelo mercado, pela família, pela religião e pelos amigos (entre outros), adoecem as pessoas e elas tornam-se dependentes de inúmeros remédios - seja para emagrecer, seja para dormir, seja para ficar mais calma e assim por diante.

Neste contexto, Philip J. Cowen (2008) faz uma pergunta importante no título de um artigo: a serotonina e depressão - mecanismo fisiopatológico ou marketing de um mito? Esse tipo de questão existe porque há um poderoso mercado envolvendo os antidepressivos.
 

De fato, os médicos não sabem como os antidepressivos funcionam e nem como eles conseguem melhorar as condições dos pacientes. Não existem exames para avaliar a depressão e a partir daí indicar qual medicamento seria adequado a qual paciente.
 

Os médicos ouvem os pacientes e imaginam que tais remédios podem ajudá-los. Trata-se de “um chute”: pode dar certo ou não. Tanto é verdade que os médicos dizem: “se não funcionar, tentaremos outros remédios.”
 

Os médicos fazem questão de indicar remédios de determinados laboratórios (como a Pfizer) porque ganham vários benefícios com essas indicações. Os representantes destes laboratórios normalmente são recebidos pelos médicos antes dos próprios pacientes.
 

Uma doença grave, que é a principal causa de suicídio no mundo, tornou-se “uma indústria” que beneficia, de diversas maneiras, milhares de médicos e laboratórios.
 

O saber científico do médico é inquestionável (basta ler Michel Foucault) e ainda existe um grande corporativismo na categoria. O resultado é que a união entre os médicos e os laboratórios tem mais a ver com dinheiro do que com a saúde do paciente.

© profelipe ™ 23-04-2015

A MEIA-IDADE NO ROCK

Chris Rock fez piada da Janet Jackson que mostrou o seu seio direito durante o Super Bowl em 2004. Para ele, além do momento inapropriado, a cantora já estava com quase 40 anos.

A Madonna, com 56 anos, resolveu mostrar a bunda no Grammys 2015. No seu último álbum (“Rebel Heart”), ela parece reclamar de sua “inadequação ao circo pop atual” (Veja, 18-03-2015, p. 97)

A revista Rolling Stone atacou a falta de criatividade dos músicos: “num ano [2014] em que os velhos como Springsteen e U2 têm se envergonhado com álbuns de má qualidade.” *

O U2 já está com a sua 'Innocence + Experinece Tour' programada para 2015, afinal, quem se importa?

Os Rolling Stones farão uma tour pelos estádios dos Estados Unidos entre maio e julho de 2015. Eles não possuem um álbum novo para promover. No entanto, estão relançando Sticky Fingers, em edições de luxo, com faixas inéditas e músicas dos shows da época do lançamento oficial. Eles já fizeram isso antes com os álbuns “Some Girls” e “Exile on Main Street”.

Dizem que o Jimmy Page vive de passado porque ele fez isso com toda a discografia do Led Zeppelin recentemente. OK. Pelo menos o Led Zeppelin não usou isso de pretexto para continuar a fazer tours.

Os músicos de rock quando chegam na crise da meia idade parecem perder a noção do ridículo. Parece que não aceitam o fato de que o tempo passou e de que eles não têm nada novo para apresentar.

Não há como negar que ainda são famosos e milionários. Aproveitam disto para fazer shows, chamar a atenção com “escândalos” ou namorar com garotas de 20 anos.

OK, pensando bem... a maioria faria o mesmo se estivesse no lugar destes caras.

© profelipe ™ 04-04-2015

 (*)http://www.salon.com/…/robert_plant_exclusive_i_don%E2%80…/…

O Avião da Germanwings

Morreram 150 pessoas num acidente de avião. A causa, porém, chocou o mundo:

“O homem suspeito de deliberadamente bater um avião A320 Germanwings nos Alpes franceses necessitara de tratamento para a depressão.”*

Se ele, Andreas Lubitz, teve uma séria crise de depressão em 2009 e ainda fazia tratamento, caberia uma pergunta: como conseguia pilotar?

Aqui entra a responsabilidade daqueles que definem a ideologia aceita na sociedade.

Qualquer um sabe que a depressão é uma doença grave e é a principal causa de suicídio no mundo. Entretanto, existe bastante preconceito com a doença. Dizem que ela não existe, que seria “frescura de rico” ou de quem não gostaria de estudar e trabalhar.

A pessoa que sofre da doença é capaz de estudar, trabalhar e levar uma vida normal como qualquer pessoa. Bastaria ter um acompanhamento médico como acontece com qualquer doença.

Mas, apesar disto, o que prevalece (na sociedade), é a visão preconceituosa, o que leva o indivíduo a esconder a doença para não ser marginalizado pelos familiares, amigos ou colegas de escola ou de trabalho. Talvez este tenha sido o caso de Andreas Lubitz:

“A possibilidade de que Lubitz pode ter escondido sua condição - uma tarefa que poderia ter sido facilitada por leis de privacidade médica na Alemanha - pode ajudar a explicar como ele passou no seu programa de treinamento de voo.”**

O que aconteceu com o avião da Germanwings foi uma tragédia. Se a responsabilidade foi de Lubitz, não há como defende-lo pois no ato do seu suicídio, claro, envolveu dezenas de pessoas que nem imaginavam o risco que corriam.

Não foi algo inédito. Eis alguns exemplos:

 “29 de novembro de 2013: Um voo entre Moçambique e Angola caiu na Namíbia, matando 33 pessoas. Os resultados das investigações iniciais sugerem que o acidente foi deliberadamente efetuado pelo capitão logo após o primeiro-oficial (também conhecido como o co-piloto) ter deixado a cabine de comando.
31 de outubro de 1999: Um Boeing 767 da EgyptAir entrou em uma descida rápida de 30 minutos após decolar de Nova York, matando 217 pessoas. Uma investigação sugeriu que o acidente foi causado deliberadamente pelo primeiro oficial, mas as provas não foram conclusivas.
19 dezembro de 1997: Mais de 100 pessoas morreram quando um Boeing 737 caiu na viagem da Indonésia para Cingapura. O piloto - que sofria de "múltiplas dificuldades relacionadas com o trabalho" – foi o suspeito de desligar os registradores de voo e intencionalmente direcionar o avião em um mergulho.”*

Não adianta somente rever as normas da aviação para que os voos sejam mais seguros. É necessário também, como foi o caso do avião da Germanwings, repensar os preconceitos da sociedade e as consequências que podem ocorrer.

© profelipe ™  29-03-2015

 (*) http://www.bbc.com/news/world-europe-32081681
(**) http://www.washingtonpost.com/…/b1818c48-d40b-11e4-8b1e-274…