segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Ambivalência do Ser

A consciência do homem pode ser vista como algo bom ou ruim. Ele tem consciência do mundo e possui a capacidade de compreender e refletir, mas é limitado em sua própria condição humana. A dor é real. Sabe que existe para a morte e, ao mesmo tempo, não pode fazer coisa alguma quanto a isso. Simone de Beauvoir cita Montaigne e faz uma leitura um pouco diferente deste processo:

“’O trabalho contínuo de nossa vida’, diz Montaigne, ‘é a construção da morte.’ O homem sabe e pensa sobre essa ambivalência trágica que o animal e a planta meramente sofrem. Um novo paradoxo é assim introduzido ao seu destino. ‘Animal racional’, (...) ele escapa de sua condição natural, sem, no entanto, libertar-se.”*

Em outras palavras, o homem continua com suas limitações. Ele pode criar coisas, compreender e interpretar as relações, estabelecer diferentes formas de comunicação, mas nada disto o impede de sofrer.

“A cada momento, ele pode compreender a verdade não-temporal de sua existência. Mas entre o passado que já não existe mais e o futuro que ainda não é, neste momento a existência do homem não significa coisa alguma. É o nada. Este privilégio, que só ele possui, de ser um sujeito soberano e único em meio a um universo de objetos, é o que ele compartilha com todos os seus semelhantes. Por sua vez (...), ele não é nada mais do que o indivíduo na coletividade em que ele depende.”*

No entanto, tal privilégio não o impede de sofrer. Depender de uma coletividade não o impede de sofrer. Muito pelo contrário. Talvez seja necessário problematizar além da ambiguidade da ética pensada por Simone de Beauvoir.

As regras da coletividade (civilização) chocam-se com os instintos naturais do homem. Esse conflito produz dor no indivíduo. A consciência de “existir para morrer” gera angústia na maioria. A lógica parece uma invenção cujo único objetivo seria dar algum alívio para a existência e para uma vida sem sentido.

Tal negativismo em nada tem a ver com a teoria de Simone de Beauvoir. Contudo, pode dizer muito coisa sobre a realidade deste planeta.

© profelipe ™

(*) Simone de Beauvoir. The ethics of ambiguity. In.: Charles Guignon, The Good Life, p. 262. 

Em inglês:
 “’The continuous work of our life’, says Montaigne, ‘is to build death’. Man knows and thinks this tragic ambivalence which the animal and the plant merely undergo. A new paradox is thereby introduced into his destiny. ‘Rational animal’, ‘thinking reed’, he escapes from his natural condition without, however, freeing himself. He is part of the world of which he is a consciousness. (…) At every moment when he can grasp the non-temporal truth of his existence. But between the past which no longer is and the future which is not yet, this moment when he exists is nothing. This privilege , which he alone possesses, of being a sovereign and unique subject amidst a universe of objects, is what he shares with all his fellow-men. In turn an object for others, he is nothing more than the individual in the collectivity on which he depends.”

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