sábado, 6 de fevereiro de 2016

Carolzinha do Funk

Escrevi sobre a minha experiência num show de funk da Tati Zaqui. Estava tentando entender o estilo funk aqui no país, apesar de ter escrito mais sobre a cantora.*

Jovens bonitas e “modernas” sempre chamam a atenção (“cabelo azul, tatuagem, piercing e bissexualidade”), tanto que a Tati Zaqui foi capa da Playboy de julho de 2015.

A aceitação deste tipo de beleza (reconhecida e elogiada numa revista de circulação nacional) pode esconder algo complicado: o elogio da violência que aparece associada a este tipo de música. Isso, porém, não significa que todos os fãs concordem com essa premissa. Para a maioria, o que interessa é a música. No entanto, não há como negar que existem mensagens implícitas que podem influenciar o comportamento dos mais jovens.

Aqui começa uma segunda parte sobre tal debate: a morte da Carolzinha do funk,** que usava a internet para reafirmar a sua imagem de poder. De acordo com o jornal O Tempo, ela chegou a escrever no seu perfil do Facebook:

“Meu jeito n@o muda è apenas uma maneira de dizer que chefe è chefe nè”***

Carolzinha foi morta num conflito com a polícia. Ela era uma garota de 19 anos (cabelos vermelhos), várias tatuagens, que cometia assassinatos desde os 15 anos e era famosa em Betim por ser uma das líderes do tráfico de drogas na região. Ainda na análise do jornal O Tempo, ela:

“Sempre cercada de amigos e namoradas, (...) gostava de ostentar em fotos de festas e viagens.”***

Na matéria do jornal, aparecem fotos da Carolzinha (uma do facebook e outra quando ela tinha sido presa).

Claro que a intenção do jornal era informar e, no fundo, passar a mensagem de que esse tipo de comportamento acaba mal para o indivíduo.

O problema é que, indiretamente, valores associados (e elogiados) deste estilo de vida seriam reafirmados na matéria: beleza, juventude, bissexualidade, amizades, poder e ostentação.

Essas características e o sucesso de cantores e cantoras do funk podem passar a ideia, para os mais jovens e inexperientes, de que esse seria o caminho para quem deseja ser popular e aceito por todos.

De fato, trata-se de um truque em que os meios de comunicação, com intuito de criticar, acabam revelando como positivas
características que, na prática, servem como iscas para os jovens que procuram respostas imediatas e superficiais para um cotidiano cada vez mais sem sentido – não existe emprego e está desacreditada a ideologia de que estudar bastante seria a garantia de um futuro feliz.

© profelipe ™

(*) http://flertar.blogspot.com.br/2015/12/tati-zaqui.html
(**) http://www.otempo.com.br/o-tempo-betim/fim-da-linha-para-carolzinha-do-funk-1.1226850
(***) http://www.otempo.com.br/cidades/aos-15-anos-carolzinha-j%C3%A1-era-considerada-matadora-do-tr%C3%A1fico-1.1225801

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