quinta-feira, 19 de abril de 2012

SEXO E REPRESSÃO

Não lembro, nas minhas leituras das obras de Domenico de Masi, de ver a teoria de filósofo francês Hebert Marcuse ser citada como algo favorável ao ócio criativo, que seria proporcionado pela revolução tecnológica do computador, que reduziria o trabalho do homem na produção e lhe daria mais tempo livre. 
Roger Kennedy, em seu texto sobre a libido, por outro lado, demonstra que a filosofia de Marcuse teria muito a ver com as teses defendidas por Domenico de Masi. Kennedy, destaca, primeiro, a perspectiva freudiana: 
"Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência." (Kennedy, Libido, p. 75) 
Seguindo essa linha de raciocínio, Roger Kennedy percebe uma continuidade nas hipóteses do filósofo francês: 
"Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade." (Kennedy, p. 75) 
De fato, a base da argumentação de Marcuse seria utilizada posteriormente por Domenico de Masi. Quanto ao resumo de Kennedy sobre Freud, pode ter ocorrido um exagero, na medida em que a sua afirmação não valeria para toda história da humanidade. A sua tese (atribuída a Freud na primeira citação) não seria verdadeira quanto ao discurso da sexualidade na Grécia Antiga. 
Numa perspectiva bem diferente do socialista Domenico de Masi e do marxista Marcuse, o nietzscheano Michel Foucault analisa a sexualidade como uma estratégia discursiva no exercício do poder. 
Se para Marx a luta pelo poder teria uma perspectiva "geral" na sociedade, a partir da contradição entre a classe dominante e a classe dominada, para Foucault não existiria essa "oposição binária e global entre os dominadores e dominados." (A Vontade de Saber, p. 90). 
Michel Foucault defende uma microfísica do poder:
"o poder está em todo lugar; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares." (p. 89) 
Para Foucault, portanto, a repressão geral ao sexo não representa o ponto central do debate na medida em que existem "correlações de forças múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos e instituições." (p. 90)
Em nenhum momento, na perspectiva dos outros citados, é negado o uso repressivo que pode ser ao sexo. A questão seria perceber essa problemática como uma repressão geral sobre toda a sociedade ou enfatizar as estratégias de repressão e de resistência espalhadas por todo o corpo social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.