terça-feira, 5 de abril de 2016

O Ser Humano e a Máquina

Antes não havia bateria eletrônica. Mas havia John Bonham, Keith Moon e tantos outros. Certamente a inovação tecnológica foi feita a partir do som criado por esses grandes músicos.
The Sisters of Mercy é uma banda de rock que sempre usou bateria eletrônica – Doktor Avalanche. É um bom exemplo. Quem ouve a música “Never Land” (do álbum Floodland) logo identifica a batida da música que foi copiada do John Bonham em “When The Levee Breaks” do Led Zeppelin IV. Sim, “a máquina copiou o ser humano”, ou, o ser humano faz melhor.
Não me importo que me chamem de saudosista (apesar de não ser tão simplista). A questão é que a revolução tecnológica - associada às invenções do computador pessoal e da internet – vulgarizou ainda mais o mercado e reforçou a (pseudo) satisfação pelo que é superficial e imediato.
Em universidades, por exemplo, os professores de disciplinas das ciências humanas são substituídos por programas de computador que “permitiriam o aluno aprender sozinho". É uma farsa, claro, afinal, não existe o debate, o que compromete a reflexão e a produção de conhecimento.
Outro exemplo seria o mercado da música. Na prática, houve uma desvalorização dos músicos e dos compositores, como fica claro no depoimento de Pete Townshend:
“Eu sou um usuário do Spotify, por isso eu me sinto como um hipócrita completo quando eu digo: eu acho que o cara que usa isso é provavelmente um bandido. Leve-me ao tribunal. Eu estava lendo sobre algum artista que teve a usa música tocada 450.000 vezes e ele recebeu um cheque ridículo [quase nada]. Não faz qualquer sentido. Eu li algo hoje que seria necessário pagar uns US$ 10.000 para uma banda fazer o seu primeiro show no SXSW. (...) Você sabe, antigamente éramos pagos para fazer esse tipo de coisa.”*
Em outras palavras, o compositor não ganha para criar e o músico precisa pagar para tocar. Hannah Ewens:
“Eu ingenuamente imaginara que, quando você consegue lotar casas de espetáculos com capacidade para 3.000 pessoas e mandar super bem na lista dos mais vendidos do rock na Inglaterra, provavelmente dormia até tarde todo dia, tocava alguns acordes e queimava o resto da noite cheirando cocaína no umbigo de uma stripper e bebendo uísque de primeira com a conta paga pela gravadora. A vida de lazer dos roqueiros. Mas acontece o seguinte: esse estilo de vida é um mito. Ele está morto. Neste ano, você pode contar nos dedos de uma ou duas mãos as bandas inglesas que estão confortavelmente independentes da labuta de 9 às 5.”**
O que estaria morto não seria só o estilo de vida dos rockeiros. A mudança é muito mais ampla. O ruim é que a maioria sofre as consequências da revolução tecnológica e nem se dá conta do processo que ocorre.
Alguns compreendem as falhas e contradições de tanta inovação que afeta o mercado. No entanto, ninguém sabe ainda como sair da grande armadilha criada a partir da revolução tecnológica.

© profelipe ™
(*) Andy Greene. Who’s Done? Pete Townshend’s Ambivalent Farewell. Rolling Stone, May 7, 2015. http://www.rollingstone.com/music/features/whos-done-pete-townshends-ambivalent-farewell-20150507#ixzz3am7Qkihs
(**) Hannah Ewens. Na Inglaterra, uma monte de bandas de rock de sucesso ainda trabalha das 9 às 5. Noisy. http://noisey.vice.com/pt_br/blog/na-inglaterra-um-monte-de-bandas-de-rock-de-sucesso-ainda-trabalha-de-9-as-5?utm_source=noiseyfacebr

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