terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ALIENAÇÃO OU CONSCIÊNCIA NA SEDUÇÃO

 As revistas de nudez nunca atraíram os olhos femininos. Tanto em casos como a Playboy (mulheres nuas) ou a Playgirl (homens nus) o público é o mesmo: homens (heterossexuais ou homossexuais).

De fato, a perspectiva feminina é diferente do olhar masculino. A fêmea precisa ser admirada. O macho gosta de ver, seduzir e caçar.

O homem heterossexual é, antes de tudo, um "voyeur". A mulher possui o poder da atração. Ela conhece os truques, as dissimulações e os acessórios:

"Engano possível sobre o  corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos."*

A mulher, normalmente, sabe utilizar essa ambiguidade a seu favor. Quando isso acontece, torna-se, nas palavras de Neslon Rodrigues,

"uma potência fantástica, devido à atração sexual. Isso lhe dá o instrumento de domínio, todo sujeito que tem grande atração por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."**

Mas... será que toda mulher tem consciência do seu poder de sedução? O corpo humano é importante e pode provocar várias reações.

"A estética está no coração da natureza humana. Quando se fala em estética, é necessário falar da estética do corpo humano."***

Para Camille Paglia, nem sempre as mulheres estão conscientes do que provocam nos outros, especialmente nos homens:

"Vejo mulheres fazendo 'cooper' na rua com os seus seios para cima e para baixo e eu acho que elas estão loucas. Elas realmente não vêem que são um alvo de provocação ao correr."³*

A falta dessa consciência pode criar problemas para as mulheres, entre eles, um dos mais graves seria o estupro. Trata-se de um tema bastante polêmico. Por um lado, "as mulheres, em sua maioria, precisam ser seduzidas e consideradas atraentes."³* Por outro lado, não se pode afirmar que a própria mulher seria a responsável por um estupro. A alienação, nesse caso, pode causar conseqüências imprevisíveis:

"uma garota toma 12 tequilas numa festa de faculdade e um rapaz a chama para subir para o seu quarto e, então, ela fica surpresa quando ele a ataca?"³*

Esta relação de poder entre duas pessoas pode ser associada ainda em outro contexto. Na Grécia Antiga, a relação amorosa considerada "nobre" era entre um homem e um rapaz:

"O amor pelos rapazes não pode ser moralmente honrado, a não ser que ele comporte (...) os elementos que constituem os fundamentos de uma transformação desse amor num vínculo definitivo e socialmente preciosos, o de 'philia'."¨*

A sedução no que diz respeito aos rapazes poderia ser interpretada atualmente como casos de pedofilia:

"Eu endosso, ou defendo, o 'garoto-amante' em meu livro. Isto era racional e honroso na Grécia Antiga, no auge da civilização. Pornografia infantil? Metade da carreira de Caravaggio não é nada além de pornografia infantil, ou seja, meninos expondo os órgãos genitais. Eu posso entender o por que, na atualidade, da proibição de filmes de crianças sendo expostas à pornografia, mas eu defendo as pinturas que apresentam pornografia com crianças ou o sexo nos quadrinhos (que eu realmente gosto). Existe um incrível mercado para os 'sex comics'. Eu acredito que eles são mais criativos do que os orgasmos simulados das mulheres."³*

A mulher e o "garoto-amante" aparecem como objetos de sedução. Entretanto, trata-se de uma relação mais complexa. Primeiro, o que foi dito no caso da mulher aqui refere-se à atualidade e o que foi citado do "garoto-amante" está associado ao período da Grécia Antiga. Segundo, colocar mulher e "garoto-amante" como seres somente "passivos" é polêmico, sobretudo no caso da mulher, adulta, que, muitas vezes, uso o poder de seu corpo como forma de dominação. Dizer que as alienadas são vítimas é desconsiderar que "cada um deveria ser pessoalmente responsável pelo que acontece em sua vida."¨²*

Em suma, a relação entre um adulto e uma criança é uma relação desigual. No entanto, a relação entre dois adultos (homem e mulher, homem e homem ou mulher e mulher) é diferente, ou seja, a alienação não pode servir de justificativa para o fracasso numa relação de poder. Todos nós, conscientes ou alienados, somos responsáveis por nossas escolhas e pela maneira que nos apresentamos aos outros, com os olhares, gestos, sorrisos e, claro, a maneira como nos vestimos.

* Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220.
** Nelson Rodrigues, Playboy, Novembro de 1979.
*** Camille Paglia, Playboy, October, p. 133.
³* Camille Paglia, Playboy, October, p. 170.
¨* Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 198.
¨²* Camille Paglia, Playboy, October, p. 171.

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