quarta-feira, 10 de agosto de 2011

EGO JORNALISMO


Teoricamente, o jornalista é um profissional que resume ou analisa um fato que aconteceu. O importante é o fato. Porém, nos últimos tempos, aparece cada vez mais o chamado "Ego Journalism", ou seja, o jornalista se considera mais importante do que a notícia ou do que o entrevistado. 


É comum em críticas de shows musicais, o jornalista falar dele mesmo, fazer análises (pseudo) filosóficas e só no final fazer considerações sobre o seu objeto. Toni Iommi ficou indignado com uma crítica que o seu grupo Black Sabbath recebeu nos Estados Unidos, publicada num jornal. O problema não foi o conteúdo da crítica e sim que, por algum motivo, o show não pôde ser realizado ! O jornalista publicou uma crítica de algo que simplesmente não aconteceu.


Pela natureza do seu trabalho, o fotógrafo não deveria aparecer nas fotos que tira. Não é o que acontece. Existe fotógrafo que dá um jeito da "sua" sombra aparecer na foto. Outros aparecem nos espelhos, atrás do seu objeto, uma celebridade, como que querendo fazer parte de um mundo que não é o seu. Esse é o dilema do jornalista. Ele entrevista presidentes, participa de banquetes, é convidado para trabalhar em eventos e festas de milionários, mas ele não pertence aqueles lugares. 


Na entrevista de Vladimir Zhirinovsky à Playboy norte-americana, a jornalista Jennifer Gould tentou chamar mais a atenção para si do revelar o pensamento do entrevistado. Em vários trechos da entrevista, ela abre parênteses e coloca a sua opinião, em itálico, sobre o que estava acontecendo e qual era o seu ponto de vista. Chega um momento que o leitor, interessado em ler sobre as idéias de Zhirinovsky, questiona quem seria Jennifer Gould ? O que ela teria a ver com o entrevistado ? Nada. É uma jornalista que aproveitou o interesse do público pelo seu entrevistado para aparecer, para mostrar a sua opinião. Ela levanta questões sobre o assédio sexual sofrido por jornalistas - temática polêmica, que deveria ser tratada nos tribunais ou em congressos da categoria. Ela chega afirmar que as mulheres trazem "para o mundo - somente coisas positivas" (p. 154) ao invés de se preocupar em mostrar o ponto de vista do entrevistado.


Muitas vezes, a vaidade é associada aos profissionais que atuam na comunicação social, como no jornalismo, nas relações públicas, na publicidade e na propaganda. Sem problemas. O que não pode acontecer é uma confusão nos papéis. Especificamente no caso do jornalista, não dá para querer ter mais destaque do que a notícia que dever ser divulgada.     

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