quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Arquitetura de Hospital*


Gosto de arquitetura. A idéia de construir um ambiente que acolhe o indivíduo me agrada. Nem sempre é assim, claro. Michel Foucault já citava as arquiteturas das prisões que tinham como função facilitar o "olhar" sobre os detentos. No Brasil, Oscar Niemayer é um grande inovador, com os projetos de Brasília e tantos outros pelo país e pelo mundo.
Estive pensando no caso do hospital. Aquela ambiente me incomoda. Imagino a insatisfação do paciente, dentro daquele prédio bege, com pessoas de branco por todo lado e as caras tristes dos doentes. Acredito que a arquitetura poderia ser uma aliada neste caso. Eu sei que alguns hospitais usam ambientes mais abertos, inclusive com espaços para jardins. Os "doutores da alegria" certamente servem para mudar aquele clima frio proporcionado pelo "saber médico" - o paciente seria apenas um número - e por uma arquitetura sem cor.
O "corredor da morte" é o último caminho realizado por aqueles que possuem a pena máxima. Acredito que esta expressão poderia ser empregada para a maioria dos hospitais. Trata-se de um espaço que você passaria antes da morte. Muitos pacientes devem conhecer este sentimento. A percepção da morte do mundo ocidental provavelmente não facilita o humor daqueles que estão numa situação de fragilidade em relação à saúde.
Dito isso, imagino algo absurdo, mas que poderia mudar o "astral" de um ambiente deste: um bar no meio do hospital. Ou seja, uma sala especial, fechada, com música alegre, bebidas, danças e luzes, tudo o que um bar ou "boite" normalmente oferece. O acesso seria permitido aos pacientes, aos familiares e aos funcionários do hospital, incluindo os médicos e os enfermeiros. Tudo seria controlado com a ficha do paciente, que apresentaria o seu "estado atual" e, portanto, revelaria, por exemplo, aquilo que ele poderia beber. As pessoas teriam uma sala menor para fumantes. Todo o ambiente deveria ser colorido, com luzes, barulho, música, tudo aquilo que o paciente não tem acesso dentro do hospital. A sala seria a prova de som, para não incomodar o ambiente do hospital. Ela representaria uma exceção, uma fuga ou um lugar onde as pessoas iriam para "recarregar as suas energias" e seu "desejo de vida".
Sim, pois o hospital como é concebido hoje, lembra qualquer coisa exceto vida. Atualmente, ele está mais associado à dor, à tristeza e à morte. Trata-se de um ambiente que oprime as pessoas, tanto os pacientes como os familiares. Os médicos e enfermeiros procuram perceber tudo aquilo apenas como mais um "ambiente de trabalho", algo frio e profissional, o que associado à própria arquitetura, cria um "clima" que todos desejam evitar - como no caso das prisões, que com esta mensagem, coloca-se como o lugar da punição e do castigo para uma pessoa que fez algo errado. Entretanto, pacientes não são presidiários. Não fizeram coisas erradas, em sua maioria, nem com os outros nem com eles mesmos. Assim, criar um ambiente de opressão para estas pessoas não seria justo e nem humano.

* Este texto foi publicado originalmente no livro virtual "Lenda Urbana" no website: profelipe.weebly.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.