quinta-feira, 17 de maio de 2012

A CULPA DO OUTRO


A letra de  "Paronoid" do grupo Black Sabbath está associada a um pedido de socorro e, assim, não tem nada a ver com o título "Paranóia".
Décadas depois, junto com os companheiros da banda, o baixista Terry 'Geezer" Butler reconheceu que eles não sabiam o significado do termo quando fizeram a música em 1970.
Este conceito num "linguajar diário (...) passou a significar o medo irracional de pessoas ou objetos do mundo externo." (David Bell, Paranóia, p. 9)
Em outras palavras, diante da insegurança, "existe uma propensão de atribuir um caráter sinistro ao mundo externo." (p. 8)
O paranóico, portanto, associa o seu medo ao outro. Freud (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 221) esclarece:
"Tudo que o [paranóico] observa no outro é repleto de significação, tudo é interpretável. O que o faz chegar a isso? Aqui, como em tantos casos semelhantes, é provável que ele projete na vida anímica do outro o que está inconscientemente presente na sua."
Essa é a questão ponto fundamental. O paranóico é incapaz de olhar para si. Ele sempre atribui ao outro análises que seriam do caso dele, mas, por medo da autocrítica, ele não admite.
O ponto de partida do paranóico é a insegurança. Existe algo errado. Com ele? No seu ponto de vista, não. O erro estaria associado ao outro, ao mundo externo
Existir algo errado significa admitir o incômodo. Atribuir isso ao outro significa fugir de si mesmo. Esse processo não é consciente. Entretanto, a fuga de si e o incômodo nunca serão esquecidos. De maneira consciente ou não, eles afetarão o cotidiano do indivíduo, deixarão marcas no seu corpo que não poderão ser explicadas nos exames médicos, aparecerão, não de forma clara, em pesadelos, quando a dor parecerá bastante real. A dor é a consequência de não enfrentar a própria realidade.
Não existe medicamento para essa dor. Na medida em que ela trata da fuga do indivíduo dele mesmo, a ajuda não pode vir do processo psicoterápico.
Não existe saída. A alternativa seria olhar para si e deixar de associar as coisas ao mundo externo. Mas se ele fizer isso, não será mais paranóico. 

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