sábado, 6 de agosto de 2011

A FUGA PERFEITA

Questionado sobre a escolha de profissões burocratas, apesar de ser escritor, Fernando Sabino respondeu:
"Explico sim (...): eu não era rico! Precisava trabalhar." (Playboy, julho 1987, p. 49)
Mas na mesma entrevista, ainda afirmou:
"Sem o cartório me livrei do ônus de ficar rico. Como é que eu, rico, ia poder sentar no meio-feio para bater papo com o Otto, o Hélio e o Paulo?" (p. 51)
Contraditório? Parece. Independente se Fernando Sabino estava correto ou não, a questão é que o indivíduo não escolhe desperdiçar várias horas diárias simplesmente por que precisa de dinheiro para sobreviver. É mais complexo do que isso.
Costumo dizer que para atender as necessidades básicas a pessoa não precisa de tanto dinheiro como se diz por aí.
Em outras palavras, o excesso de horas trabalhadas e o dinheiro proveniente de tal esforço estão relacionados aos produtos que não fazem parte das chamadas necessidades básicas: carros novos, jóias, viagens, entre outras coisas.
Além disto, trabalhar muito quer dizer não ter tempo para si mesmo. Trata-se da fuga perfeita: é legítima - pois a figura do trabalhador é aceita como positiva na sociedade - e, ao mesmo tempo, serve para alienação - a pessoa não teria tempo para pensar nos verdadeiros problemas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.