segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

INCOMODADOS

Alguém te incomoda? Como? Por quê? O que fazer?
Uma criança incomoda uma mãe com aquelas perguntas fundamentais e a mãe, sem as respostas, usa a sua autoridade: "estou ocupada" ou simplesmente um "cala a boa".
Uma garota vê um rapaz num bar e logo diz "não fui com a cara dele". Por quê? Ele não o conhece, não conversou com ele. Ele tem barba e a sua aparência, inconscientemente, é associada a algum trauma sofrido pela garota (que ela não gosta de lembrar). Daí, claro, aparece todo tipo de preconceito.
Os homossexuais incomodam? Por quê?  O que fazer? Assassiná-los, colocá-los em campos de concentração?
Os pobres incomodam? É chato ver gente passando fome morando na rua? O que fazer? Na Europa, nos séculos XV e XVI, foi criada "uma legislação sanguinária contra a vadiagem." (O Capital, p. 851) Em 1572, na Inglaterra, as punições eram:
"Mendigos sem licença e com mais de 14 anos serão flagelados severamente e terão suas orelhas marcadas a ferro, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; em caso de reincidência, se têm 18 anos, serão enforcados, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; na terceira vez serão enforcados, sem mercê, como traidores." (O Capital, p. 853)
Normalmente, a prisão e o isolamento dos "diferentes" são as formas mais aceitas pelos considerados "civilizados". Alguns ainda criam instituições por "caridade", para cuidar dos velhos - e claro, conseguirem votos em uma eleição...
Historicamente, houve um momento que vários "excluídos" eram presos em um mesmo lugar:
"(...) o louco da era clássica é internado com os doentes venéreos, os devassos, os libertinos, os homossexuais." (História da Loucura, p. 121)
Posteriormente, os loucos ficariam internados num hospícios, os criminosos numa prisão, os velhos num asilo e assim por diante. No Brasil, durante a ditadura militar, havia uma polêmica quanto aos presídios no que dizia respeito aos "presos políticos" e aos "presos comuns". O debate seria se o contato entre eles poderia causar conseqüências negativas para a sociedade. A exclusão, assim, não é percebida como um processo de "recuperação do preso". Ela seria, de fato, uma forma de proteção daqueles que estão livres.
O interessante em todo o processo é que os incomodados nunca questionam se o problema estariam com eles. Existe uma clara recusa de auto-crítica. Certamente é mais fácil colocar a culpa no outro.

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