segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Secretárias

Roland Barthes, entre 1954 e 1956, escreveu vários ensaios sobre o cotidiano na França (publicados no livro "Mitologias"). Na época, havia concursos de "strip tease" e as candidatas eram "situadas socialmente."
Neste sentido, Barthes destacava que existiam "muitas secretárias no 'Clube de Strip tease'." (p. 96) Isso poderia ser associado a ideia de que para ser secretária a mulher deve ter "boa aparência".
Em outro momento, 2004, no mesmo país, Corinne Maier dizia que as secretárias "padecem de um enorme complexo de inferioridade vinculado ao desprezo injusto que a sociedade francesa tem pelas tarefas ditas 'servis'." (p. 131)
Os dois fatores - "boa aparência" e o complexo de inferioridade - podem ser relacionados com o mito de que toda secretária tem um caso com o patrão. Nesta fantasia, ela seria bonita, ingênua e acreditaria que o amante estaria casado só por causa dos filhos e que, um dia, abandonaria a esposa para ficar exclusivamente com ela.
Alguns podem afirmar que isso não seria fantasia e sim representaria um fato, na medida em que conheceriam várias mulheres nesta situação. No entanto, fatos dessa natureza reforçam uma ideia que não é verdadeira: toda secretária tem um caso com o patrão. Assim, é também correto afirmar que nem toda secretária tem complexo de inferioridade. Esses mitos, na verdade, funcionam mais para preencher um expectativa dos homens. Seria como classificar as profissões e definir em quais poderiam ser encontradas "as mulheres mais fáceis". Trata-se de uma bobagem. É apenas mais uma ilusão machista que serve para reforçar a suposta superioridade masculina. O pior, contudo, é reconhecer que muita gente acredita nisso.
© profelipe ™

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