terça-feira, 28 de outubro de 2014

LOUCURA ™

Desde que nasce – isso vale para qualquer pessoa – a principal problemática é como lidar com a morte. Não é só sobre o próprio fim. Trata-se de algo mais complexo. Tem a ver com os instintos de violência, de destruição e de autodestruição.
As regras da civilização servem para tentar controlar estes instintos. Nem sempre conseguem. Em outras palavras, qualquer pessoa é capaz de assassinar ou de suicidar.
Alan Moore, em “The Killing Joke”, apresenta uma teoria interessante a partir da atuação do personagem Coringa. O vilão atira em Bárbara, filha do Comissário Gordon, tira fotos e, posteriormente, mostra-as ao policial no sentido de torturá-lo. O Coringa não mata nem a filha nem o comissário. Com a tortura e os atos, o vilão queria provar uma tese: bastaria um dia ruim para que uma pessoa abandonasse a normalidade e ficasse louca, podendo tornar-se uma psicopata.
Trata-se de uma obra de ficção que apresenta uma problemática importante: o que impede uma pessoa de ficar completamente louca?
É comum utilizar o termo associado ao suicídio: a pessoa, de repente, ficou louca e suicidou. Este discurso, porém, não possui verdade alguma; ele funciona como uma construção lógica de alguém que não morreu e que não soube lidar com aquele imprevisto (ou pelo menos não quis pensar sobre o assunto).
Resgatar a lógica é uma forma de fugir da emoção e das contradições reais da vida. Pode ser saudável. Funciona durante certo tempo. Existe uma espécie de pacto com os outros para usarem a mesma estratégia no sentido de criar a ilusão de que, assim, todos estariam seguros.
No fundo, no entanto, todos sabem que é uma ilusão. É como um mágico que produz fumaça para ganhar tempo no sentido de enganar os outros. A fumaça é temporária (assim como a vida). Cedo ou tarde, alguns cansam de fingir que acreditam no mágico e outros cansam de fingir que a vida teria um sentido lógico com um final feliz.
A loucura e a morte não aparecem necessariamente neste momento. Mas a partir daí a pessoa sente-se mais leve, mais livre e deixa de temer a única certeza que possui desde que nasceu: o seu próprio fim.

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