sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Navio do Loucos


Existem, atualmente, vários recursos para tratar a depressão, com avanços nas formas de terapias e mesmo a adoção dos modernos medicamentos. 
A minha depressão é genética. O médico que me receitava anti-depressivos na adolescência e na infância suicidou em 2007.
Quando era o seu paciente, eu desconfiava que ele não sabia muito bem o que fazia. Além disto, a ciência que ele representava, a psiquiatria, ainda estava bastante atrasada tanto quanto ao internamento como no que diz respeito aos remédios.
Na época que fazia graduação e ele não era mais o meu médico, tive a oportunidade de questioná-lo em um debate - ele fazia parte de uma mesa redonda. Na oportunidade, pelas respostas que ele dava, desconfiava ainda mais de sua competência.
Antes do seu suicídio, ele apareceu em rede nacional sendo preso pela polícia federal, pois exigiria suborno de pacientes para liberar uma autorização em nome do governo. Ver a toda a cena do suborno e da sua prisão no jornal, em minha casa, confirmaria as minhas velhas suspeitas sobre a sua postura ética. De fato, quando fui seu paciente, apesar de ser um adolescente inseguro, eu tinha a impressão que ele me tratava como "rato de laboratório".
Certamente o meu caso não foi o único. Posteriormente, vi outros psiquiatras, também pela televisão, que foram presos por outros motivos. Tudo isso faz lembrar a análise de Michel Foucault sobre uma pintura de Bosch (1450-1516), o "Navio do Loucos":
"(...) não esqueçamos o famoso médico de Bosch, ainda mais louco que aquele a quem pretende curar - com toda sua falsa ciência não tendo feito outra coisa senão depositar sobre ele os piores despojos de uma loucura que todos podem ver, menos ele." (p. 26)
De fato, o conceito de loucura mudou conforme a época e o lugar. O saber médico associado à ciência e ao discurso racional foi somente mais uma tentativa de construir uma verdade quanto aquilo que não poderia ser enquadrado no chamado comportamento "normal".

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