domingo, 10 de fevereiro de 2013

CORPO: OBJETO DE AMOR

A frase atribuída ao poeta Vinícius de Moraes - "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental" - serve como ponto de partida para a reflexão de uma perspectiva histórica: o elogio do corpo. A valorização da estética do corpo humano não é uma invenção da sociedade capitalista.

Na Grécia Antiga, por exemplo, já havia um elogio ao belo corpo e existiam regras que visavam recomendar o que seria uma relação amorosa adequada. Entretanto, a visão do corpo nos dois modos de produção era oposta: no capitalismo, o corpo "existe" para o trabalho e, na Grécia Antiga, o corpo estava relacionado aos prazeres do ócio.

Entre os gregos, "o amor pelos rapazes" não pode ser confundido com os debates sobre o homossexualismo na atualidade. 

Havia, na Grécia Antiga, uma "passagem da virtude do rapaz para o amor do mestre e para a sua sabedoria." (O uso dos prazeres, p. 210) Assim, de acordo com Michel Foucault: 

"Aquele que é mais sábio em amor será também o mestre da verdade. (...) Na relação do amor, e como consequência com a verdade que, a partir daí, a estrutura, uma nova personagem aparece:

o mestre que vem ocupar o lugar do enamorado, mas que, pelo domínio completo que exerce sobre si mesmo,

modifica o sentido do jogo, transforma os papéis, estabelece o princípio de uma renúncia aos 'aphrodisia' e

passa a ser, para todos os jovens ávidos de verdade, objeto de amor."
(O uso dos prazeres, p. 211)


Lentamente, no mundo ocidental, a mulher ocuparia o lugar do rapaz como objeto de desejo. As relações (entre o casal) mudariam também. O homem passaria a ser percebido simplesmente como "male gaze", ou seja: 

"(...) um 'olhar masculino', a forma como homens por sua obsessão voyeurista procuram manter as mulheres na posição de objetos sexuais que são passivos ao seu olhar." (Camille Paglia, Playboy, October 1991, p. 133)


Camille Paglia, de certa forma, confirma a premissa foucaultiana de que o que era uma relação sofisticada baseada no saber entre um homem e um rapaz tornou-se uma relação óbvia focada apenas nos corpos como objetos sexuais: 

"Eu acredito que a homossexualidade masculina é o símbolo máximo da liberdade humana, e é por isso que você tem essa homossexualidade ocorrendo nesses grandes pontos de cultura, como a Atenas clássica e a Florença." (Playboy, October 1991, p. 171)


Tratar de homossexualidade ou heterossexualidade significa debater sobre estilos de vida e não refletir sobre o tipo de relação sexual em si. O ser humano é dinâmico, está em constante mudança. O seu desejo, no plano individual, varia bastante conforme a idade e os contextos sociais em que vive. Não existe algo pré-determinado. O sexo em si é um instinto, nada mais do que isso. Instinto realizado por qualquer animal.

O que interessa é refletir sobre os significados do sexo para os seres civilizados. Para que isso aconteça, claro, é necessário não ter medo da própria sexualidade e nem ficar preso a dogmas inventados por aqueles que querem te usar (não necessariamente como objeto sexual).

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