terça-feira, 9 de setembro de 2014

PELÉ, PASSADO, QUALIDADE E QUANTIDADE

Vi uma foto e lembrei do namoro da Xuxa com o Pelé. A Xuxa odeia "esse' passado... como se não tivesse participado dele ou como se alguém pudesse apagar o próprio passado ou partes dele.

A Xuxa tentou. Comprou as diversas revistas em que ela tinha posado nua (Playboy, Status, entre outras) e tentou proibir a circulação do primeiro filme em que, como atriz, ficava nua, seduzia e mantinha relações sexuais com um menino de 12 anos. O nome do filme era “Amor Estranho Amor”. Quanto aos ensaios das revistas, o melhor, na minha opinião, foi o da Status, quando ela posou com algemas, insinuando cenas de BDSM.

Muitas pessoas sofrem da “síndrome da Xuxa” e tentam apagar o que antes era considerado bom: o próprio passado. Em casos mais graves, essa insistência em negar a realidade pode tornar-se uma doença mesmo.

Não me enquadro neste perfil porque, entre outras coisas, sou historiador e o meu ofício estaria relacionado ao passado. Assim, não tenho problema nem com o passado de uma forma geral nem especificamente com o meu próprio passado.

Falando em passado, posso dizer que sou do tempo em que as coisas eram mais claras (não necessariamente melhores do que hoje) em termos de relacionamento, ou seja, namoro era uma coisa e amizade era outra, beijo “francês” envolvia língua(s), virgem era virgem (sim, sou antigo, bastante antigo...), sexo era sexo (o maior medo era a gravidez, não havia Aids e raramente alguém usava camisinha) e assim por diante.

Não existia o termo “ficar”, que é tão comum atualmente e pode significar quase qualquer coisa na medida em que é ambíguo e pretenderia dar conta de uma “área” muito ampla.

O resultado disto é que, depois de algum tempo e ouvindo comentários, descobri que “fiquei” com algumas pessoas que, efetivamente, imaginava que o que havia acontecido era comum em amizades, principalmente no final de noite, após um consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

No meu antigo vocabulário, algumas pessoas jamais entrariam no meu passado em outra categoria a não ser a de “amizade” mesmo (aliás, com todo respeito, diga-se de passagem).

Neste contexto, tive que ouvir (algumas vezes): “mas você falou que não tinha acontecido coisa alguma naquela noite...”

Na minha concepção, não havia mesmo. No entanto, para a outra pessoa, o mesmo fato seria interpretado de maneira diferente e... pronto... passei de amizade para a categoria de “ficante” no currículo amoroso da outra...

Não reclamo, mas é aquela velha piada (ou algo parecido): “se aquilo foi sexo mesmo, por favor, pelo menos me avise depois.”

Esse tipo de análise deve estar associado ao machismo.

É tão confuso, hoje em dia, que a pessoa não pode afirmar: “foi isso” e sim, com todo o cuidado, deve falar algo como o que apareceu agora (“deve estar associado ao”).

Na perspectiva machista mesmo (sem rodeios), o Pelé disse, uma vez, que havia feito sexo (e não “ficado”) com mais de mil mulheres.

Um dia, pensando nessas coisas, tentei “levantar” o meu currículo, mesmo tendo uma postura associada mais à qualidade do que ao quantitativo (como o rei Pelé).

Basicamente, pela memória, tentei fazer a minha lista. Nem de (muito) longe chegaria ao número do Pelé (nunca foi a minha intenção), mas achei que seria interessante pensar no meu passado em termos de relações sexuais.

Fiz a lista. Refiz. Pensava e lembrava de mais um nome (ou de uma situação, já que sou péssimo com nome).

Imaginava, no outro dia, que a lista estaria pronta. Nada. Sempre esquecia alguém.
O que era para ser um exercício mental (machista) saudável, claro, tornou-se um incômodo sobretudo quando eu lembrava do corpo, do rosto e da relação sexual e não lembrava o nome da pessoa. Isso sem contar na amnésia causada pelo excesso de bebidas alcoólicas ou outras substâncias.

OK. Desisti. Pelo menos no campo amoroso (mentira, é sexual mesmo), seria melhor deixar o passado no passado e, se for necessário, esperar pelo “telão do juízo final”.

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