terça-feira, 9 de setembro de 2014

O CINISMO DE ROBERT PLANT

Não defendo a volta do Led Zeppelin mesmo que fosse só para shows. Nem defendo a obsessão de Jimmy Page pelo dinheiro (até compreendo a infinita edição e as versões diferentes dos álbuns lançadas principalmente após a invenção do CD, mas beira ao absurdo essa história de “criar uma edição limitada de cachecóis com impressão das capas dos álbuns da banda”).

Isso, porém, é quase zero perto do cinismo do Robert Plant.

Lembro que ele, nas primeiras “tours” dos álbuns solos, se recusava a cantar músicas da ex-banda porque seria necessário provar que ele seria capaz de “voar” sozinho. Depois, Plant mudou de postura e incluiu as músicas da banda liderada por Jimmy Page em seus shows.

Quando Robert Plant foi convidado para fazer o (em moda na época) “unpplugged” da MTV sobre a sua carreira, chamou o Jimmy Page e transformou todo o projeto em algo do Led Zeppelin sem a presença de John Paul Jones - que era constantemente insultado nas entrevistas de Plant na época dos shows do “Unledded” – cujo título oficial (seria mais um insulto?) era “No Quarter’, a música que era identificada como o principal momento do John Paul Jones na banda.

Em 2007, o que era para ser uma homenagem para o executivo da Atlantic Records (como tantas outras que reuniam os três músicos do grupo), quando seriam tocadas algumas poucas músicas do Led Zeppelin sem utilizar o nome do grupo, Robert Plant transformou em um show de uma hora e meia COM o nome do Led Zeppelin.

Depois de todo o sucesso do show de 2007 (não era para ser diferente), Plant se irritava quando perguntavam se existiriam mais shows – ele que começou com essa história... Mais uma vez, falava que o seu interesse era o presente, com sua banda, e não o passado, com o Led Zeppelin.

Na Europa, esse discurso funcionava bem, mas quando Robert Plant resolveu fazer shows também na América do Sul, a estratégia foi alterada e ele voltou a aparecer como “o vocalista do Led Zeppelin”.

Eu vi a entrevista que ele deu quando disse que não havia projetos pessoais para 2010 e que estaria disposto a reunir com os ex-companheiros, dando a entender que tudo dependeria de Page e de Jones. O ex-baixista da Led Zeppelin ironizou e não caiu mais nas armadilhas e no cinismo do Plant: Jones não poderia reunir em 2010 porque teria feito compromisso em compor uma ópera...

Jimmy Page, ironicamente, tornou-se o ponto fraco e continuava a humilhação sem resultados diante do ex-vocalista do seu grupo na década de 1970.
Robert Plant resolveu lançar uma biografia oficial e – parecendo o Paul McCartney (que sempre usava o nome dos Beatles quando precisava chamar a atenção para si) – mais uma vez visitou o passado que tanto negou já no título do livro: “The Voice That Sailed The Zeppelin”.

Numa entrevista recente, ainda reclamou do Jimmy Page:

“Eu me sinto mal por ele. Ele sabe que sai nas manchetes se assim o quiser. Mas eu não sei o que ele está tentando fazer. Então eu me sinto levemente desapontado e perplexo.”

Manipulação? Cinismo? Como encontrar adjetivos para definir a postura de Robert Plant?

Imagino que o Jimmy Page deve se arrepender bastante de não ter demitido o seu vocalista após as críticas que ele sofreu na primeira “tour” do Led Zeppelin nos Estados Unidos:

“(…) the pop critics insulted his aria-like blues wails and his prissy, hyper-masculine posing. (…) Even Jimmy wasn’t absolutely positive about Robert. Cole recalls: ‘It was a very touch-and-go thing whether Robert would even be in the group after the first tour, because he didn’t quite seem to make it up to Page’s expectation. At the time, there was a possibility he wouldn’t do another tour. That was the truth.’” (Stephen Davis, Hammer of Gods, p.64)

Como foi dito no início, Jimmy Page nunca foi santo – ele odiaria ser rotulado assim porque sempre defendeu o ocultismo e era bastante crítico quanto ao cristianismo -, mas, diante do mal resolvido Robert Plant, o ex-líder e guitarrista poderia, se quisesse, até posar de vítima.

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