segunda-feira, 1 de setembro de 2014

SONHOS E PESADELOS

Os roteiros dos sonhos enquadram-se, normalmente, em dois extremos: os chamados sonhos de desejo (funcionam quase como fantasias perfeitas para compensar cotidianos problemáticos dos sonhadores) e os pesadelos.

Exceto o primeiro grupo, os sonhos, mesmo os agradáveis, trazem em si alguma complexidade, algum problema no meio de coisas boas, o que seria tão característico da condição humana.

Isso lembra o filme Matrix, quando “a máquina” explica que, inicialmente, foi um fracasso o programa feito para representar o “matrix”, porque ele partiria da premissa de que os desejos dos seres humanos seriam associados a viver numa sociedade perfeita. Só posteriormente, após perceberem a ambiguidade dos desejos dos homens, é que teria sido feito um “matrix” capaz de ser aceito (como realidade) pela maioria.

Na problemática associada à produção dos sonhos, mesmo considerando o ilógico e os cenários abstratos, sempre aparece um erro ou uma pequena distorção, como se representasse algo que não se relacionasse aos desejos dos sonhadores.

Nos dois extremos, citados inicialmente, se um, a fantasia, estaria próximo da alienação absoluta, o outro, claro, seria o seu oposto, seria o inferno, o pior que poderia acontecer com os sonhadores. Neste segundo campo, os pesadelos capazes de reproduzir os sentimentos negativos – como a dor, o sofrimento e a depressão – seriam os piores, afinal, eles iriam muito além dos roteiros de filmes de terror – como se os sonhadores fossem apenas espectadores numa sala de cinema - e imporiam a possibilidade de “sentir” coisas efetivamente ruins (do tipo insuportável no cotidiano, como, por exemplo, a dor da morte de um familiar muito próximo e querido).

Assim como nem todos lembram (ou se interessam em lembrar) dos sonhos, os piores pesadelos parecem que não foram projetados para qualquer um. Vivenciar experiências assim, obviamente, exige coisas como experiência, fracasso, decepção, traição e desilusão, coisas, aliás, que ainda não foram vivenciadas, normalmente, por pessoas (muito) jovens.

Em outras palavras, como se não bastante tudo de ruim que acompanha o processo de envelhecimento, ainda existira este tipo de “prêmio” para aqueles que passassem dos 50 anos, enfrentando a realidade de frente e se recusando aos caminhos das ilusões cotidianas, dos elogios fáceis, da invenção do próprio passado e da crença em um futuro promissor e melhor para todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.