sábado, 28 de novembro de 2015

Teses e Assassinatos

Um estudante entra na sala que fará a defesa de sua tese e ele resolve “disparar contra os três professores do seu comitê (banca).”¹
Isso aconteceu na Universidade de Iowa em 1992. Era uma tese de mestrado. O mais comum nestes casos ocorre no processo de elaboração e defesa de uma tese de doutorado (por ser uma pesquisa mais complexa e que demandaria um período maior – no mínimo 4 anos).
No caso citado, o estudante era Frederick Martin Davidson. O ataque foi premeditado e os motivos estariam associados ao ambiente da universidade e as dificuldades de elaboração e aprovação de uma tese, ou seja:
“A tese de Davidson tinha sido rejeitada uma vez já, e ele poderia ter acreditado que a faculdade iria rejeitar a sua tese novamente. (...) [Davidson] estava ressentido com Liang, o seu orientador na pós-graduação, por longas horas de trabalho em laboratório com pouco crédito, ocupando-se em uma coisa que não tinha nada a ver com a sua tese.”²
Pode ainda acontecer que um doutorando, após anos de pesquisa, não receba o seu título de PhD. Ao invés disto, os professores da banca podem decidir dar-lhe um título de Mestre (mestrado). Essa estratégia, porém, pode não dar certo:
“Em 1989, Jens P. Hansen, um estudante de graduação na Universidade de Florida School of Medicine, foi à casa de Arthur Kimura, seu professor de patologia, e atirou nele. Dr. Kimura era o presidente de uma comissão que tinha acabado de votar para encerrar o estudo de pós-graduação do Sr. Hansen, depois de sete anos, com um grau de mestre.”¹
Talvez o caso mais famoso tenha ocorrido em Stanford, com Theodore Streleski:
“Em 1978, ele espancou o seu orientador, Karel DeLeeuw, até a morte com um martelo peen-ball após ser dito que, após 19 anos de pós-graduação, ele não obteria o seu doutorado.”¹
Ainda sobre esse processo...
“Durante o seu julgamento, Streleski disse ao tribunal que ele sentiu que o assassinato foi ‘lógico e moralmente correto’ e ‘uma declaração política’ sobre o tratamento do departamento [quanto aos] seus alunos de pós-graduação.”³
 Não dá para negar que existe um clima de tensão nos programas de mestrado e de doutorado. As cobranças são grandes. As bolsas de estudo e as verbas para pesquisa são disputadas. Existem muitas contradições em todo o processo que nem sempre são reveladas. Tudo isso, porém, não justificaria atitudes extremas como os assassinatos citados.

 © profelipe ™ 28-11-2015


(¹) Dennis Overbye. When Student-Adviser Tensions Erupt, the Results Can Be Fatal.

New York Times, March 27, 2007. http://www.nytimes.com/2007/03/27/science/27murd.html?_r=0
(²) The San Diego State University shooting.  http://murderpedia.org/male.D/d/davidson-frederick-martin.htm
(³)Theodore Streleski. Wikipedia. https://en.wikipedia.org/wiki/Theodore_Streleski

Charlie Sheen

Na época do sucesso de “Two ahd Half Men”, todo solteiro sonhava em ter uma vida como a de Charlie Harper: Malibu, mulheres, dinheiro, bebidas, orgias, confusões e, no final, ele sempre se dava bem.
O ato Charlie Sheen se confundia com o seu personagem. De fato, ele era mais radical: tinha mais dinheiro, se envolvia com drogas (especialmente cocaína) e com muito sexo (pago ou consensual).
Charlie era o cara e ponto final. Saiu da Warner, criou outra série. Casou algumas vezes. Vivia com atrizes de filmes pornográficos. Vivia a vida que qualquer solteiro só podia ter em sonho.
O mito, porém, caiu quando o segredo (que ele pagou milhões para não ser revelado) chegou ao público em geral: ele tem HIV. Hoje isso não significa uma pena de morte, mas ainda é uma marca que fica na pessoa (como se as coisas não tivessem dado certo).
É uma pena. Para os solteiros brasileiros ainda houve outra triste constatação: o fim da Playboy. Mais um mito se foi.
Os solteirões, machistas de plantão, entre outros, talvez até pensem que tudo isso seria o fim de uma era. Assim, teriam que fazer o que acreditavam que nunca seria necessário: crescer, casar, ter filhos e abandonar o velho estilo de vida.
... ... ...
Pois é, "cowboy", a sua hora chegou.

© profelipe ™

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

The Who, PhD & CSI

Pete Townshend disse que muitos jovens iam ao show do The Who sem conhecer as músicas nem a história da banda. Estavam ali só porque o grupo era responsável pela música tema do CSI.
Se você falar em PhD ou defesa de tese de doutorado, a maioria nem dá atenção (especialmente no Brasil, pela maneira como a educação superior é tratada).
Pensei nisso ao ver um episódio do CSI em que a principal suspeita dos crimes seria uma doutoranda que havia sido expulsa do programa por falsificar os dados da pesquisa. Havia ainda divergências entre os professores.
Seria necessário, aparentemente, tanto num caso como do outro, o “aval” de uma série de televisão para lembrar a existência de algo...
Os músicos do The Who são velhos e, portanto, mereceriam ser esquecidos.
A produção de uma tese de doutorado é um assunto para poucos. A maioria não compreende a complexidade e a importância do processo.
Além disto, a universidade é vista, muitas vezes, como uma instituição que estaria fora da sociedade, ou seja, seria algo fechado em si mesmo, com as suas próprias regras. O CSI, neste episódio, tentaria desmistificar isso, afinal, a investigação de um assassinato não dependeria do nível de escolaridade dos envolvidos.
Obviedades...

 © profelipe ™

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Observações sobre a Jihad no rock e no cotidiano

“Jihad” é uma música de The Sisterhood em 1986. Esse projeto foi realizado sob a liderança de Andrew Eldrich (The Sisters of Mercy).
Na época, antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, o termo era quase desconhecido dos ocidentais.
A música também não diz praticamente coisa alguma, o que vale é a sonoridade. Não existe a defesa do terrorismo ou algo parecido. Na letra só aparece:
“Two five zero zero zero
Jihad
(repeat ad infinitum)”
Trata-se de uma referência ao que os músicos estavam vivendo naquele momento (1986). Para quem se interessar, uma interpretação do contexto de “Jihad” (The Sisterhood) encontra-se em “The Three Stigmata of Palmer Eldritch”:
http://1959.tsom.org/sishood_notes.html
Depois de 2001, quando já não havia mais Guerra Fria, o terrorismo islâmico tornou-se a principal preocupação dos ocidentais. Na época, a principal organização era a Al Qaeda. Jihad, guerra santa, passava, aos poucos, a fazer parte do vocabulário de todos.
Com os ataques à Paris em 2015, o Estado Islâmico (EI) assumiu o centro das atenções (no lugar da Al Qaeda). Em comum entre os dois grupos, poucas coisas. Uma delas era a bandeira negra – que aparecia em manifestações populares no oriente médio.
Essa é a cor dos uniformes dos grupos suicidas (não só do EI). Um comentarista disse que uma característica fundamental do EI seria a capacidade de matar.
Existem inúmeros vídeos que fazem propaganda do grupo que servem para comprovar tal hipótese. Dezenas de prisioneiros são assassinados como se isso fosse algo natural. Prisioneiros ocidentais são decapitados como forma de demonstração de poder. O pior é que este tipo de vídeo serve para atrair jovens niilistas do ocidente no sentido de juntar-se ao grupo em suas ações violentas e (muitas vezes) suicidas.
Quanto ao rock and roll, bem, a capa negra do álbum Jihad do The Sisterhood não foi produzida assim ao acaso – essa era a cor dos álbuns oficiais do The Sisters of Mercy. O motivo, mais uma vez, em nada tem a ver com o terrorismo islâmico. Durante muito tempo, Andrew Eldritch e seus companheiros eram identificados como góticos ou gothic rock. Neste estilo, havia um padrão de sonoridade, a cor das roupas, o elogio a morte (imagens de cemitérios) e assim por diante. Depois de muito tempo, Eldritch tentou se distanciar de tudo isso. No entanto, parece que sem muito sucesso.

 © profelipe ™

Bat For Lashes

Vi a Natasha Khan e o seu grupo (Bat For Lashes) no Live from Abbey Road.
Jovens. Roupas pretas (neste especial, pelo menos). A Natasha Khan estava com uma maquiagem quase como Alice Cooper. Bela voz. Parecia gótico (o visual, a melancolia), mas a Natasha Khan é muito mais do que isso. Ela cria muitos projetos.
No Spotify, eu ouvi as covers de “Strangelove” (Depeche Mode) e “A Forest” (The Cure). As versões originais são melhores.

EUA, EI & AQ



As principais lideranças do terrorismo internacional não teriam tanta importância se não fosse o apoio ou a omissão das lideranças norte-americanas. Vejamos...
Se a maior potência do mundo quer bancar uma de xerife, precisaria ter o maior exército do planeta. Na guerra do Vietnã, “mais de 500.000 soldados dos Estados Unidos estiveram envolvidos no conflito.”*
As guerras podem ser impopulares. Isso não aconteceu só com o Vietnã. Foi assim também tanto com a Guerra do Afeganistão (contra o Talibã) como com a Guerra do Iraque. Nestes últimos casos, o presidente Barack Obama ordenou a retirada das tropas norte-americanas.
Parece que o atual presidente dos Estados Unidos ainda quer “marcar” o seu lugar na história restabelecendo as relações diplomáticas com Cuba e com o Irã (sim, o mesmo país em que as lideranças – constantemente - desafiam os E.U.A. e são acusadas de apoiar o terrorismo internacional e de ter um programa nuclear que não seria pacífico).
Apesar de ter sido avisado várias vezes, o presidente Obama não barrou o que seria o avanço do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Quando ocorreram os ataques à Paris, Obama disse que os Estados Unidos eram solidários ao povo francês.
Entretanto, o discurso do presidente norte-americano não convenceu (muito) na medida em que a retórica estava longe da prática defendida pelo líder da maior potência do mundo.
De uma forma bem simples, poderia ser dito que as lideranças dos E.U.A. criaram a guerra do Iraque, destruiriam o governo que havia lá (que conseguia controlar os grupos divergentes no país) e depois retiraram as suas tropas daquele território, permitindo que o caos fosse instalado.
Deste caos, surgiu o Estado Islâmico - a partir de vários grupos, incluindo militares do Iraque e militantes da Al Qaeda (AQ) - que agora seria percebido como uma ameaça aos países ocidentais.
Existe outra questão importante. A Al Qaeda foi criada por Bin Landen. Em 1979, “ele [foi] para o Afeganistão para participar da ‘jihad’, ou ‘guerra santa’ contra a União Soviética.”** Nesta época, as guerrilhas muçulmanas recebiam o apoio de vários países, principalmente dos Estados Unidos.
A Guerra do Afeganistão (1979-1989) foi fundamental para destruir a antiga URSS. Posteriormente, “a criatura voltou-se contra o seu criador”, ou seja, a Al Qaeda foi responsável pelo pior ataque em solo norte-americano em 11 de setembro de 2001. O seu líder (Bin Landen) tornou-se o homem mais procurado do mundo (foi morto só na administração Barack Obama).
Em suma, pode ser dito que, como representantes da principal potência, não seria de se estranhar que as lideranças norte-americanas participassem dos eventos mais importantes do mundo.
Contudo, isso não significa que as suas decisões sejam adequadas para a maioria da população seja no ocidente como no oriente.
© profelipe ™
(*) Vietnam War History.  http://www.history.com/topics/vietnam-war/vietnam-war-history

(**) CNN Wire Staff. Timeline: Osama bin Laden, over the years. CNN, May 2, 2011.  http://edition.cnn.com/2011/WORLD/asiapcf/05/02/bin.laden.timeline/


sábado, 21 de novembro de 2015

Cobranças dos Outros

Você ainda não decidiu o que fazer na vida. Tentou alguns cursos universitários. Saiu de casa. Morou junto. Fez bicos.

Antes eram os pais que cobravam com aquele papo de que você precisaria ter um objetivo na vida. Fora de casa, as cobranças continuaram, não com palavras, mas com olhares.

Não entendiam as suas dúvidas. Não compreendiam a sua liberdade.

Quando os críticos não tinham mais argumentos, apelavam para as ameaças associadas ao que, de fato, não existiria: o futuro, ou seja, seria o tal do: “você vai ver o que vai acontecer...”

Seria só risível se você não vivesse em sociedade e tivesse que conviver com pessoas que parecem torcer contra o tempo inteiro.

Não deveria incomodar. Entretanto, não fica uma sensação agradável ter de lidar com isso diariamente.

© profelipe ™ 21-11-2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Abdelhamid Abaaoud

Vi um vídeo do belga Abdelhamid Abaaoud após os ataques à Paris. Ele ironizava o estilo de vida dos ocidentais (inimigos do Islã), que estariam mais preocupados com o prazer imediato com seus passeios de “jet ski (...) moto cross...”
Vi ainda programas em que os jornalistas e os seus convidados tentavam compreender quem seriam os terroristas e por que eles participariam de atos tão violentos.
Alguns falavam que eram jovens niilistas. Outros diziam que eram jovens desempregados e solitários
que buscavam no Estado Islâmico uma forma de pertencer a algum grupo e de participar de algo importante.

Estas observações parecem fazer sentido.
No vídeo de Abdelhamid Abaaoud, não seria por acaso que seriam citadas coisas como o jet ski ou a moto cross. Abdelhamid Abaaoud falava em francês (isso é importante) para um público jovem europeu, da periferia, que se sentia excluído do estilo de vida hedonista ocidental.
Certamente não dá para culpar o modo de produção capitalista atual pelo que aconteceu em Paris recentemente. A questão é bem mais complexa.
Contudo, não dá para imaginar que não existiriam consequências na adoção de um estilo de vida
que favoreceria a concentração de capital e insistiria no uso de uma moderna tecnologia
que só aumentaria o número de desempregados e de excluídos.

© profelipe ™ 19-11-2015

Fim da Playboy Brasileira

A revista Playboy foi criada por Hugh Hefner na década de 1950 (nos Estados Unidos). A revista foi reproduzida em outros países, inclusive o Brasil.

A edição da Playboy brasileira (após 40 anos) será encerrada agora em dezembro de 2015.*

A revista foi criada no país na época da ditadura militar. Havia censura. "Playboy" não podia aparecer como o nome da publicação e, inicialmente, a revista foi vendida com o nome de “Homem”. Outro problema da censura foi que não poderia mostrar nu frontal. Mesmo com tudo isso, a revista foi um sucesso.

Acompanhei algumas edições da revista com esse título (“Homem”) e depois tornei-me um comprador quando ela já usava o nome de Playboy.

Era uma revista interessante, não só pelas fotos com belas mulheres, mas também havia a famosa entrevista e ainda alguns artigos interessantes.

Entretanto, com o fim da ditadura, a democratização da sociedade brasileira e sua inserção cada mais maior na economia internacional, o interesse pela revista diminuiu.

Após décadas, muita coisa havia mudado no comportamento das pessoas, especialmente das mulheres. O modelo de mulher da Playboy parecia não servir mais. Escrevi um texto sobre tal mudança:

. A Decadência do Padrão "Playboy" de Beleza. http://flertar.blogspot.com.br/2011/11/decadencia-do-padrao-playboy-de-beleza.html


Eu não imaginava, porém, que um dia a Playboy brasileira deixaria de ser publicada; nem imaginava que eu deixaria de comprar regularmente a revista antes disto (parei de comprar a Playboy em julho de 2010).

Em suma... As mudanças acontecem (especialmente se for considerado um período de décadas)... Mesmo assim, não dá para deixar de considerar que chega ao fim uma revista publicada no Brasil que teve um papel importante na representação do imaginário masculino nacional.

 © profelipe ™ 19-11-2015


(*) Fernando Scheller. Editora Abril deixará de publicar Playboy. Estado de São Paulo, 19-11-2015. http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,editora-abril-nao-vai-mais-publicar-a-revista-playboy,10000002459