terça-feira, 4 de março de 2014

PODER DE SEDUÇÃO


Ainda, em pleno século XXI, existe gente que acredita que a culpa pelo estupro seria da mulher, que não se vestia adequadamente e “pedia” para ser violentada. Ridículo.

O problema é que, historicamente, até o século XIX, as mulheres vestiam discretamente e não ousavam mostrar as pernas em público. O uso de cosméticos era visto como algo associado às prostitutas. Isso mudou.

De acordo com o historiador Eric Hobsbawm (no livro “The Age of Empire”):

“Tudo o que sabemos é que a moda das mulheres que influenciou os setores emancipados do Ocidente após a Primeira Guerra Mundial, e que assumiu temas previstos no meio da "vanguarda" antes de 1914, nomeadamente nas áreas boêmias e artísticas de grandes cidades, foi o resultado da combinação de dois elementos muito diferentes.” (p. 217)

Primeiro, apareceu a mudança quanto ao uso de cosméticos:

“Por um lado, "a geração jazz" do pós-guerra que apareceu em público com o uso de cosméticos, estratégia de beleza que era previamente uma característica de mulheres cuja função exclusiva seria agradar aos homens (como as prostitutas). Os cosméticos passaram a ser exibidos em partes do corpo, começando com as pernas, o que as convenções da modéstia da sexual feminina do século XIX mantiveram longe dos olhos dos machos.” (p. 217-218)

Em segundo lugar, as mudanças na maneira de vestir da mulher revelou também um anseio por mais liberdade:

“Por outro lado, a moda do pós-guerra minimizou as características sexuais secundárias que distinguiam visualmente as mulheres dos homens visivelmente, seja quanto ao cortar de cabelo ou quanto ao destaque dado aos seus decotes. Como as saias curtas, os espartilhos foram abandonados, e a recém-descoberta facilidade de movimento, tudo isso significava um sinal e um pedido de mais liberdade.” (p. 218)

Essa liberdade aumentou bastante depois de 1945 e, principalmente, após os avanços do feminismo na década de 1960.

Mais direitos... menos roupas e mais poder no jogo de sedução com o homem? Seria isso? Para Nelson Rodrigues: “(...) a mulher é uma potência fantástica devido à atração sexual. Isso lhe dá um instrumento de domínio, todo sujeito que tem uma grande atração sexual por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão.”

Essa sedução pode levar ao que os ingleses chamam de “dick-teaser”. Trata-se daquele momento que a mulher “brinca” com o homem fingindo que deseja ter uma relação sexual com ele. O pior, nesta situação, é que quanto mais irritado o rapaz fica, mais a garota sente prazer porque percebe que o seu jogo de sedução deu certo. Quem nunca passou por algo parecido? Em nome da civilização, do respeito ao próximo, etc, o rapaz é obrigado a recuar e ainda pode ouvir “tome uma ducha fria que melhora”. Ser civilizado não é fácil.

Frequento bares que as clientes costumam, alcoolizadas, subir no balcão para dançar (como naquele filme “Show Bar”). Na maioria dos casos, estão de mini-saia, roupa decotada e salto alto. Além disto, talvez influência dos vídeo-clips, elas fazem questão de dançar como as antigas garotas de strip-tease (essas atuais, coitadas, nem imagino o que fazem mais para chamar a atenção). Nada contra. Aliás, algumas vezes comento (brincando, por favor!!) com o barman: “cara, antes eu tinha que pagar uma grana para ver uma cena desta numa boite.”

O que fazer? O fato é que a sociedade muda. Agora seria necessário problematizar aquela velha afirmação de que o homem exerceria o poder e a mulher seria só o segundo sexo... Mudou, certo? Ou não?

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