sexta-feira, 26 de outubro de 2012

BDSM & NAZISMO


Já escrevi sobre a associação que existe entre o nazismo e o sadomasoquismo (BDSM). Não há como negar. Basta ver as grandes salas de tal prática, com todos aqueles aparelhos - que "parecem" instrumentos de tortura - e as roupas dos praticantes que imitam os uniformes dos oficiais nazistas. As salas, claro, podem ser associadas aos campos de concentração.
Escrevi ainda, em outros artigos, sobre os elogios de Michel Foucault ao sadomasoquismo. Digo isso para que seja possível compreender a sua análise oposta ao que acabei de descrever sobre o BDSM:

"O nazismo não inventou a grande loucura erótica do século XX,  mas ela foi sim criada pelo imaginário pequeno-burguês mais sinistro, chato e nojento.
Himmler era vagamente agrônomo, e ele se casou com uma enfermeira. 
É necessário entender que os campos de concentração nasceram da associação de um hospital e de um criador de galinhas. 
Quintal mais hospital: essa fantasia estava por trás dos campos de concentração." (Dits et Écrits, p. 1688-1689) *

Primeiro, deve ser respeitado o conceito de hospital de Foucault, o que é diferente da concepção da maioria das pessoas. Tanto a medicina como o hospital foram criados mais para controlar do que para cuidar do indivíduo.
Segundo, os campos de concentração funcionavam também como laboratórios na medida em que as pessoas que estavam presas eram consideradas inferiores pelos nazistas.
De qualquer maneira, o imaginário de terror associado ao nazismo tornou-se um referência importante para os praticantes do BDSM.
Diferente do que afirma Foucault, os sadomasoquistas não "apenas inventam novas possibilidades de prazer, utilizando reconhecidamente partes estranhas de seus corpos." (Michel Foucault, Dit et Ecrits, p. 1556-1557)
Na maioria dos casos, o BDSM está associado aos traumas sofridos na infância. Existe, por parte dos sadomasoquistas, uma recusa no que diz respeito ao processo psicoterápico. Isso não ocorre por acaso. Basta lembrar o destaque que Freud dava a infância no desenvolvimento de um indivíduo saudável. Essas crianças chegam à vida adulta com sérios problemas que podem levar ao BDSM, à depressão ou ao suicídio.
Neste contexto, talvez seja positiva a perspectiva de transformar o que era um trauma infantil em prazer sexual na vida adulta. A questão é que essa estratégia serve também para não enfrentar o verdadeiro problema do sadomasoquista. Trata-se de uma forma de esquecer a dor emocional do passado, utilizando, para isso, a dor (sexual) física do presente. 
Em suma, existem "novas possibilidades de prazer" no sadomaquismo, mas trata-se de uma prática complexa e perigosa. Por mais estranho que possa parecer, o essencial no BDSM provavelmente não está relacionado à atividade sexual.

* "Le nazisme n'a pas été inventé par les grands fous érotiques du XX siècle, mais par les petits-bourgeois les plus sinistres, ennuyeux, dégoûtants qu'on puisse imaginer. Himmler était vaguement agronome, et il avait  épousé une infirmière. Il fault comprendre que les camps de concentration sont nés de l'imagination conjointe d'hôpital e d'un éleveur de poulets. Hôpital plus basse-cour : voilà le fantasme qu'il y avait derrière les camps de concentration." (Michel Foucault, Dits et Écrits, p. 1688-1689)

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