quinta-feira, 21 de maio de 2015

ÁLCOOL E CRISE

Em momentos de crise econômica, é comum ocorrer um aumento no consumo de álcool no país. Isso aconteceu tanto na Holanda como na Espanha na crise de 2008.* No “bunker” do Hitler, no final da Segunda Guerra Mundial, funcionárias e militares apelaram para o álcool e a orgia quando perceberam que tudo estaria perdido.**

O álcool serve para diminuir a tensão, mas é utilizado principalmente como um meio de fugir da realidade – seja no presente ou mesmo no que diz respeito a algum trauma no passado ou a uma insegurança quanto ao futuro.

A estratégia seria beber para esquecer. No final, não funciona (a maioria sabe disto), mas mesmo assim, diante de uma situação complicada, parece ser uma alternativa razoável.

O álcool é socialmente aceito. Talvez seja isso.

Muitos não aceitam doenças como depressão ou ansiedade. Quando as crises aparecem, bebem bastante para disfarçar os problemas que não admitem ter. Em outras palavras, seria mais fácil admitir que foi para uma “rehab” do que assumir que teria ido para uma clínica com o objetivo de tratar de uma depressão.

Cada um pode inventar a fantasia que quiser para fugir de um problema real. Existem momentos, porém, que fica difícil não ver o óbvio.

De acordo com o IBGE, existem quase oito milhões de desempregados no país.*** A renda do brasileiro caiu bastante. 

Empresas fecham e milhares perdem os empregos. Tudo isso é uma realidade.

 Tony Dokoupil acredita que a sociedade pode agravar a situação de cada indivíduo, inclusive aumentando o número de suicídios:

“Os sociólogos (em geral) acreditam que quando a sociedade rouba das pessoas o autocontrole, a dignidade individual ou uma conexão com algo maior, as taxas de suicídio aumentam.”****

O que preocupa ainda mais é que essas taxas aumentam a cada ano e dizem respeito a um público específico: as pessoas de meia-idade, ou seja, aquelas estariam entre os 45 e 64 anos.

Nas décadas de 1970 e 1980, a preocupação era com o número de suicídios entre os adolescentes. No novo milênio, isso mudou.

A constante inovação tecnológica (a partir da invenção do computador pessoal em 1976 e a expansão da internet após 1995) tornou o indivíduo cada vez mais descartável diante das novas máquinas. Veio o tal do desemprego estrutural, ou seja, o trabalhador perdia, além do emprego, a sua profissão.

As mudanças foram ruins para a maioria, claro, mas pioraram bastante para aqueles com mais de 40 anos, afinal, de acordo com a ideologia capitalista, ainda existe o elogio do jovem na produção:
 
“Nos Estados Unidos, na última década, a taxa de suicídio diminuiu entre os adolescentes e as pessoas com seus 20 anos, e também foi baixo ou estável para os idosos. Quase todo o aumento foi (,,,) impulsionado com as mudanças em um único grupo de pessoas, um grupo demográfico que antes tinha uma vida feliz: os homens e as mulheres de 45 a 64 anos, essencialmente os ‘baby boomers’ e os seus pares internacionais no mundo desenvolvido.”****

Em outras palavras, trata-se de um grupo de pessoas brancas, de meia-idade. Elas estudaram e trabalharam. Tinham uma vida bastante confortável. Acreditaram na ideologia capitalista – se estudassem, fossem qualificadas, teriam sucesso na carreira e na vida pessoal – e foram descartadas por esse mesmo sistema (após as últimas mudanças na produção).


(*) Cilene Pereira e Fabíola Perez. A crise mexe com a cabeça do brasileiro. Isto É, 24 de Abril de 2015. http://www.istoe.com.br/reportagens/415311_A+CRISE+MEXE+COM+A+CABECA+DO+BRASILEIRO
(**) Ver o filme “A Queda”.
(***) Jornal Nacional em 07-05-2015.
(****) Tony Dokoupil. The suicide epidemic. Newsweek, May, 22, 2013. http://www.newsweek.com/2013/05/22/why-suicide-has-become-epidemic-and-what-we-can-do-help-237434.html

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