quinta-feira, 30 de abril de 2015

Mesquinharias, Insônia e Morte

As pessoas não dormem bem após os 30 anos. Preocupam-se muito com as chamadas “mesquinharias do dia-a-dia”* Não querem pensar, mas não conseguem. Parece uma frase atribuída ao Heidegger:

“Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm.”

A insônia aparece como uma tortura por causa do excesso de pensamentos. Entre eles, há o destaque de um: a culpa. Ela aparece tanto no período da insônia quanto nos sonhos.

Ler (Heidegger, Freud e Foucault) certamente ajuda a entender melhor essas problemáticas. Contudo, compreender não significa resolver.

Nem todas as pessoas aceitam as banalidades e as obviedades do cotidiano. Em outras palavras, compreender pode significar ir além da aparência e ver o que a maioria não percebe. Isso, claro, gera dilemas na medida em que “o diferente” não é bem aceito na sociedade.

“O diferente” pode inverter o jogo e passar a rejeitar a maioria. Pode até rejeitar a vida (exatamente pelas questões ditas anteriormente). Michel Foucault:

“Vamos falar a favor do suicídio. Não do direito de suicidar, quando muitas pessoas têm dito tantas coisas bonitas. Mas contra a realidade mesquinha em que vivemos. Contra a humilhação, as hipocrisias (...). **

A maioria não entende essas palavras de Foucault. O filósofo francês tratou de tal dificuldade:

“Aqueles que sobrevivem, eu sei, só conseguem ver no autor do suicídio a solidão, a falta de jeito, as chamadas não atendidas. Eles não podem fazer a pergunta "por que". Afinal, trata-se do único problema que não se coloca em suicídio.(... )Por quê? Simplesmente porque eu queria. ‘É verdade que o suicídio deixa marcas desanimadoras. Mas de quem é a culpa?’ ”**

Aqui aparece novamente a “velha” culpa. No caso do suicida, é comum colocar a culpa na pessoa que morreu. Ela seria fraca e, portanto, mereceria tal “castigo” (a morte).

Contudo, todos morrem, logo todos são “castigados”. Ou seja:

“Parece que a vida é frágil, na espécie humana, e a morte é certa. Por que ela acaba sendo associada ao aparecimento de um castigo?”**

Viver, para a maioria, é “fugir da morte”. Ela está quase sempre associada aos termos negativos como castigo ou condenação.

Falar mal da morte não a faz desaparecer.

Muitos evitam pensar que um dia morrerão – como se isso evitasse a certeza final.

Os incômodos e os dilemas (diante da vida e da morte) fazem parte da condição humana. Segue o mesmo caminho a criação de fantasias, filosofias, religiões e verdades que possam justificar e apresentar algum sentido para a existência do homem nesta vida.

 © profelipe ™ 25-04-2015

(*) Vida e Obra. In.: Heidegger (Os Pensadores). SP: Nova Cultural, 1996, p. 8.
(**) Michel Foucault. Um plaisir si simple. In.: Dit et Ecrits II, Paris: Gallimard, 1994, p. 777-779.

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