sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

EXCLUSÕES

Existe um mito comum que associa algumas instituições ao processo de cura do indivíduo.

A pessoa, na teoria, vai ao hospital quando passa mal, sofre algum ferimento, enfim, está doente. A estrutura física do hospital seria uma forma de protegê-la dos outros riscos do mundo externo. Entretanto, isso não é verdade. Ocorre o contrário: o espaço fechado do hospital representa uma forma de defender e de separar os indivíduos saudáveis da sociedade dos doentes daquele lugar. Não é aceito, mas o hospital é um lugar que também produz doença. Trata-se do tradicional caminho antes da morte.

É dito que a prisão seria um lugar para recuperar o preso para o convívio na sociedade. Na prática, porém, lá a pessoa aprende novas modalidades de crimes e torna-se mais perigosa diante dos outros. O objetivo de deixá-la trancada numa prisão é também proteger as pessoas da sociedade, que, de fato, não se interessam pelo que acontece “lá dentro” (desde que os criminosos continuem presos).

Antes havia o hospício e a clínica. O hospício, atualmente, é visto com várias restrições em muitos países. Não importa. A intenção nos dois casos é excluir indivíduos considerados “diferentes” (mesmo que eles não sejam criminosos) do convívio social. Trancar alguém num hospício ou numa clínica seria como colocar esse alguém (normalmente é um parente) embaixo do tapete para não causar constrangimentos às visitas ou aos vizinhos. Seria como passar a borracha em alguém para que a tal família mantivesse a aparência de normalidade.

Objetivos similares podem ser associados aos asilos e às instituições de recuperação de menores de 18 anos.
Em regimes democráticos, estas instituições servem para dar um caráter “civilizatório” à crueldade humana.

Em regimes totalitários, como o nazismo, nem isso era necessário: bastava colocar os excluídos em campos de concentração, torturá-los, utilizá-los como “objetos de experiência” ou simplesmente assassiná-los. Neste caso, não havia muito debate não só pela repressão dos nazistas mas também e principalmente por causa da superioridade da raça ariana. Ou seja, o que era “descartado”, enfim, não era considerado “humano”.

Freud dizia, na época, que “se antes ele seria queimado vivo, agora [no nazismo] eles se contentavam em queimar os [seus] livros.”
O “antes” que Freud se referia, claro, era o período da Idade Média, quando a Igreja Católica tinha o monopólio do poder ideológico e condenava a morrer (nas fogueiras) as pessoas (sobretudo as mulheres) que discordavam dos seus dogmas.

O Brasil é considerado um país “jovem”. Contudo, em seu período republicano, as pessoas sofreram muito sob duas ditaduras: a do Estado Novo de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar. Apesar de não existir uma ideologia tão sofisticada como o nazismo (por isso essas ditaduras eram classificadas como regimes autoritários), os instrumentos de repressão física (prisões ilegais e torturas, por exemplo) funcionavam “normalmente”.

Em suma, caberia ao Estado “limpar” a sociedade e deixar somente um padrão de indivíduo: aquele que não questiona, que faz o que todo mundo faz e acredita no que todos acreditam. Existe uma música do Pink Floyd que trata deste tipo de pessoa: “Comfortably Numb”.

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