quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Básico (Dostoyevsky)

No século XIX, as contradições do capitalismo já eram analisadas e criticadas, afinal, no lugar do “reino da liberdade”, o que se via era “escravidão e autodestruição.”* No caso de Dostoyevsky, parece que ele tocava no ponto central do debate: o elogio ao desejo:
“O mundo diz: 'Você tem desejos e deve satisfazê-los, pois você tem o mesmo direito que os mais ricos e poderosos. Não tenha medo de satisfazê-los, e até mesmo multiplicar seus desejos.’ Esta é a doutrina moderna do mundo. Nisto eles vêem liberdade.”*
Um indivíduo mais egoísta, imediatista, cínico e superficial seria uma das consequências do princípio do elogio ao desejo como objetivo fundamental para o ser humano.
Entretanto, seria importante destacar que os indivíduos não seriam afetados da mesma maneira por causa desta “multiplicação de desejos”:
“No rico, aparecem o isolamento e o suicídio espiritual; nos pobres, a inveja e o assassinato.”*
Em todos, certamente, surge o sentimento de vazio - que a satisfação dos desejos imediatos e individuais não consegue preencher.
O que foi dito no século XIX vale ainda hoje. O niilismo** atual não deveria causar surpresa.

© profelipe ™

(*) Fyodor Dostoyevsky, The Brothers Karamazov (p. 127).
(**) Charles Guignon, The Good Life, p. 103.

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