quinta-feira, 6 de março de 2014

DEPRESSÃO PARALISANTE E CRISE SOCIAL


Em 2010, Marian Keyes, autora de vários livros, afirmou:
"Eu tenho consciência de que estes são tempos terríveis, e que há muita gente lá fora arruinada pelo clima econômico, que perdeu seu teto, e que todo dia é uma batalha para a sobrevivência básica. Eu queria ter o poder de fazer a dor dessas passar passar."*
Apesar de estar com depressão na época, Keyes admitia que os últimos anos representariam “tempos terríveis” por causa da economia e que “muita gente (...) perdeu seu teto”. Não é só uma crise de emprego ou falta de moradia nem seria algo que atingiria só os trabalhadores manuais e os países pobres. Em outro texto, afirmei: 

“As pessoas, esclarecidas ou alienadas, cada vez mais são descartadas ‘pela economia’ e não encontram alternativas dignas para viver.
Indivíduos formados em faculdades, que antes se consideravam de classe média - com boa moradia, carros e poder de consumo -, tornaram-se moradores de rua em países como Grécia, Portugal ou Espanha.”
**

Uma mudança estrutural do modo de produção capitalista afeta o cotidiano de todos os indivíduos. Para quem tem depressão, a situação parece ser pior.

Marian Keyes (...) revelou que está lutando contra uma ‘depressão paralisante’ (...)  disse que não consegue mais escrever, ler, dormir nem conversar com as pessoas. (...) contou que tem tendência à depressão, mas que sua situação recente é a pior já experimentada, comparando seu momento a ‘viver no inferno’.”*

A questão é que um problema social e coletivo torna-se o principal motivo de uma crise pessoal.

Ideologicamente, existe uma inversão no discurso: o indivíduo acredita que o problema seria dele, que ele seria fracassado por não encontrar emprego; quando, na verdade, acontece o contrário, na fase atual do capitalismo, são eliminadas milhares de profissões e postos de trabalhos. É o desemprego estrutural.

Ser qualificado (ou ter feito uma boa faculdade) não significa garantia e isso pode ser visto no caso dos novos moradores de rua na Europa.

Compreender todo o processo não quer dizer encontrar necessariamente uma solução. Entretanto, é melhor estar consciente e informado do que acreditar numa ideologia que coloca a culpa (por “erros” do sistema) no próprio cidadão.

Uma coisa é ser explorado ou excluído, outra bem diferente é acreditar que o indivíduo seria o responsável pelo próprio desemprego e não que ele foi descartado pela empresa que, com a revolução tecnológica, não precisa mais de tantos funcionários.

(*) http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u675643.shtml
(**)http://flertar.blogspot.com.br/2013/11/diplomados-desempregados.html

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