quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Civilidade e Manipulação

Em um episódio de Seinfeld, a personagem Elaine comentou que deixou de cumprimentar um vizinho simplesmente porque não estava a fim no momento.
Algo assim, para a maioria, seria visto com desconfiança, principalmente se a pessoa estivesse no lugar do tal “vizinho da Elaine”.
Em outras palavras, ver um conhecido pressupõe (pelo menos) um “oi” de civilidade. Se isso não acontece, parece que existe algo errado.
Ninguém nunca compreenderia o ponto de vista da personagem Elaine. Para a maioria, provavelmente, haveria uma segunda intenção na recusa do “oi”.
As perguntas apareceriam imediatamente: “estou mal vestido?”; “fui ‘esnobado’?”; “alguém falou mal de mim?”; “tal pessoa teria vergonha de me reconhecer em público?” e assim por diante.
Poucos pensariam: aquela pessoa deve estar cansada ou não me viu ou está com pressa ou simplesmente está com tédio e não deseja cumprimentar ou conversar com os outros.
Um ato tão simples (cumprimentar ou não um conhecido) pode tornar-se uma grande dor de cabeça e motivo de polêmica (e de briga). Isso acontece porque a relação (entres os civilizados) não é clara. Existem muitos sinais e códigos, o que gera insegurança quanto ao verdadeiro sentimento do outro.
A desconfiança pode ser justificada principalmente depois que o indivíduo lê livros como “O Príncipe” (Maquiavel) e “Kama Sutra” (Vātsyāyana). Em um antigo texto, comentei:
“Assim como Maquiavel é direto em seus 'princípios' para o Príncipe - 'e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar' (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.”*
O que escrevi em 2010 ainda vale para 2015.

© profelipe ™ 17-12-2015

(*) Livros. In.: Lenda Urbana. http://profelipe.weebly.com/lenda.html

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