domingo, 20 de abril de 2014

FUGAS E DROGAS


Paulo Francis dizia que a pessoa que tornava-se viciada em alguma droga teria problemas antes de começar a usá-la. É verdade. O problema não seria a droga em si. A causa seria outra. A obsessão por algo, claro, só piora tudo.

O ser humano normalmente busca o equilíbrio. O excesso é considerado um erro. Entretanto, existe algo no próprio ser humano que pode atrapalhar qualquer busca de racionalidade. Trata-se da emoção. Algo interior (sem controle) que de uma hora para outra pode desestabilizar tudo.

Existem sinais. O indivíduo, no entanto, insiste em negá-los. Alguém que bebe 20 latas de cerveja, obviamente, não faz isso pelo sabor da cerveja ou pelo prazer de beber. Esse indivíduo quer fugir de si mesmo.
O álcool é legal, mas é uma droga como outra qualquer. A maconha é ilegal na maioria dos países e faz menos mal ao organismo do que o álcool. Freud chegou a recomendar o uso de cocaína e escreveu artigos elogiando essa droga (ver “Über Coca”).

A questão talvez seja cultural. O indivíduo precisaria de algo (natural ou não) para “suportar o acontecimento” – essa expressão é de Jacques Derrida. O “acontecimento” poderia ser resumido na vida e nas suas contradições. Como suportar um passado que “insiste” em aparecer nos pesadelos? Como retirar (da mente) pensamentos negativos e desagradáveis que também “insistem” em atrapalhar o bem estar do indivíduo? “Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm.” Essa frase – atribuída a Martin Heidegger – representa o oposto da premissa de Karl Marx em A Ideologia Alemã: Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.”

De qualquer maneira, o que importa é que o indivíduo precisa lidar com as próprias escolhas e consequências. Ou como diria Jean Paul-Sartre:

"(...) é necessário que o homem encontre a si mesmo e se convença de que nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus.” No original: “il faut que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même, fût-ce une preuve valable de l'existence de Dieu.”

Fugir de si nunca é a resposta. O álcool e outras drogas podem levar a um alívio imediato e momentâneo. No entanto, o velho dilema nunca deixará de estar ali. Trata-se, basicamente, do principal problema do homem: ele mesmo.

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