segunda-feira, 11 de agosto de 2014

NOVELA E COMPORTAMENTO


Houve um tempo em que a novela era transmitida pelo rádio. Existia também em forma de revista - a fotonovela. A sofisticação do formato veio com a televisão.
O sucesso da novela brasileira ultrapassou os limites do país. Entretanto, o seu conteúdo não pode deixar ser problematizado.
Na época do regime militar, tratava-se de um meio claro de alienação das pessoas (e ainda sofria censura por parte dos governantes).
Com a redemocratização, as temáticas mudaram e ficaram mais próximas da realidade das pessoas. Foram discutidas ainda problemáticas consideradas polêmicas, como o homossexualismo e o preconceito diante de algumas doenças.
O essencial, porém, permaneceu: a dicotomia entre o bem e o mal, o excesso de drama e a visão simplista (e ideológica) da sociedade brasileira.
Num país em que a educação não é levada a sério, os professores recebem mal e as escolas tornaram-se um meio de enriquecimento para poucos, as novelas acabaram assumindo um papel importante no que diz respeito ao comportamento dos cidadãos.
Em suma, as pessoas aprendem como se relacionar umas com as outras a partir do que assistem em novelas. Aqui está o problema: na telinha, as pessoas gritam (não conversam), são agressivas, violentas e manipuladoras como se isso representasse o “cotidiano normal” de cada um. Não é verdade. Mas para quem não vai à escola, não tem um pai dentro de casa (ou alguma pessoa que represente a figura da autoridade), o que é visto na televisão aparece quase como normas de comportamento social.
Tudo piora quando surgem, nos intervalos da novela, os tais comerciais que, com produções requintadas, mostram uma infinidade de produtos que seriam sinônimos de prazer, conforto e modernidade. O telespectador é avisado que poderia possuir tudo aquilo a partir de parcelas “infinitas” que caberiam no seu orçamento. Trata-se de uma armadilha e a inadimplência só comprova isso.
O mais grave é o que isso faz com o jovem: é estimulado o desejo por bens materiais; não existem, no entanto, escolas adequadas e nem empregos para todos. Indiretamente, a alternativa seria a criminalidade, afinal, só se envolvendo com atividades como o roubo e o tráfico de drogas, o tal jovem conseguiria dinheiro para possuir os cobiçados bens e fazer sucesso nas “baladas”.
O resultado de tudo isso está na insegurança das cidades. Aumentar o número de policiais e de presídios não mudará esse quadro. A questão social – com o uso irresponsável dos meios de comunicação – é bem mais complexa do que as soluções simplistas de políticos que só pensam em garantir lugares no poder.
© profelipe ™ 11-08-2014

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