sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

CASAMENTO E AVAREZA

Um rapaz convida uma moça para sair. No bar ou no restaurante, tudo caminha romanticamente bem até o momento em que a conta chega. Na hora, o rapaz pega umacalculadora e divide as despesas meio a meio, exatamente, pagando a sua parte inclusive com moedas.
Constrangedor? A garota defende o rapaz pois ela se considera moderna e independente, o que confirmaria a tese de que todos devem ter direitos e deveres iguais. Sério? Ou, no fundo, ela estaria cansada de ficar sozinha e estaria tão difícil arrumar um namorado nos tempos atuais? Ela ainda se considera feliz na medida em que ele pagou pelo menos a metade da conta, afinal, muitos nem isso fazem.
O sinal de avareza do companheiro é visto como"responsabilidade" e até como alguém com quem ela poderia se casar e ter filhos. De qualquer maneira, depois da relação tornar-se um compromisso sério, se ainda ficasse algo que a incomodasse, ela saberia moldar o rapaz ao seu gosto, fazendo-o, como muitas falam, "comer em suas mãos".
Atualmente, o indivíduo é elogiado quando ele não gasta e quando empresta dinheiro aos outros cobrando juros altos. É o tipo que o sogro conservador e religioso sonha para ser o futuro marido da sua filha.
Tudo é apresentado como o caminho natural das coisas. Trata-se da própria normalidadeNão seguir tal modeloseria um sinal de loucura. Certo? Não.
Primeiro, deve existir um desconfiança quando aparecem termos como "naturalidade" e "normalidade". Todos os conceitos são inventados pelos homens. O uso de tais concepções visa eleger o próprio discurso como único e verdadeiro.
Segundo, deve se fazer uma pergunta básica: sempre foi assim? A resposta é não. Um exemplo. No século XVIII, houve o internamento de um abade:
"Sua principal ocupação era emprestar dinheiro a juros altosenriquecendo-se com as usuras mais odiosas e mais ultrajantes para a honra do sacerdócio e da Igreja. Não foi possível convencê-lo a arrepender-se de seus excessos nem a acreditar que a usura era um pecado. Insiste em ser avarento." (B.N. Fonds Clairambault, 986, Apud, Michel Foucault, História da Loucura, p. 136)
Em outras palavras, um homem da Igreja foi internado por causa da usura! Entretanto, os pecados do século XVIII são considerados virtudes no século XXI. Como explicar isso aosogro conservador e religioso
filha, apesar do medo de ficar sozinha e morando eternamente na casa dos pais, desconfia que aquele tipo de homem está muito longe da figura do cavalheiro e do príncipe encantado que ela sonhava um dia encontrar. Na prática, ela faz um planejamento com metas bem definidas: 1) arrumar um marido; 2) sair da casa dos pais; 3) divórcio, independência, casa própria e, se possível, pensão do ex-esposo. Para o plano dar realmente certo, faltaria apenas combinar com os outros envolvidos... 

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