sábado, 24 de março de 2012

INFÂNCIA

Ao tornar-se civilizado, o homem tornou-se complexo e contraditório. Deixou de realizar automaticamente o seu desejo. O preço dessa mudança é pago por cada indivíduo até hoje.
Freud já alertava para o conflito entre o desejo da pessoa (egoísmo) e o interesse da sociedade (altruísmo) que existiria em cada indivíduo. O resultado deste conflito pode, claro, tornar a pessoa infeliz, dissimulada e com um grande medo do passado ou do futuro.
Não é possível que o homem entenda o presente sem relacioná-lo com o passado, sobretudo com o que aconteceu na infância. Ela é a base de tudo.
No depoimento de um agente do FBI no DVD do filme "Silêncio dos Inocentes", analisando os casos reais nos Estado Unidos, ele afirma:
"Na minha pesquisa, não acredito que alguém nasce como um 'serial killer' (assassino em série). 
Com "serial killers" ou estupradores, existe alguma experiência na infância." 
Na história do filme ("O Silêncio dos Inocentes") , uma agente do FBI, a personagem Clarice, precisa da ajuda de um psiquiatra que encontrava-se preso por vários crimes e era conhecido como "canibal" ou Dr. Lecter. Ela necessitava da experiência (e inteligência) desse  psiquiatra para capturar um "serial killer", que seria apresentado por Dr. Lecter da seguinte maneira:
"Nosso Billy não nasceu um criminoso, Clarice. Ele tornou-se um após passar por anos de abuso. Billy odeia a sua própria identidade e ele acredita que isso o transforma em transexual. Mas a sua patologia é mil vezes mais selvagem e terrível."
Dois autores, sem desconsiderar a importância da infância, procuram, de certa forma, ir além dos pressupostos de Freud:
"(...) Stolorow e Atwood referem-se a outro modo de impedir que acontecimentos ruins na infância cheguem à consciência, não por serem reprimidos, mas porque não são aprovados por figuras importantes no meio da criança e portanto não se pode reconhecê-los nem pensar neles."
Contudo, Stolorow e Atwood admitem que esses traumas ocorridos na infância podem, um dia, aparecer na consciência da pessoa:
"Os autores apresentam o exemplo de uma moça de 19 anos que sofreu um colapso psicótico.
Quando a garota era mais jovem, o pai a violentara por muitos anos. Era o segredo de pai e filha. (...) o abuso sexual contrastava enormemente com a aparência externa de normalidade: os membros da família eram bem-vistos na comunidade e frequentadores assíduos da igreja. Portanto, havia uma acentuada dissociação na família e na vivência da moça."
Em suma, o trauma que aconteceu na infância - que "não poderia ser reconhecido" - em algum momento, abandona o inconsciente e torna-se claro para a vítima. Muitas vezes isso ocorre no início da vida adulta e no caso do exemplo citado o resultado foi um colapso psicótico.

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