segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

CIVILIZADOS E APARÊNCIAS


O civilizado é, por definição, um dissimulado. Começa pela aparência. As mulheres, antigamente, tinham o monopólio desta “arte”. Trata-se daquela “velha” citação do Foucault:
"Engano possível sobre o  corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220)
Os homens, atualmente, em sua maioria, parecem também querer parecer algo que, de fato, não são. Inventaram até o conceito de “metrossexual”. Isso sem falar no uso de anabolizantes para inchar artificialmente o corpo. Botox? Cirurgias plásticas? Vale tudo para que o homem seja aceito como “atraente” na sociedade.
O que os homens e as mulheres querem esconder com tantas estratégias para “disfarçar” a aparência? Desejam omitir o que são: seres humanos imperfeitos, inseguros, impotentes, carentes, frágeis e solitários.
Hannah Arendt já dizia que o uso da violência era um sinal de impotência (leia em “A Condição Humana”).
O resultado de tanta dissimulação é um jogo de aparências, quando todos fingem que acreditam em todos. O homem finge que os seios da mulher são naturais (e não de silicone) e ela finge que aqueles músculos foram adquiridos naturalmente, com anos de exercícios em academias e com dietas adequadas.
Alguém um pouco sensato perguntaria: como chegamos neste ponto? Karl Marx falaria: todos tornaram-se mercadorias. Se isso for verdade, a aparência e o “makerting pessoal” seriam fundamentais para quem quer ser aceito numa sociedade de consumo.
O que nem sempre é lembrado em relação às mercadorias - no capitalismo – é que elas são descartáveis. As pessoas só são interessantes quando atendem o mercado, caso contrário, são desconsideradas, deixadas de lado, como se fossem invisíveis. Só não são sacrificadas porque “somos civilizados”.
Nós – os civilizados - necessitamos respeitar o outro, mesmo que isso seja o oposto do nosso desejo. Nós negamos nossos instintos naturais. As consequências, como destacava Freud, aparecem com as neuroses, os conflitos internos, os pesadelos e as doenças.
Alguns ainda tratam todo esse processo como uma “evolução” ou um “progresso” da humanidade...

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