sábado, 27 de fevereiro de 2016

2016 & 1917

Não é necessário ser um especialista para perceber que existe uma crise no país. Dados oficiais e notícias confirmam tal realidade. Em janeiro, por exemplo, com informações do Ministério do Trabalho, o G1 anunciava:
“Em 2015, país fecha 1,54 milhão de vagas formais, pior taxa em 24 anos.”*
Em fevereiro, foi revelado “o fechamento de 95,4 mil lojas com vínculo empregatício no ano passado.”**
Se, por um lado, existem problemas pontuais que dizem respeito ao governo brasileiro, por outro, deve ser considerada a existência de uma crise maior, que estaria relacionada às transformações do mundo do trabalho.
“Os anos 1960 e 1970 foram um marco da disciplina ‘história social’, definida como o estudo das classes, dos movimentos e dos conflitos sociais. (...) A [Primeira] Grande Guerra foi um momento de reorganização maciça de trabalho industrial, e muitos historiadores analisaram a guerra como um momento dialético. Os temas (de muitas pesquisas) estavam relacionados à militância industrial, às greves, ao pacifismo, e, finalmente, ao novo mundo do trabalho - definido pelas revoluções russas de 1917.”
Ou seja, o “novo mundo do trabalho”, em 1917, era definido a partir do vitorioso movimento revolucionário russo, numa perspectiva marxista de conflito de classes sociais, que colocava a greve como uma das principais estratégias de luta (do ponto de vista do trabalhador).
A questão central é que o mundo de 2016 não é o mesmo de 1917. As inovações tecnológicas mudaram bastante a produção. O consumismo foi cada vez mais incentivado. Para piorar, houve a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo real dos países do leste europeu, o que passava, ideologicamente, a mensagem de fim da história e de vitória do capitalismo.
Em 2016, poucos acreditam numa revolução (nos moldes do modelo russo de 1917) como a solução de todos os problemas. Os capitalistas utilizavam (e ainda usam) as recentes transformações tecnológicas para demitir milhares de trabalhadores. Foi criado o conceito de desemprego estrutural, quando o trabalhador, além do emprego, perdia também a profissão. A máquina estaria tomando o lugar do trabalhador na produção.
Os líderes dos trabalhadores não souberam criar novas estratégias de lutas contra os capitalistas. Em 2016, a greve continua a ser a principal estratégia de luta do trabalhador como em 1917 ou mesmo no século XIX. 5.000 trabalhadores (ou mais) são demitidos numa única empresa e nada acontece. Ocorre uma maior concentração de capital nas mãos de uma minoria e nada acontece. Seria como se os capitalistas estivessem vivendo de acordo com os projetos de 2016 e, do outro lado, os líderes dos trabalhadores estivessem vivendo com um imaginário e ideias de 1917.
O pior é que, para a maioria, o que acontece hoje, claro, ainda deve durar por muito tempo.
© profelipe ™
(*) Alexandro Martello.Em 2015, país fecha 1,54 milhão de vagas formais, pior taxa em 24 anos. G1, 21/01/2016. http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/em-2015-pais-fecha-154-milhao-de-vagas-formais.html
(**) Daniela Amorim, Crise econômica acabou com cem mil lojas no ano passado. Estado de São Paulo, 13/02/2016. http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,crise-economica-acabou-com-100-mil-lojas-no-ano-passado,10000016115
(***) Jay Winter. Historiography 1918-Today. 1914-1918. International Encyclopedia of First World War. http://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/historiography_1918-today

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