Na época em que foi lançado nos cinemas, muitos não  entenderam o sucesso, sobretudo entre as mulheres, do filme "9 Semanas  & Meia de Amor". Mickey Rourke era uma galã em ascensão, o modelo  de Hollywood no período. No entanto, isso não era suficiente para explicar o  sucesso de um filme supostamente erótico. Aliás, cenas sensuais nunca  atraíram a maioria das mulheres - tanto é verdade que o público de filmes  pornográficos é basicamente masculino.
Assim, o que existiria de especial em "9 Semanas &  Meia de Amor"? Não existia um final feliz como em uma "Linda  Mulher" ("Pretty Woman"), mas o filme tratava de símbolos do ato  sexual. Não era explícito. Não Precisava. O que importava era a  representação das fantasias. Uma comum seria encontrar uma pessoa estranha, ao  acaso, e viver uma intensa paixão. Essa fantasia estaria associada ao medo do  desconhecido, na medida em que o objeto da paixão poderia ser qualquer coisa,  inclusive um assassino ou um psicopata. 
Outra fantasia seria o "príncipe" ser bonito,  elegante - sem exageros, o que explicaria a barba mal feita -, rico e  excêntrico. O personagem de Rourke era uma síntese dessas características.  Havia os jogos eróticos, como vendar os olhos diante da geladeira aberta e  aceitar o que era colocado na boca: comida e sexo, dois desejos num único ato!
Vestir-se de homem e aparecer em público, com o apoio do  namorado. Viver cenas homossexuais "masculinas" num restaurante,  chocando os outros clientes... Fugir por becos, correr perigo, fazer sexo na  chuva... Precisaria mais?
Ser presenteada com roupas caras numa loja, quando o seu  amante paga tudo em dinheiro sem conversar sobre o preço da mercadoria. Menáge  à trois... O simbolismo do relógio associado à obsessão de ser lembrado  sempre.
Havia ainda a atenção e o carinho do namorado em cuidar dela  quando estava doente. Tudo parecia perfeito no ponto de vistas das fantasias,  mas, no final, a personagem iria embora e abandonaria o romance após um curto  período de tempo (daí o nome do filme). Por quê? 
Aparentemente, paixão e fantasia não existem para durar.  São chamas intensas e talvez por isso desapareçam rapidamente. Seria como se a  vida cotidiana parasse o seu ritmo e existisse um "flash" de puro  prazer, quando só haveria tempo para o casal viver a sua paixão! Quem já  passou por algo assim, sabe que seria como uma doença, a obsessão de pensar e  querer ficar com a pessoa amada vinte e quatro horas, o tempo todo. O resto -  família, trabalho, estudo - perderia sentido. 
Mas... como viver assim durante toda a vida? Não é  possível. Elizabeth - a personagem  do filme - sabia disto e foi embora  antes da decadência da paixão. Seguiu, a sua maneira, a velha premissa do  poeta Vinícius de Moraes: "que seja eterno enquanto dure".
 
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