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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sofisticação e Cativeiro

Não existe novidade no autoflagelo. Nem seria possível dissociá-lo da culpa cristã. Causar dor em si mesmo não é algo novo ao ser humano.
O que é recente é o termo BDSM.* "Bondage", em especial, representa bem esse imaginário quando são alimentadas fantasias numa época predominantemente niilista.
Existem clubes de BDSM. Entretanto, a prática não é ilegal. Muitos são exibicionistas, mas todos sabem que nem sempre os indivíduos ditos "normais" compreendem ou aceitam formas diferentes de prazer sexual. Assim, o segredo torna-se uma opção da maioria.
A prática do BDSM exige certas condições financeiras. Os acessórios não são baratos. Existem salas que mais parecem academias de musculação, com aparelhos grandes e pesados.
Chama a atenção, de um lado, a sofisticação dos participantes - os homens, normamente, vestem ternos escuros e as mulheres calçam sapatos de salto alto e belas lingeries - e, de outro, a existência de ambientes que parecem cativeiros sujos, escuros e empoeirados. Trata-se de uma contradição óbvia. Faz parte da fantasia.
Tratar de BDSM é lidar com o termo ambiguidade. Prazer e dor. "Dominadores" e "dominados". Apesar de existir um "contrato", não há como negar que é um caminho de mão dupla. Quem, na verdade, exerce o poder sobre o outro?
O que existe em comum é o elogio da dor física como forma de desconsiderar - esquecer ou "apagar" - a dor emocional, normalmente sofrida em frequentes abusos na infância. Neste sentido, por mais que pareça uma prática estranha, o BDSM representa, na verdade, um pedido de socorro ou talvez, na maioria dos casos, uma última alternativa de continuar vivo diante de uma existência sem sentido.  

Bondage & Discipline Dominance & Submission Sadism and Masochism.

domingo, 29 de julho de 2012

PODER, SEXO E DINHEIRO

Paulo Francis costumava dizer que "quem não tem sexo nem dinheiro, não pensa em outra coisa". Eu acrescentaria uma terceira coisa: poder.
De fato, as pessoas utilizam a busca sexo, dinheiro e poder para evitar o óbvio: pensar em si, na sua própria condição de existência.
Os indivíduos procuram construir uma lógica para justificar uma busca que nunca termina. Conseguiu dinheiro? Precisa procurar mais. Poder? Mais.
E o sexo? Mais... Entretanto, nesse ponto, como conseguir mais?
Em termos de quantidade, bastaria aumentar o número de parceiros. Mas, mesmo assim, pode ficar repetitivo. Faltaria "qualidade" ou para ser mais exato: "novidade". Aqui a invenção da Sex Shop representa uma ajuda.
Limites? É difícil, mas torna-se necessário, exceto se, no fundo, o indivíduo deseja mesmo é a morte.
O início é sempre o mesmo: anos de casamento, novas posições e, depois, conversas sobre as fantasias do casal. Visitas ao Sex Shop. Ménage à trois ("threesome")? Swing (troca de casais)?
Depois da década de 1980, o swing virou "moda" no Brasil. Passou. O swing é um jogo perigoso na medida em que pode representar o fim do casamento.
Para os solteiros, mais recentemente, surgiram as festas em fazendas com bastante álcool, drogas e orgias promovidas, algumas vezes, em "dark room" (uma ideia antiga usada em boites homossexuais desde, pelo menos, a década de 1970).
Nos anos 1990, surgiu o termo BDSM (Bondage Discipline Sadism Masochism). Na prática, tornou-se comum relações que utilizavam os recursos do sadomasoquismo. Para quem se identificava com esse estilo, como no caso do swing, surgiram os clubes especializados. Um fotógrafo famoso da Playboy norte-americana, Ken Marcus, abandonou as fotos "convencionais" e passou a se especializar em BDSM, que ele associava ao termo "exquisite erotica".
Juntamente com o BDSM, tornou-se comum o "sex tape" na Internet assim como o "snuff film" - que mostraria assassinatos supostamente reais.
Onde tudo isso pode parar? A parada final pode ser a morte. Trata-se de um jogo, como seria a "asfixia erótica". Um exemplo: a causa oficial da morte de Michael Hutchence seria suicídio. Entretanto, a sua companheira na época, Paula Yates, insistia que isso não seria verdade, que o amante teria morrido numa auto-axifia-erótica.
Os jogos sexuais podem ser perigosos pois, em sua maioria, escondem inseguranças ou traumas vividos na infância. Entrar nesse "universo" é um risco. Ficar na mesmice e na monotonia de uma vida sexual pode também não ser a melhor solução a ser adotada por um casal. No fundo, é uma questão de escolha. 

sábado, 21 de julho de 2012

PERVERSÃO

BDSM não é crime. É considerado, por muitos, uma perversão. Problema? Basta pensar nas questões freudianas. 
Neste contexto, Jacques André afirma: 
"A culpabilidade evoca a falta e, assim, a 'sequência de Édipo': desejo - proibição - transgressão." (Préface, FREUD, La malaise dans la culture, p. XVI)
Em outras palavras, a transgressão é uma forma de resistência aos limites impostos pela civilização. A perversão poderia ser vista também como resistência?
Do ponto de vista geral, da civilização, é interessante perceber que a centralização de poder da igreja na Idade Média reforçou a tese da culpa - o indivíduo "nasce no pecado" -, as técnicas de tortura - na Inquisição - e o autoflagelo como forma de tentar "limpar os pecados" a partir da dor.
O sentimento de culpa persegue o sadomasoquista. Essa culpa está associada aos abusos sofridos na infância. Trata-se, basicamente, da culpa de "não ser amado".
Nas guerras e nos regimes ditatoriais e totalitários, os militares "inovaram" criando várias e novas técnicas de tortura. O nazismo, em especial, tornou-se um símbolo nesse sentido. Não foi por acaso, aliás, que o uniforme nazista passou a ser utilizado nas práticas de BDSM.
O autoflagelo usado por religiosos, com o cilício, por exemplo, ainda deve ser associado ao pecado. No BDSM, a utilização do autoflagelo representa algo diferente: o recurso da dor física torna-se uma forma de tentar "apagar" uma dor emocional - normalmente um trauma sofrido na infância.
Em suma, apesar de ser visto como uma "aberração", o BDSM é resultado das contradições criadas pelos ditos "homens civilizados". Prazer e dor fazem parte da chamada condição humana.